Humildade e Mansidão
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Estamos no mês de junho, mês consagrado ao Coração de Jesus e somos convidados a meditar sobre o que disse Jesus: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Se Jesus pede aprendei de mim, significa que Ele é Mestre. Ninguém viveu a plenitude da mansidão e da humildade a não ser Jesus. Ele é o auto-retrato, a própria mansidão, e a própria humildade. Portanto, nesta escola da mansidão e da humildade todos nós somos alunos do Mestre Jesus. Humildade é uma virtude moral, uma virtude que podemos nascer com ela, mas pode ser trabalhada.
Santa Teresa D’Avila define humildade como andar com a verdade. Diz ela que certa vez conversando com nosso Senhor, veio sem qualquer esforço de raciocínio, humildade é a verdade, porque Deus é a suma verdade e ser humilde é andar na presença de Deus. Se Deus é a verdade, e nós buscamos a verdade, então humildade é busca desta verdade é andar na presença de Deus. Porém, existe um grande perigo que a própria Santa Teresa nos fala, o perigo que ela chama de humildade artificiosa, e essa é ruim. Humildade artificiosa é não reconhecer os dons que Deus nos deu. Fingir humildade, não reconhecer que todas as coisas boas que temos, talentos dons, vem de Deus. Humilde é aquele que agradece a Deus o dom de cantar, o dom de pregar, o dom de servir a mesa, o dom de profetizar, que reconhece que tudo que tem de bom, família, bens, saúde veio de Deus e tudo o que veio de mal é fruto nosso.
Humildade tem a ver com a nossa relação primeira com Deus, numa atitude de criatura diante do criador. Sempre numa virtude tem o oposto, e o oposto da humildade nos pecados capitais é a vaidade. Santa Teresa afirma ainda que a humildade está sempre contende em servir os outros. Uma pessoa humilde é aquela que serve, mas serve com alegria. Humilde é a pessoa que não se deixa afetar nem pelas honras e nem pelas desonras, porque o humilde não se deixa afetar pela calunia, não se deixa abater pela desonra, porque não se coloca como mercedor de nada, tudo é gratuidade de Deus.
Humilde também, como nos diz Santa Teresa, nunca esta com o olhar sobre as faltas dos outros, sobre os pecados alheios. É aquele que tem consciência de suas fraquezas que quando olha para os outros o faz misericórdia, ao contrario do soberbo, de alguém que está tão enraizado em si que o erro do outro é motivo de fuxico, é motivo de abalo, porque não tem consciência de seus erros. Portanto, não criticas os pecados dos outros é fruto da humildade. A humildade tem muito haver com a magnimidade, que é o vôo do espírito, da nossa alma, para as coisas grandes, isso não é ruim.
Ruim é o nosso espírito a nossa alma ficar se rastejando na mesquinhez. Magnimidade é aquele anseio das coisas grandes, não grande quanto a luxo, glamour, mas grande quanto aos valores, voltado para as coisas de Deus. Santo Tomaz de Aquino fala da magnidade como algo bom, lembrando que a magnimidade tem a ver com a humildade, porque quando se anseia as coisas de Deus, se olha com desprezo para o que injusto e não se aceita a injustiça. Quando se está com o pensamento em Deus não se aceita o que é reprovável ao Senhor. Não se compactua com o que não é de Deus. Alguém que não é humilde é soberbo e soberba está no relacionamento para com Deus, pois nega toda a nossa dependência com Deus.
O humilde tem consciência de que em tudo dependemos de Deus, já o soberbo julga tudo como mérito próprio, nega a ação de Deus em sua vida. Todos os outros pecados fogem de Deus, a soberba se opõe a Deus (Tg 4, 6). Um primeiro momento da humildade é homem-Deus. Um segundo é homem-próximo. Uma pessoa que não tem essa relação de aceitação de Deus, como ensina Santo Agostinho: diante da Palavra seja humilde. Humilde por aquilo que você lê, reflete e vai contra a tua vida, mas humilde sem criticar aquilo que você lê e ainda não compreende. Quantas coisas na nossa vida a gente não entende agora, mas depois se entende, é essa a relação com Deus. E, essa relação com Deus se extravasa na relação com o próximo.
O primeiro principio a ser desenvolvido para se exercitar a humildade é olhar para seus valores e atribuí-los como graça de Deus. O segundo é se colocar numa atitude para com Deus, de Filho, de criança confiante. O terceiro é despertar a mansidão, porque a humildade vem junto com a mansidão, e, a mansidão estimula a humildade. As duas virtudes, nunca vêm sós e sempre acompanhadas por outras.
