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sexta-feira, 6 de julho de 2012
série MATRIMÔNIO;Preparação para o Matrimônio – III
Preparação para o Matrimônio – III
3 de julho de 2012
Por Robson Oliveira
http://humanitatis.net/?p=349
Preparar para este sacramento exige dos pais uma força espiritual e humana incomum. Mas quem disse que ser esposo e esposa cristãos seria fácil?
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Na longa jornada de preparação para o matrimônio, dois importantes pontos precisam ser recordados: primeiramente, o matrimônio é uma vocação, um chamado de Deus para o seu serviço generoso na família; depois, que o matrimônio é um sacramento do serviço. De certa forma, se há uma crise castigando os matrimônios em geral, uma das causas desta crise é a falta de generosidade que assola as famílias. Para os cristãos, porém, a falência das famílias é um problema ainda mais grave, pois denota falta de amor. Certamente, um dos grandes sintomas desta crise surge do desconhecimento ou da rebeldia dos casais acerca de um dos deveres gerais da família: o serviço à vida.
Na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, de 1981, o Papa João Paulo II indica quatro deveres gerais da família: 1. formar uma comunidade de pessoas; 2. servir à vida; 3. participar no desenvolvimento da sociedade e; 4. participar na vida e missão da Igreja. Dentre esses deveres gerais, o serviço à causa da vida é o que geralmente mais causa embaraço e dificuldades para os casais, cristãos ou não. O que significa, na prática, servir à vida no matrimônio? Este é o tema desta etapa da Preparação para o Matrimônio.
O que significa “servir à vida”?
A compreensão teórica do assunto é fundamental para que os casais que se dão em matrimônio saibam exatamente como pôr em execução esta característica básica da vida matrimonial. Servir à vida no matrimônio passa necessariamente por dois elementos fundamentais: servir à vida colaborando na geração dos filhos e; servir à vida na educação dos filhos. Transmitir e educar são dois elementos fundamentais do dever geral das famílias de servir à vida.
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a) Dos §§ 28 a 35 da Familiaris Consortio, o Papa João Paulo II discorre sobre um aspecto específico do serviço à vida na família, que é a transmissão da vida humana. O Pontífice resgata o mandamento de Deus para o matrimônio: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1,28). Uma das funções básicas do matrimônio é a prole, que também é um dos fins do apetite sexual (sobre o assunto, leia mais aqui e aqui). Assim, a família humana cumpre seu papel quando transmite a vida para seus filhos, provas concretas de generosidade consigo mesma, com a sociedade e com Deus. Mais: o dom da vida é consignado às famílias por Deus, que deseja fazer dos homens consortes deste grande mistério de amor, que é a geração de seres humanos. Ao aceitarem a tarefa de colaboradores na geração do gênero humano, homem e mulher tornam-se co-criadores, com Deus Criador, da espécie humana: “assim a tarefa fundamental da família é o serviço à vida. É realizar, através da história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de homem a homem” (Familiaris Consortio, 28).
Ora, ser colaborador da transmissão da vida humana, de homem a homem, torna a prática do aborto e os meios artificiais de contracepção objetos de repulsa por parte dos que entendem a beleza da vida humana. Aos abortistas, à Misericórdia de Deus quando couber; a justiça dos homens, sempre; ao aborto, porém, toda força e rejeição capazes de serem encontrados pelos cristãos e homens de boa vontade. Os que se preparam para o sacramento do matrimônio precisam saber destas disposições naturais e sacramentais antes de se darem como dom de amor mutuamente.
Do mesmo modo, aos casais que pretendem dar-se em matrimônio, mas principalmente aos cristãos – de todas as confissões – é imprescindível negar qualquer meio artificial de método contraceptivo. Não é lícito moralmente tornar um ato sexual naturalmente fecundo em infecundo, sem razões graves. Negar a vida nascente é o suprassumo da falta de amor, é o contrário de ser generoso. Ora, se o matrimônio é o lugar da generosidade, nele não pode haver lugar para a rejeição aberta e franca à vida, a não ser que haja razões graves para tal. Aos que estão na situação de rejeição a prole, mas sem razões graves, urge implorar de Deus a graça de mudar seus estados de espírito, para serem mais receptivos à vida que Deus quer dar por meio dos casais. O matrimônio dessas pessoas será mais feliz e fecundo do que jamais imaginariam, pois será mais generoso. E o Deus de Bondade, que não se deixa vencer em generosidade, os recompensará ainda nessa vida… com perseguições.
