terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Santo do Dia Imaculada Conceição de Nossa Senhora(sou consagrado a ela,por isso nasci)

homenagem a mãezinha Lily

Tuesday, 8 de December de 2009, por Pedro C.

Publicado 2009/12/08
Author : Igreja

A criação de nossos primeiros pais, Adão e Eva, foi ima culada, ou seja, sem mancha. Deus mesmo, Pai, Filho e Espírito Santo, criou-os num estado de graça e de inocência

A criação de nossos primeiros pais, Adão e Eva, foi imaculada, ou seja, sem mancha. Deus mesmo, Pai, Filho e Espírito Santo, criou-os num estado de graça e de inocência.

Que dizer do segundo Adão e da segunda Eva? Não tiveram eles o mesmo privilégio?

IMACULADA CONCEIAO-A.jpgO segundo Adão é Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. Certamente, foi concebido sem pecado e em estado de graça uma vez que Ele é a graça e a santidade.

Este segundo Adão fez com que desta graça participasse a segunda Eva, a Virgem Maria, sua Mãe?

Vejamos o que disse no primeiro julgamento.

Nossos primeiros pais, Adão e Eva, perderam a graça e a inocência quando comeram o fruto proibido. Deus, então, foi julgá-los. Ora, o Evangelho, ensina-nos que Deus Pai concedeu ao Filho todos os julgamentos. É pois, o Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo, aquele que irá julgar os anjos, os homens e os demônios no fim do mundo. Foi, pois, o Filho de Deus, antes de se fazer homem, um dia, aquele que apareceu julgar Adão e Eva depois da falta cometida, mas para julgar na sua misericórdia.

Tendo ouvido a voz do Senhor Deus, que passeava pelo paraíso, à hora da brisa, depois do meio-dia, Adão e a mulher esconderam-se da face do Senhor Deus no meio das árvores do paraíso. E o Senhor Deus chamou por Adão, e disse: "- Onde estás?" E ele respondeu: "- Ouvi tua voz no paraíso e tive medo, porque estava nu, e escondi-me". (1)

Disse-lhe Deus então: "- Mas quem te fez conhecer que estavas nu? Acaso comeste da árvore, da qual eu havia ordenado que não comesses?"

Adão, respondendo disse: "- A mulher, que me deste por companheira, deu-me do fruto da árvore, e eu comi".

E o Senhor Deus disse para a mulher: "- Porque fizeste isto?"

Ela respondeu: "- A serpente enganou-me e eu comi!"

E o Senhor Deus disse à serpente: "- Porque fizeste isto, és maldita entre todos os animais e bestas da terra. Andarás de rasto sobre teu peito e comerás terra todos os dias da tua vida. Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar".

Disse também à mulher: "- Multiplicarei os teus trabalhos, e especialmente os de teus partos. Darás à luz com dor os dilhos, e desejarás com ardor a teu marido, que te dominará".

E disse a Adão: "- Por que deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore, da qual eu te havia ordenado que não comesses, a terra será maldita por tua causa. Dela tirarás o sustento com penosos trabalhos todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de que foste tomado, porque tu és pó, e em pó hás de tornar". (2)

Eis como o Filho de Deus proferiu o primeiro julgamento sobre o gênero humano, julgamento ao mesmo tempo cheio de justiça e de misericórdia, do qual todas as circunstâncias merecem uma particular atenção, notadamente aquelas que dizem respeito à mulher.

Nossos primeiros pais envergonharam-se da falta cometida. Confessaram-na diante de Deus, o juiz. Deus imp^s-lhe por penitência penas desta vida, incluindo a morte, mas não os maldisse. Havia-os abençoado, e os dons de Deus são sem arrependimento. Não é, pois, verdadeiro dizer que Deus maldisse nossos primeiros pais, nem nós neles.

Quanto à serpente, porém, que disse o soberano Juiz? Pois que fizeste isto, és maldita entre todos os animais e bestas da terra. Assim, foi a serpente que Deus amaldiçoou, não o homem, não a mulher. Amaldiçoou a serpente, ou, antes, Satanás disfarçado. E fê-lo sem o interrogar, sem necessidade de respostas quaisquer. Adão pecara por complacência. Eva, por sedução, e a serpente, por pura malícia. Maldita sejas, entre todos os animais e bestas da terra. Andarás de rasto sobre teu peito e comerás terra todos os dias da tua vida.

