Mãe da Misericórdia
Posted
on 17/09/2011 by Salve Maria Imaculada!
Existe uma íntima relação entre Maria Santíssima, a
Mãe de Jesus, o mistério da misericórdia divina e a prática da misericórdia.
Maria está desde a sua concepção envolta na misericórdia infinita do Pai, pelo
Filho e no Espírito (preservada do pecado e do demônio), ao mesmo tempo em que
o seu agir – antes e depois da sua Assunção – está assinalado pelo amor efetivo
aos seres humanos (especialmente pelos pecadores e sofredores).
Oficialmente a
Igreja Católica aprovou a 15/8/1986 o formulário da Missa Votiva “Santa Maria,
Rainha e Mãe de Misericórdia”, importante marco para a história de sua
veneração – sem nos esquecermos que a 30/11/1980 o Papa João Paulo II destacara
na sua Encíclica Dives in misericordia que Maria é a “pessoa que conhece mais a
fundo o mistério da misericórdia divina” (n. 9). Anos depois o Catecismo da
Igreja Católica (1997) dirá que ao rezar na Ave-Maria: “rogai por nós,
pecadores”, estamos recorrendo à “Mãe da misericórdia” (n. 2677).
A invocação “Salve,
Rainha de misericórdia” se encontra pela primeira vez com o Bispo Adhémar, de
Le Puy (+ 1098); destaca a qualidade do olhar materno de Maria: “esses vossos
olhos misericordiosos a nós volvei”, e conclui com o sentido desta sua
misericórdia: “ó clemente, ó piedosa, ó doce, Virgem Maria”. Já o título “Mãe
de Misericórdia” se crê que foi dado pela primeira vez a Maria por Santo Odão
(+942), abade deCluny. “Ego sum Mater misericordiae” (Eu sou a Mãe de
Misericórdia), Maria lhe teria dito em sonho.
No mundo oriental
podemos encontrar testemunhos ainda mais antigos. O padre oriental da Tiago de
Sarug (+521), aplicou a Maria explicitamente o título de “Mãe de misericórdia”
(Sermo de transitu), o que é por muitos considerado como sua primeira
atribuição em absoluto.
Relação com a
Mensagem da Divina Misericórdia
Em Vilna, capital da
Lituânia, se venera a imagem da Mãe da Misericórdia de Aušros Vartai (Portal da
Aurora) desde 1522, localizada numa das entradas do antigo muro. Em 1773 o Papa
Clemente XIV concedia indulgências a quem rezasse ali com devoção, e em 1927 o
Papa Pio XI permitiu que a pintura fosse solenemente coroada com o título de
Maria, Mãe de Misericórdia. Sua festa é celebrada a 16 de novembro.
Em nossos tempos,
Santa Faustina Kowalska†, mística polonesa, nos repropõe a centralidade da Divina
Misericórdia para a fé e a vida da Igreja, recorrendo a Maria Santíssima como
Mãe da Misericórdia, padroeira da Congregação religiosa a que pertencia (cf.
Diário 79, 449, 1560), cuja festa celebravam (a Congregação) em 5 de agosto.
Por Providência divina, a primeira vez em que a imagem de Jesus Misericordioso
foi publicamente venerada foi justamente em Vilna (cf. Diário, 417).
Em qual sentido
podemos proclamar Maria como Mãe de misericórdia? Sem cometer o grave equívoco
de pensar que a misericórdia é reservada a Maria e a justiça a Jesus (como
muitos medievais chegaram a pensar), o título “Mãe da Misericórdia” ou “Mãe de
misericórdia” assim se justifica: Maria é a mulher que experimentou de modo
único a misericórdia de Deus – que a envolveu de modo particular desde a sua
Imaculada Conceição, passando pela Anunciação, como discípula fiel do seu
Filho, até o grande momento da Sua Páscoa (paixão, morte, ressurreição,
glorificação e Pentecostes). Ela é kecharitoméne, “cheia de graça”, ou seja,
totalmente transformada pela benevolência divina (cf. Ef 1,6).
Maria é a mãe que
gerou a misericórdia divina encarnada – graça extraodinária que coloca a jovem
Maria, a partir da Encarnação do Filho de Deus, numa relação inimaginável de
intimidade com o próprio “Pai das misericórdias” (2Cor 1,3). A partir do seu
“eis-me aqui” e o seu “faça-se”, a misericórdia divina se faz carne e entra na
história!
Maria é a profetisa
que exalta a misericórdia de Deus – pois no seu cântico o “Magnificat” por duas
vezes – unida ao Filho do Altíssimo e ao seu Espírito – ela louva ao Pai
misericordioso: “a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre
aqueles que o temem”; “socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua
misericórdia” (Lc 1,50.54).
Maria é a
intercessora incansável do povo de Deus – elevada aos Céus em corpo e alma,
Maria não deixa de apresentar as necessidades dos fiéis ao seu Filho, a quem
rogou pelos esposos de Caná, quando vivia na terra (cf. Jo 2,1ss). Ela
“continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna”, ensina o Concílio
Vaticano II (Lumen gentium, n. 62), praticando assim a misericórdia, sobretudo
para com os que padecem dos males da alma (pecadores), mas também do corpo
(todos que sofrem).
Maria é a apóstola
incansável da misericórdia divina – com a permissão e o envio do seu Filho,
Maria visitou inúmeras vezes os seus filhos ainda peregrinos neste mundo, o que
podemos contemplar nas aparições que já gozam de beneplácito eclesial
(Guadalupe, La Salette, Lourdes, Knock, Fátima etc.), convidando a todos a se
aproximarem do “trono da graça” que é o seu Filho. Com o seu coração compassivo
de Mãe, não poderia permanecer indiferente às mazelas dos seus filhos neste
vale de lágrimas!
A Mãe de Jesus e
nossa merece, portanto, ser honrada como Mãe da Misericórdia e Mãe de
misericórdia! Ó Maria, Mãe que experimentastes e gerastes a Misericórdia, Mãe
que proclamais e exerceis a misericórdia, fazei de nós autênticos apóstolos
deste mesmo mistério de amor em nossos tempos. Amém.
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