quarta-feira, 16 de junho de 2010

O QUE FAZER COM OS DONS


O QUE FAZER COM OS DONS

Ter, 17 de Julho de 2007 00:00
O QUE FAZER COM OS DONS

Um homem rico de Sichem
Para muitos, Humberto de Campos não é mais que um nome emprestado a esmo a uma rua qualquer das nossas urbes. Ou à própria urbe, como aquele pequeno município do sertão maranhense, grande produtor de coco da Bahia. Para quem ainda não ligou o nome ao artista, Humberto de Campos (1886-1935) foi um dos grandes nomes da clássica e desconhecida literatura nacional.
Num Natal de setenta anos passados, pegou carona no trenó de Noel, deixando órfãos seus leitores. Morreu cego e pobre, assumindo ele próprio a hombridade de muitas “sombras que sofrem” - título de seu melhor livro de crônicas – mas que por nada vendem a própria dignidade.
“Quem é, porém, por aí, que tome o coração na mão, e o erga mais alto do que eu?” Era seu desafio aos que desejassem comprar sua consciência com favores ao homem pobre de Muritiba. “E se ficares totalmente cego?”.
Sua resposta é desconcertante. Cita o capitão Guilherme de Orange, que, sitiado pelos exércitos do Duque d’Aba, desafia seus soldados a, se preciso, comerem o próprio braço esquerdo e pouparem o direito para combaterem até à vitória ou até à morte! “Se preciso, farei o mesmo, para que minha mão direita permaneça livre e trabalhe infatigável, condenando o erro, espalhando o bem, semeando a Verdade”.
Ousado em suas crônicas e contos, questionou a muitos com sua postura sempre coerente, em favor dos fracos. Dessa ousadia mereceu até uma “revelação” divina, uma parábola inédita que, pela simplicidade e sabedoria nela presentes, é possível afirmar: foi Cristo em pessoa quem soprou essa parábola em seus ouvidos. É mais uma das parábolas cristãs sobre a misericórdia, porém segundo Humberto de Campos. Ei-la:
“Um homem rico de Sichem, possuía boas terras e entregou-as a dois lavradores de Jesrel, que deviam lavra-las. Mandou que lhes dessem dois sacos de sementes, prometendo-lhes ir assistir à colheita. O servo que guardara as sementes era, porém, perverso de coração, e, para proteger um dos lavradores, deu-lhe um saco da melhor semente do celeiro, e, para prejudicar o outro, não lhe deu senão semente murcha, de trigo pobre”.
Malandragem sempre fez parte da história humana. Quem melhor se sairia dessa história? É evidente, aquele que recebeu as melhores sementes. Será? Nem sempre, especialmente nessa situação, quando a aparente “sorte” de um foi precedida pelo engodo sobre o outro... Eis o resultado!
“À chegada do homem rico de Sichen, o primeiro lavrador foi ao seu encontro, e disse: Vê como eu trabalhei a tua terra, e dize-me se não estás contente comigo. Cada grão de trigo foi multiplicado por mil. E isso te prova o ardor do meu esforço e o prestígio da minha mão”.
“O outro lavrador aproximou-se também, por sua vez, e disse ao homem rico de Sichem: A minha seara, senhor, não é tão rica, mas sempre te oferece alguma cousa. Vê as sementes que me deram. Eram todas murchas e pobres. Consegui, entretanto, que elas produzissem, e delas obtive, pelo menos, trigo para um pão”.
Ao que o Senhor concluiu: “Tu és mais digno da minha confiança do que teu vizinho, porque, enquanto ele fazia muito, ajudado em tudo, tu, desajudado em tudo, fazias alguma coisa. A ti, pois, é que eu entrego as minhas terras, porque és tu, na verdade, o melhor lavrador!”.
Wagner Pedro Menezes - Meac São Paulo Apóstolo 

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