Eis, pois, o espírito soberbo que queria ser igual ao Altíssimo condenado a arrastar-se como um réptil, ao fazer mil baixezas para persuadir aos homens imprevidentes, vergonhosos desejos. Nós o veremos como no Evangelho, a ele e aos seus, expulsos do corpo dum homem, pedir a Jesus Cristo, o juiz, a graça de poder alojar-se no corpo de porcos:
Chegaram à outra banda do mar, ao território dos gerasenos. E, ao sair Jesus da barca, foi logo ter com ele, saindo dos sepulcros, um homem possesso de um espírito imundo, do qual tinha seu domicílio nos sepulcros, e nem com cadeias o podia alguém ter preso, porque, tendo sido atado por muitas vezes com grilhões e com cadeias, tinha quebrado as cadeias e despedaçado os grilhões, e ninguém o podia domar.

E sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando e ferindo-se IMACULADA CONCEIAO_2....jpgcom pedras. Vendo Jesus, porém, de longe, correu e prostrou-se diante dele. E, chamando em altas vozes, perguntou:

"- Que tens tu comigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Eu te conjuro por Deus que não atormentes".

Por que? Porque Jesus lhe dizia:

"- Espírito imundo, sai desse homem".

E perguntou, em seguida:

"- Que nome é o teu?"

E ele respondeu:

"- O meu nome é Legião, porque somos muitos".

E suplicava-lhe que não o expulsasse daquele país.

Ora, pastando por ali, encontrava-se uma grande vara de porcos. E os espíritos suplicavam a Jesus:

"- Mandai-nos para os porcos, para nos metermos neles".

Jesus deu-lhes a permissão. E, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos. E a vara, que era de cerca de dois mil, precipitou-se por um despenhadeiro ao mar, onde se afogaram todos.

Os que andavam apascentando, fugiram e foram espalhar a notícia pela cidade e pelos campos. E o povo foi ver o que sucedera. Foram ter com Jesus, e viram o que tinha sido vexado do demônio sentado, vestido e são de juízo, ele que estivera possesso duma legião inteira. E todos tiveram medo.

Os que viram o sucedido, contaram aos que chegaram o que se dera com o endemoninhado e com os porcos, de modo que começaram a rogar a Jesus que se retirasse do território deles.

Quando Jesus subia para a barca, começou o que fora vexado do demônio a pedir-lhe permissão para acompanhá-lo, mas Jesus, não o permitindo, disse-lhe:

"- Vai para a tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, como teve piedade de ti".

Ele se foi e começou a publicar pela Decápole quão grandes coisas lhe havia feito Jesus, e todos se admiravam. (3)

E não é tudo. O Juiz dos vivos e dos mortos acrescentou: "Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar.

Ó nova Eva, nova Mãe dos vivos, ó Maria, cheia de graça e de méritos de Deus, bendita entre as mulheres, querida entre as mães, ó Maria, Mãe de Jesus, de cuja presença os demônios todos, amedrontados, fogem precipitadamente, ora pro nobis!

Quem não bendirá a admirável bondade de Deus para com nossos primeiros pais? Ambos, Adão e Eva, cheios de temos e de confusão, fizeram a primeira confissão. Deus, diante deles, maldisse a serpente, como para aumentar ainda mais a confusão e o temos. E que anuncia Ele, nessa punição? Que faz entrever? Nada mais nada menos do que um redentor, um redentor em quem, desde então, pudessem esperar perdão, um redentor que havia de nascer, não do homem e da mulher, mas da mulher só.

Que palavras de consolação e de glória para Eva, humilhada e confusa! E o Redentor que, havia de nascer da mulher, era o Verbo eterno, o Deus mesmo que tomara forma sensível para exercer o primeiro julgamento, como virá para exercer o último.

Ó almas, reconciliai-vos aqui diante da Mãe de Deus, do Deus, do Filho, que disse à serpente: Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. E ela te calcará, pisará a cabeça.