A palavra humildade vem de “Húmus” – Filho da Terra, obra criada, então humilde não é aquele que se deprecia, ao contrário, é a valorização da obra de Deus em nós. Humildade não é ignorância com relação ao que somos, é ter conhecimento do que somos e do que nos falta. Aqueles que se rebaixam diante dos outros para parecer humilde estão cometendo um pecado grave contra sua própria humildade, porque é falsa. Humildade não significa sinônimo de fraqueza, a humildade e a mansidão domam, mas não tornam fracos. Passemos à mansidão, segundo os santos trabalhe a mansidão a humildade aparece. A mansidão age na vontade, na sensibilidade e se externa nas palavras, gestos e jeito de ser.
A virtude da mansidão não caminha sozinha vem com a paciência, fortaleza e principalmente com a caridade. São Francisco de Sales, o pai da mansidão, nos dá uma pista de como exercitarmos a mansidão: na hora da ira cale-se, e, quando estiver com animo, com a alma serena e sem motivos de irritação, se aproprie de brandura e estimule nas pequenas coisas.
O que São Francisco de Sales quis dizer é que nas horas difíceis, quando você é pego de surpresa e a irritação toma conta, cale-se. Deixe para exercitar a mansidão na hora em que estiver calmo, sem circunstancias de irritação e exercite-as nas pequenas conquistas.
Mansidão em nada significa aceitar o erro. Um pai por amor aos filhos corrige, às vezes é preciso corrigir. Não é fechar os olhos para o que está errado. A questão é qual é o sentimento que nos move? A matéria da moral está no sentimento que nos move. Se chegarmos para alguém e dizemos aquilo que ele precisa ouvir, se estamos com a verdade, mas em nosso coração temos a satisfação de estar corrigindo, a nossa correção é pecado, porque nossa correção está nos satisfazendo, com o pecado do outro e estamos colocando em cada palavra raiva. Então, tudo aquilo que aparentemente parece louvável é perversivo e esta correção de nada valerá. Servirá para aumentar as intrigas. A correção pode acontecer, e, é parte da mansidão, mas o que tem que estar no coração é o desejo de ver a pessoa crescer, em outras palavras amor.
Como disse São Tomas de Aquino: “não se conformar com o pecado e querer sua correção, são atos virtuosos, mas quando se age buscando vingança daquele que errou, irando-se contra o pecado e, também contra quem pecou se comete um pecado igual. A ira, as rixas, o desejo de vingança atrapalha a razão estimula a paixão e se não domina-la poderá ser a sua condenação”.
Mansidão e humildade nos levam a trabalhar em nós a fé, entrega e confiança. A mansidão na paciência, nos leva a doçura, a gentileza e a afabilidade. Jesus era manso, era humilde, hoje o que nós vivemos é um paganismo que exalta o sacrifício do fraco em favor do forte, o cristianismo é o sacrifício os fortes em favor dos fracos. A mansidão e a humildade são exercícios. Todo homem deve estar pronto para ouvir, porém tardo a falar e tardo para se irritar, porque a ira do homem não agrada a justiça de Deus (Tg 1, 19-20).
Mansidão e humildade com Deus. Humildade e paciência nos levam ao próximo. Mansidão e humildade na oração. Um coração magoado e ferido é capaz de suas de suas feridas e fazer delas um veneno.
Um coração ferido tem que mergulhar no perdão, um coração magoado tem que sarar na oração. Na vida espiritual há muitos que patinam, não anseiam as coisas de Deus e vivem num profundo desamor. O inimigo se vale das rixas, das brigas, das magoas para segurar o Espírito, para reter uma alma de junto de Deus, porque são as coisas mesquinhas e pequenas , mas nos prendem. Mais um ponto mansidão e humildade diante da Sagrada Escritura. Mansidão e humildade para com a Igreja. Mansidão e humildade no exercício da obediência é a obediência, como Cristo obedeceu ao Pai.
Mansidão e humildade, porque Jesus disse quem não for como criança não entrará no reino do céu, pois a criança é incapaz de sentir ódio é desprovida do orgulho. Só quem tem uma alma como de criança pode progredir na vida espiritual (Mt 7, 12). Ser manso e humilde é entrar pela porta estreita. Diante da ira seja manso, diante de um elogio seja humilde. Não está errado em querer ser o primeiro a servir, a questão é como conquistar.
Deus nos deu os dons para serem usados, potências para serem exploradas, força para ser valida, porém o detalhe é, sempre no amor. Não perca a força, a energia, mas se deixe domar por Deus.
Pe. Reginaldo Manzotti
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