Bumba-meu-boi: a maior manifestação folclórica do Maranhão |
03-Ago-2007 | |
Dos folguedos maranhenses, o Bumba-meu-boi é um dos mais conhecidos e populares. É o grande representante do folclore do nosso Estado e um dos símbolos mais autênticos de maranhensidade, ou melhor, é o maior espetáculo popular do Maranhão. A brincadeira do Bumba-Boi é praticada na quase totalidade do território maranhense, tendo maior intensidade na capital e na zona litorânea. O bumba-boi ou simplesmente boi- como é denominado no Maranhão- é uma espécie de ópera popular que mistura teatro, dança, música e circo. Dançando e cantando, conta-se a história da morte e da ressurreição de um boi. Para os maranhenses, o Bumba vem sendo uma das mais importantes e empolgantes festas, uma das mais antigas manifestações folclóricas da terra timbira. Raízes A provável origem do evento é o nordeste das últimas décadas do século XVIII, sendo elaborado pelas comunidades rurais que viviam nos engenhos de cana de açúcar e da pecuária rudimentar do gado nos sertões, as quais incorporaram ao auto do boi outros reisados, tais como burrinha, caipora, caboclos, cavalo-marinho. No Maranhão, o Bumba-boi se desenvolveu em torno de um único enredo (a história do boi). Conta-se que numa fazenda de gado, um casal de negros escravos; o marido, chamado Francisco (Chico, Pai Francisco), e a mulher, Catirina. Esta, grávida e com desejo, pede ao marido que lhe traga língua de boi. Então, Pai Francisco rouba um boi do seu patrão. Quando descobre o sumiço do animal, o patrão fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. Este terá de dar conta do boi, sob pena de ser morto. Com isso, toda a fazenda foi mobilizada para salvar o boi. São chamados primeiramente, os doutores, os quais não consegue reanimar o animal. Em seguida, com sugestão de um dos índios presentes, na ocasião, o dono da fazenda, convoca pajés e curandeiros para salvar o animal e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre. A alegria foi contagiante. O boi estava salvo e também Pai Francisco. Roteiro As apresentações são realizadas no período de 23 de junho até início de outubro. Em princípio o amo (cantador) guarnece o boi, com uma toada denominada de Guarnicê (que significa reunir, preparar, arrumar os baiantes e toda tropeada para a dramatização do folguedo). Depois é cantada a toada Lá Vai (representa o aviso para aqueles espectadores que aguardam a brincadeira); a terceira toada é o Cheguei ou a Licença (o pedido para apresentação da tropeada); a quarta toada é a Saudação (louvação ao boi, ao dono do local da apresentação e o anúncio do início do auto do boi); a quinta toada é o Urrou (após a dramatização da hora da matança, momento em que o boi ressuscita) e sexta é a Despedida (o final do espetáculo mais popular do Maranhão). É bom dizer que as músicas e cantorias representam o eixo da brincadeira. Essas cantigas são as chamadas toadas, que a cada folguedo são renovadas pelas vozes de cantores como Mané Onça, Humberto do Maracanã e João Chiador. O conjunto de figurantes - personagens e instrumentistas - que formam o grupo de um boi é chamado popularmente de batalhão, assim designados quase sempre nas toadas dos cantadores. Os brincantes do bumba- boi para caracterizar seus personagens, usam vestimentas de veludo ou tecidos brilhantes, fantasias de buriti, vistosos chapéus de diversos tipos, máscaras e adereços muito bem elaborados e coloridos, com fitas, penas, muitos bordados com lantejoulas, paetês, miçangas e vidrilhos. Um dos destaques na formação do elenco do boi são as índias, bloco formado por mulheres, com fantasias sofisticadas e estilizadas, coreografias criativas e modernas. Apesar de sua riqueza cultural, o Bumba-meu-boi do Maranhão já foi alvo de perseguições da polícia e das elites por ser uma festa mantida pela população negra da cidade, chegando a ser proibida entre 1861 e 1868. Principais sotaques O Bumba-meu-boi possui variantes de elaboração rítmica que consolidaram três estilos musicais distintos, os chamados sotaques tradicionais: sotaques do boi de matraca, do boi de zabumba e do boi de orquestra. Cada sotaque tem sua indumentária típica, com variações de estilo em cada grupo. No sotaque de Matraca ou da Ilha o destaque maior são as matracas- instrumento confeccionado com dois pedaços de madeira rústica ou trabalhada e, quando batidos um contra o outro, seguem um ritmo vibrante. Neste sotaque também se usa os pandeirões ou tinideiras, os tambores-onça e maracás. No sotaque de zabumba-originário dos tambores bombos - cada tocador carrega seu zabumba e o respectivo descanso. São tambores que possuem, mais ou menos, meio metro de altura, feitos de madeira, amparados por uma forquilha. Somados aos zabumbas, existem os pandeirinhos ou repinicadores. Por fim, no sotaque de orquestra, os instrumentos destes grupos formam praticamente uma pequena orquestra, destacando-se instrumentos de sopro e cordas (saxofones, banjos, clarinetes, flautas etc.) e mais um bombo, um tambor-onça e maracás. | |
Escrito por Anne Santos/ do Cazumbá Online | |
Atualizado em ( 17-Mar-2010 ) |
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