Esta mulher, bendita entre as mulheres todas, que deve pisar a cabeça da serpente pelo fruto do próprio ventre, é a Virgem Maria. Por um milagre único de Deus, prometido desde a queda de nossos primeiros pais, sempre houve inimizade entre ela e a serpente. E a serpente jamais teve poder sobre ela, porque foi concebida sem pecado. Creiamos, do fundo do coração, na Imaculada Conceição de Maria, mãe de Deus e mãe nossa. Concebida sem pecado, nascida cheia de graça, tu tens, ó Maria, em tuas mãos as nossas almas. Intercede, pois, por todos nós, míseros pecadores, e pecadores recalcitrantes. Teu Filho mesmo disse que de ti tudo d'Ele se conseguirá. Sim porque és a inefável Advogada, Aquela para quem o impossível é possível. Ó Maria, mãe de Deus e mãe nossa, ora pro nobis pecatoribus! Afasta para bem longe de todos a serpente sedutora. Como a Eva seduziu, assim porfia por nos seduzir a nós, todos os dias. Calca, pois com teus pés sublimes a cabeça maldita, para que, afastando-se de nós a víbora execrável, possamos ter o coração puro, e pura a carne, de modo que sejamos dignos tabernáculos de teu Filho, templos dignos do Espírito Santo. Assim seja.

(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XXI, Pgs. 112 à 118)

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Antes que Pio IX, com a bula Ineffabilis Deus em 1854, definisse solenemente o dogma da Imaculada Conceição, não obstante as hesitações de alguns teólogos, que podiam apelar para o próprio São Tomás de Aquino, tinha-se chegado a um desenvolvimento não só da devoção popular para com a Imaculada mas também nas intervenções dos papas a favor imaculada conceicao nsra lourdes_1....jpgdesta celebração. Antes que o calendário romano incluísse a festa em 1476, esta já havia aparecido no Oriente no século sétimo, e contemporaneamente na Itália meridional dominada pelos bizantinos.

Em 1570, Pio V publicou o novo Ofício e finalmente em 1708 Clemente XI estendeu a festa, tornando-a obrigatória, a toda a cristandade. Mas desde a origem do cristianismo Maria foi venerada pelos fiéis como a TODA SANTA. No primeiro esboço da festa litúrgica da Conceição, anterior ao século sétimo, nota-se, se não a profissão explícita da isenção da culpa original, pelo menos uma persuasão teologicamente equivalente. "Potuit, decuit, ergo fecit", havia argumentado um brilhante teólogo medieval:

"Deus podia fazê-lo, convinha que o fizesse, portanto o fez." Do infinito amor de Cristo para com a Mãe, que a pré-redimiu e a cumulou do Espírito Santo desde o primeiro instante da sua existência, derivou este singular privilégio, que a Igreja hoje celebra para nos fazer meditar sobre a beleza de toda alma santificada pela graça redentora de Cristo.

Quatro anos após a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a Virgem apareceu a Santa Bernadette Soubirous. Para a menina que, timidamente, perguntava: "Senhora, quer ter a bondade de me dizer o seu nome?", Maria respondeu: "Eu sou a Imaculada Conceição."



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Santo do Dia Nossa Senhora de Guadalupe

Saturday, 12 de December de 2009, por Pedro C.

Publicado 2009/12/12
Author : Igreja

Por volta de 1531, os missionários espanhóis haviam já aprendido a língua dos indígenas para fins de evangelização. Conforme a antiga tradição, foi justamente nesse ano que a Virgem Mãe de Deus

Por volta de 1531, os missionários espanhóis haviam já aprendido a língua dos indígenas para fins de evangelização. Conforme a antiga tradição, foi justamente nesse ano que a Virgem Mãe de Deus apareceu ao recém convertido Juan Diego (João Diogo, em Português), um piedoso índio, na colina de Tepeyac, perto da capital do México. Com muita afabilidade o exortou a ir ter com o Bispo e pedir-lhe que nesse lugar erguessem um Santuário em sua honra. O Bispo da diocese, Dom Frei João de Zumárraga retardou a resposta a fim de averiguar, cuidadosamente, o que tinha acontecido. Quando Juan, movido por uma segunda aparição e nova insistência da Santíssima Virgem, renovou as suas súplicas, entre lágrimas, ordenou-lhe o bispo que pedisse um sinal que comprovasse de que a ordem vinha realmente da grande Mãe de Deus.