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Além disso, a questão do dever de gerar vida esbarra imediatamente nas doutrinas alarmistas sobre superpopulação, farsa que está voltando à moda. O Beato João Paulo II lembra que à família, e só à família, cabe o dever de refletir sobre os filhos que desejam ter, sempre abertos ao incremento providencial e livre do Deus de Amor, que sabe da felicidade do homem mais que o próprio homem. Em 1981 já havia a “ameaça” do Boom Demográfico, mas como ficou provado, esse é mais um modo de as nações ricas manterem seu domínio sobre as nações em desenvolvimento. O Beato João Paulo II advertia que o medo da expansão demográfica surgiu graças a “certo pânico derivado dos estudos dos ecólogos e dos futurólogos sobre a demografia [que] exageram, às vezes, o perigo do incremento demográfico para a qualidade da vida” (FC, 30).
Outro modo de servir à vida no matrimônio é educando os filhos.
b) Dos §§ 36 a 40 da Familiaris Consortio, o Papa João Paulo II trata do dever das famílias de auxiliarem no crescimento e desenvolvimento da prole que Deus lhes enviar. É direito dos pais definir a educação que desejam para seus filhos, sem que qualquer instituição ou indivíduo se intrometa na formação que os pais tem que dar a seus filhos. De outro lado, a dignidade da pessoa humana exige dos pais que se esmerem por favorecer o crescimento integral de seus filhos, favorecendo a vida de piedade, o crescimento nas virtudes, a vida social e todos os elementos que compõem uma saudável vida humana.
Educar para as virtudes é, no campo humano, um dos mais importantes deveres dos pais. Além disso, criar um ambiente de piedade e religiosidade é, no campo espiritual, a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos. É no lar que se aprende a rezar, a ser caridoso, a morrer um pouco para dar vida a outros, é na família que a verdadeira piedade pode nascer e se desenvolver com mais facilidade. Em uma família assim, as vocações são mais meditadas, a generosidade a Deus, que é a raiz de toda vida feliz, torna-se mais fácil de ser reconhecida – ainda que continue sendo difícil de ser cumprida. Educar os filhos, portanto, é tão importante quanto recebê-los de Deus. Por isso, o Papa João Paulo II fala da responsabilidade na geração de filhos, o que não é apologia a famílias pequenas, mas um elogio à virtude da prudência e da justiça.
Finalmente, no § 41 da Familiaris Consortio, o Papa João Paulo II fala às famílias que não têm filhos. Ele insiste, de maneira evangélica, que todos os homens somos filhos de Deus e que, por isso, os que sofrem de alguma debilidade que impossibilite ter filhos precisam ver, em outros filhos de outras famílias, filhos seus. É belíssimo o que diz o Papa:
As famílias cristãs, que na fé reconhecem todos os homens como filhos do Pai comum dos céus, irão generosamente ao encontro dos filhos das outras famílias, sustentando-os e amando-os não como estranhos, mas como membros da única família dos filhos de Deus. Os pais cristãos terão assim oportunidade de alargar o seu amor para além dos vínculos da carne e do sangue, alimentando os laços que têm o seu fundamento no espírito e que se desenvolvem no serviço concreto aos filhos de outras famílias, muitas vezes necessitadas até das coisas mais elementares.
As famílias cristãs saberão viver uma maior disponibilidade em favor da adoção e do acolhimento de órfãos ou abandonados: enquanto estas crianças, encontrando o calor afetivo de uma família, podem fazer uma experiência da carinhosa e próvida paternidade de Deus, testemunhada pelos pais cristãos, e assim crescer com serenidade e confiança na vida, a família inteira enriquecer-se-á dos valores espirituais de uma mais ampla fraternidade.
A fecundidade das famílias deve conhecer uma sua incessante «criatividade», fruto maravilhoso do Espírito de Deus, que abre os olhos do coração à descoberta de novas necessidades e sofrimentos da nossa sociedade, e que infunde coragem para as assumir e dar-lhes resposta. Apresenta-se às famílias, neste quadro, um vastíssimo campo de ação: com efeito, ainda mais preocupante que o abandono das crianças é hoje o fenômeno da marginalização social e cultural, que duramente fere anciãos, doentes, deficientes, toxicômanos, ex-presos, etc.
Desta maneira dilata-se enormemente o horizonte da paternidade e da maternidade das famílias cristãs: o seu amor espiritualmente fecundo é desafiado por estas e tantas outras urgências do nosso tempo. Com as famílias e por meio delas, o Senhor continua a ter «compaixão» das multidões (FC, 41).
Preparar-se para o matrimônio é, de um lado, abrir-se à Vontade de Deus sobre os filhos; de outro, desalojar-se de seus próprios benefícios em favor de uma educação completa e integral dos filhos. Obviamente, preparar para este sacramento exige dos pais uma força espiritual e humana incomum. Mas quem disse que ser esposo e esposa cristãos seria fácil?
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