Vindo Juan, certo dia, de um lugar mais distante, por um caminho que não passa pela colina de Tepeyac e dirigindo-se à capital, à procura de um sacerdote que administrasse os últimos sacramentos ao tio moribundo, a Virgem veio ao seu encontro, pela terceira vez, e consolou-o com a notícia do completo restabelecimento do tio, colocando-lhe no manto Nossa_Senhora_de_Guadalupe.jpgestendido belíssimas flores que haviam desabrochado há pouco tempo, apesar da esterilidade do terreno e do inverno: "Escuta, meu filho, não temas; não fiques preocupado ou assustado; não tens que temer essa doença, nem outro qualquer dissabor ou aflição. Não estou eu aqui ao teu lado? Eu sou a Mãe dadivosa. Não te escolhi para mim e não te tomei ao meu cuidado? Não permitas que nada te aflija ou perturbe. Quanto à doença do teu tio, não é mortal. Acredita: agora mesmo ficará curado."

Ao ouvir estas palavras, o piedoso vidente voltou a renovar o seu oferecimento para levar o sinal ao Bispo.

A SS. Virgem mandou-o ao lugar onde a tinha visto pela primeira vez, dizendo-lhe que lá encontraria uma grande variedade de flores. Que as colhesse e as trouxesse.

Subiu Juan Diego ao alto da colina. No frio mês de Dezembro, naquela terra árida e rochosa, onde nem vegetação havia, tinham brotado abundantes rosas de cor e perfume maravilhosos. Nossa Senhora colocou-as no "poncho" (manta com um buraco no meio por onde enfiavam a cabeça) e mandou levá-las ao Bispo que com este sinal se havia de convencer.

Juan Diego obedeceu e, ao despejar as flores perante o Bispo, apareceu uma linda pintura de Nossa Senhora tal como ela se mostrara na colina perto da cidade. O bispo acompanhou Juan ao local designado por Nossa Senhora e depois foi ver o tio dele, já curado. Este, ouvindo descrever a Senhora, assentiu sorrindo: "Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou-me. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac. Disse que sua imagem seria chamada Santa Maria de Guadalupe, embora não tenha explicado o porquê."

A fama do milagre espalhou-se rapidamente por todo o território. Os cidadãos, profundamente impressionados por tão grande prodígio, procuraram guardar respeitosamente a santa Imagem na capela do paço episcopal. Mais tarde, após várias construções e ampliações, chegou-se ao magnífico templo actual. De toda a parte e não só do México, acorrem os homens à Senhora de Guadalupe.

Em 1754, escrevia o Papa Bento XIV: "Nela tudo é milagroso: uma imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros; uma Imagem estampada num tecido tão transparente que se pode ver através dele facilmente o povo e a nave da Igreja: uma imagem em nada deteriorada, nem no seu supremo encanto, nem na nitidez das cores, pelas emanações da humidade do lago vizinho que já corroeram a prata, o ouro e o bronze... Deus não procedeu assim com nenhuma outra nação."

Em outros santuários marianos, a fé move os devotos, mas em Guadalupe a celestial visão nunca cessa. Junto a essa presença maternal, ninguém se sente como um filho culpado de Adão; cada qual experimenta a inocente simplicidade e o doce aconchego de um filho amoroso.

Santo do Dia Santa Luzia

Sunday, 13 de December de 2009, por Pedro C.

Publicado 2009/12/13
Author : Igreja

Santa Luzia, como se lê nas Actas, pertencia a uma família rica de Siracusa. A mãe dela, Eutíquie, ficou viúva e havia prometido dar a filha como esposa a um jovem concidadão

Santa Luzia de Siracusa era de família nobre e rica. Siracusa foi, na antiguidade, a maior e, pois, a mais importante cidade da Sicília.

Quando o pai morreu, Luzia era menina. A mãe criou-a na piedade. Jovenzinha ainda, prometeu a Deus guardar perpétua virgindade, mas a mãe, que nada sabia do voto, propôs-se casá-la. Luzia, contudo, encontrou meios para impedir a execução daquele projeto, quando a boa mulher adoeceu e foi atacada dum fluxo de sangue que a fez sofrer por quatro anos.

Inutilmente, os médicos empregaram todos os recursos da arte para curá-la. A filha, extremamente aflita por vê-la em tão triste estado, persuadiu-a a ir a Catana e ali rogar ao Senhor, sobre a sepultura de Santa Ágata.

A mãe, afinal, resolveu empreender a viagem, e Luzia acompanhou-a.

Ao lado do túmulo da Santa, ambas suplicaram ao Senhor, ardentemente, e foram atendidas. Foi quando Luzia lhe revelou o voto que fizera, pedindo-lhe docemente que permitisse cumpri-lo, o que obteve.

Ora , o jovem pretendente à mão da Santa era idólatra. Quando soube que ela pretendia permanecer virgem por toda a vida, e que ia vender todos os bens para distribuir o que apurasse aos pobrezinhos, foi tomado de tremenda cólera, acusando-a de cristã ao governador Pascácio.

O juiz condenou-a a ser exposta num lugar de prostituição, mas o Senhor velou por ela: pessoa alguma ousou ofender-lhe o pudor.

A PAIXÃO

Pascásio mandou prendê-la e convidou-a a sacrificar aos demônios. Luzia respondeu-lhe:

- O sacrifício verdadeiro e puro, para Deus, é visitar as viúvas e órfãos, Não fiz outra coisa de tr6es anos a esta parte. Não santa luzia..jpgsacrificarei. Só sacrificarei ao Deus vivo. Agora que não tenho mais nada a sacrificar, ofereço-me a mim mesma como uma hóstia viva a deus soberano: que Ele faça o que quiser de sua hóstia.

Pascásio:

- Tu podes palrar assim a um cristão semelhante a ti mesma, mas é em vão diante de mim, que sou a guarda das ordenações dos príncipes.

Luzia:

- Tu, tu guardas as vontades dos teus príncipes, e eu, eu observo, noite e dia, a lei de meu Deus. Tu não queres ofendê-los, eu não posso ofender meu Deus. Tu desejas ser-lhes agradável e eu não tenho outra ambição senão a de agradar a Cristo somente. Faze, pois o que te parece certo e eu farei o que a mim me será útil para a salvação de minha alma.

Pascásio:

- Tu gastas o teu patrimônio com corruptores. Eis por que falas com uma corteza.

Luzia:

- Tenho o meu patrimônio em lugar seguro. Jamais privei com corruptores, nem de alma, nem de corpo.

Pascásio:

- E quais são os corruptores de alma e de corpo?

Luzia:

- Tu és um corruptor de alma, tu, de quem o apóstolo diz: As más conversações corrompem os bons costumes. Tu persuades os homens a prostituir as almas, de se afastar do Criador e de seguir demônios surdos e cegos, adorando pedras inúteis. Os corruptores do corpo são os que preferem um prazer passageiro aos festins eternos, os que preferem a alegria que passa às alegrias eternas.

Pascásio:

- Tuas palavras cessarão quando fordes fustigada.

Luzia:

- As palavras de Deus não podem cessar.

Pascásio:

- Então tu és Deus?

Luzia:

- Não, sou serva de Deus altíssimo, que diz: Quando estiveres diante de reis e de juízes por causa de meu nome, não penses no que terás de dizer. Tu dirás aquilo que te será dado a dizer na hora. Não és tu que irás falar, mas o Espírito de teu Pai que falará por ti.

Pascásio:

- Então o Espírito Santo está em ti?

Luzia:

- O apóstolo de Deus, Paulo, disse: Os que vivem casta e piedosamente neste século são templo de Deus e o Santo Espírito habita neles.

Pascásio:

- Farei com que te enviem ao lupanar, e quando lá estiveres e te manchares o Santo Espírito fugirá de ti.

Luzia:

- O corpo não se mancha se a alma não consentir. Se tu fizeres com que me violem contra a vontade, minha castidade me proporcionará dupla coroa.

Pascásio:

- Far-te-ei morrer sob o excesso de luxúria, se não consentires com as cerimônias dos Augustos.

Luzia:

- Tu jamais poderás controlar a minha vontade, fazer com que consinta em pecar. Mas, meu corpo está pronto para todos os suplícios. Por que espera? Filho do diabo, começa a realizar teus desejos de me fazer passar por tormentos!
Então Pascásio ordenou que enviassem a virgem de Deus aos debochados, dizendo-lhe:

- Entrega tua castidade a todos e goza dela até que me anuncies que ela morreu.

Mas quando quiseram levá-la ao lupanar, o Santo Espírito fixou-a no lugar, em que estivera até ali, com tal peso, que não puderam arredá-la. Aproximaram-se outros em grande número para arrancá-la à força, mas não o conseguiram. E a virgem do Cristo permaneceu imóvel. Então amarraram-lhe cordas pelos pés e pelas mãos e a puxaram, mas a jovem continuava fixa e imóvel. Pascásio, incomodado e consternado, chamou os magos, os encantadores, os sacerdotes de tosos os templos e todos os que praticavam as suas superstições para que a tirassem dali, mas não o conseguiram. Então Pascásio, crendo todos que ali jazia imóvel por causa de malefícios, ordenou que lhe atirassem água. Ordenou também que numerosas juntas de boi viessem puxá-la: nada podia mover a virdem do Cristo. Aquela que o Santo Espírito fixara, como poderia ser removida, por mãos de pecadores? Pascásio disse:

- Quais são teus malefícios?

Santa Luzia.JPGLuzia respondeu-lhe:

- Não são malefícios, mas uma graça de Deus.

Pascásio:

- Qual a razão pela qual uma frágil jovem não pode ser removida do lugar se mil mãos de homens a puxam?

Luzia:

- E se tu me enviares dez mil outros, que ouçam por mim o que o Santo Espírito disse: Mil tombam à minha esquerda, dez mil à minha direita.

Tendo ouvido aquelas palavras, o juiz insensato mais desgostoso ficou, Procurava os tormentos que a pudessem perder. A santa virgem gritou-lhe:

- Infeliz Pascásio, por que torturas? Por que tremes? Por que te fadigas a procurar? Vamos!

Pascásio estava sem fôlego, e ordenou que ascendessem um grande fogo e derramassem sobre ela pez, resina e óleo, para que ela fosse consumida mais rapidamente, porque ria dele publicamente. E ela, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, imóvel, disse:

- Eu suplico ao meu Senhor Jesus Cristo que este fogo não me domine, para roubar dos que crêem no Senhor o temor do sofrimento, e dos que não crêem um pretexto para os insultos.

Então os amigos de Pascásio, vendo-lhe a ansiedade, ordenaram que lhe mergulhassem uma espada na garganta. Golpeada mesmo, ela orou longamente, tanto quanto quis, e falou à multidão, demoradamente, tanto quanto quis.

- Eu vos anuncio que a paz foi dada à Igreja de Deus: hoje Diocleciano foi expulso de seu reino e Maximiano está morto. E como a cidade de Catana goza de proteção de minha irmã Ágata, sabei que esta cidade de Siracusa me será dada pelo Senhor, se fizerdes a vontade do Senhor de todo o vosso coração.

Enquanto Santa Luzia falava, tinha as entranhas trespassadas por espadas. De repente, Pascásio foi agarrado e preso: os sicilianos haviam levado ao conhecimento de César de que havia pilhado toda a província, e a ordem foi imediatamente enviada para que o levassem preso para a corte imperial. Pascásio, conduzido a Roma, foi ouvido pelo senado, censurado e condenado à pena capital. Luzia, virgem sagrada de Deus, não pôde ser retirada do lugar onde a haviam torturado, mas não morrera antes que os padres viessem trazer-lhe a Eucaristia. E enquanto todo o povo dizia Amém, rendeu a alma.

No mesmo lugar foi edificada uma basílica, onde suas orações florescem e graças se espalham sobre todos aqueles que lhe tocam o sepulcro.

(Livro: Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XXI, Pgs. 252 a 259)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Santo do Dia Dia de Todos os Santos e Fiéis Defuntos

Sunday, 1 de November de 2009, por Pedro C.

Publicado 2009/11/01
Author : Padre Rohrbacher

Do século IV em diante, as Igrejas do Oriente celebravam uma festa comum a todos os mártires da terra. Santo Efrém compôs, para esta circunstância, um hino em que se via que em Edessa aquela festa estava fixada no dia 13 de Maio.

UM LUGAR DE PURIFICAÇÃO

Que local misterioso é esse entre a terra e o Céu, cujos "habitantes" pedem veementemente nossa ajuda e também podem nos beneficiar?

Carlos Werner Benjumea

Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para não suceder que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.

Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo" (Mt 5, 25-26).

Jesus estava falando aos Apóstolos a respeito das punições que esperam os pecadores após a morte. Antes se referira ao fogo da geena - o Inferno -, uma prisão perpétua, eterna. Mas aqui Ele fala de um cárcere do qual se poderá sair, desde que seja pago o débito, até o último centavo.

Essa prisão temporária, um estado de purificação para os que morrem cristãmente sem terem atingido a perfeição, é o Purgatório. Lugar misterioso, mas onde reina a esperança e os gemidos de dor são entremeados por cânticos de amor a Deus.

Caro leitor, eis um assunto do qual se fala pouco, mas cujo conhecimento é vital para nós e para nossos entes querido s que já partiram desta vida.

Convido-o a repassar comigo diversos aspectos desse importante tema.

A festa de Finados

No dia 2 de novembro, a sagrada Liturgia se lembra de modo especial dos fiéis defuntos. Depois de ter celebrado - n

ALMAS DO PURGATORIO_2.JPG

Santo Odilon instituiu no calendário cluniacense a "Festa

dos Mortos" (Vitral do museu de Cluny)

o dia anterior, festa de Todos os Santos - os triunfos de seus filhos que já alcançaram a glória do Céu, a Igreja dirige seu maternal desvelo para aqueles que sofrem no Purgatório e clamam com o salmista: "Tirai-me desta prisão, para que possa agradecer ao vosso nome. Os justos virão rodear-me, quando me tiverdes feito este benefício" (Sl 141, 8).

A gênese dessa celebração está na famosa abadia de Cluny, quando seu quinto Abade, Santo Odilon, instituiu no calendário litúrgico cluniacense a "Festa dos Mortos", dando especial oportunidade a seus monges de interceder pelos defuntos, ajudando-os a alcançarem a bemaventurança do Céu.

A partir de Cluny, essa comemoração foi-se estendendo entre os fiéis até ser incluída no Calendário Litúrgico da Igreja, tornando- se uma devoção habitual, em todo o mundo católico.

Talvez o leitor, como milhares de outros fiéis, tenha o costume de visitar o cemitério nesse dia, para recordar os familiares e amigos falecidos, e por eles orar. Muitos cristãos, porém, não prestam ouvidos aos apelos de seu coração, que os move a sentir saudades de seus entes queridos e a aliviálos com uma prece. Talvez por falta de cultura religiosa, ou por falta de alguém que as incentive ou oriente, muitas pessoas nem vêem a necessidade de rezar pelas almas dos falecidos.

A inúmeras outras, a existência do Purgatório causa estranheza e antipatia.

Seja como for, tanto por amor às almas que esperam ver-se livres de suas manchas para entrarem no Paraíso, quanto para estimular em nós a caridade para com esses irmãos necessitados, como também para nosso próprio proveito, vejamos o "porquê" e o "para quê" da existência do Purgatório.

Purificação necessária para entrar no Céu

Sabemos que a Igreja Católica é una. É o que rezamos no Credo.

Entretanto, os membros da Igreja não estão todos aqui, entre nós, mas em lugares diversos, como diz o Concílio Vaticano II. Alguns "peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados" (Lumen Gentium, 49).

Entre a terra e o Céu não é raro acontecer, no itinerário da alma fiel, um estágio intermediário de purificação. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, por aí passam "os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão perfeitamente purificados".

Por isso "passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu" (nº 1030).

Esse estado de purificação nada tem a ver com o castigo dos condenados ao Inferno, pois as almas do Purgatório têm a certeza de haver conquistado o Céu, mesmo que sua entrada ali tenha sido adiada por causa de seus resíduos de pecado.

A primeira epístola aos Coríntios faz referência ao exame a que serão submetidos os cristãos, os quais, havendo recebido a Fé, devem continuar em si a obra de sua santificação. Cada um será examinado no respeitante ao grau de perfeição que atingiu: "Se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá.

O dia (do julgamento) demonstrá- lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo" (1Cor 3, 12-15). "Ele será salvo", diz o Apóstolo, excluindo o fogo do Inferno, no qual ninguém pode ser salvo, e se referindo ao fogo temporário do Purgatório.

Comentando este e outros trechos da Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja nos fala do fogo destinado a limpar a alma, como explica São Gregório Magno em seus Diálogos: "Com relação a certas faltas leves, é necessário crer que, antes do Juízo, existe um fogo purificador, como afirma Aquele que é a Verdade, ao dizer que, se alguém pronunciou uma blasfêmia contra o Espírito Santo, essa pessoa não será perdoada nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31). Por essa frase, podemos entender que algumas faltas podem ser perdoadas neste século, mas outras no século futuro".

Por que existe o Purgatório?

Será Deus tão rigoroso a ponto de não tolerar nem mesmo a menor imperfeição, limpando-a com penas severas? Esta pergunta facilmente pode nos vir à mente.

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar desta verdade: depois de nossa morte, não seremos julgados segundo nossos próprios critérios, pois "o que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração" (1Sm ALMAS DO PURGATORIO.JPG16, 7). Estaremos diante de um Juiz sumamente santo e perfeito, e em seu Reino "não entrará nada de profano" (Ap 21, 27). Com efeito, na presença de Deus, de sua Luz puríssima, a alma percebe em si mesma qualquer pequeno defeito, julgando- se, ela mesma, indigna de tal majestade e grandeza. Santa Catarina de Gênova, grande mística do século XV, deixou uma obra muito profunda sobre a realidade do Purgatório e do Inferno.

Explica ela o seguinte: "Digo mais: no concernente a Deus, vejo que o Paraíso não tem portas e ali pode entrar quem quiser, pois Deus é todo misericórdia e seus braços estão sempre abertos para nos receber na glória; mas a divina Essência é tão pura - infinitamente mais pura do que podemos imaginar - que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas".

Essas manchas, a serem purificadas na outra vida, o que são? São os restos de apego exagerado às criaturas, ou seja, as imperfeições, e os pecados veniais, bem como a dívida temporal dos pecados mortais já perdoados no Sacramento da Reconciliação.

Tudo isso diminui na alma o amor de Deus.

Por causa dessas afeições desregradas se estabelece um estado de desordem em nosso interior, afastando- nos do Mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas.

Essa é a causa pela qual, antes de permitir a uma alma subir até a glória celestial, "a justiça de Deus exige uma pena proporcional que restabeleça a ordem perturbada" (Suma Teológica, Supl. q. 71, a. 1) E a alma se sujeita ao castigo do Purgatório com alegria, em plena conformidade com a vontade do Senhor.

Seu único desejo é ver-se limpa, para poder configurar-se com Cristo.

As almas nesse estado "purificamse", diz São Francisco de Sales, "voluntariamente, amorosamente, porque assim Deus o quer" e "porque estão certas de sua salvação, com uma esperança inigualável".

A pena do Purgatório

As dores infligidas nesse local de purificação são "tão intensas que a menor pena do Purgatório ultrapassa a maior desta vida" (Suma Teológica, Supl., q. 71, a. 2). Mesmo assim, pondera São Francisco de Sales, "o Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, pois as chamas nele existentes são chamas de amor".

Mas como entender que esse terrível sofrimento seja transpassado de amor? Na verdade, o maior tormento das almas do Purgatório - a "pena de dano" - é causado precisamente pelo amor. Essa pena consiste no adiamento da visão de Deus. Criado para amar e ser amado, o homem, ao abandonar esta terra, descobre a inefável beleza da Luz Divina e

deseja correr para Ela com todas as suas forças, como o cervo sedento corre em direção à fonte das águas. Contudo, vendo em si o defeito do pecado, fica privado temporariamente daquela presença tão pura.

Afastada, assim, d'Aquele que é a suprema e única felicidade, a alma sente um padecimento incalculável.

Para nós, que ainda somos peregrinos neste vale de lágrimas, é difícil entender a imensidade dessa dor. Vivemos sem ver a Deus, embora n'Ele creiamos. Somos como cegos de nascimento, pois nunca vimos o Sol de Justiça, que é Deus; embora sintamos seu calor, não podemos fazer idéia de seu resplendor e grandeza.

Entretanto, as almas benditas do Purgatório, logo após terem abandonado o corpo inerte, discerniram a inefável e puríssima beleza de Deus, mas não podem possuí-la imediatamente. Santa Catarina de Gênova usa uma expressiva metáfora para explicar essa dor: "Suponhamos que, no mundo inteiro, exista apenas um pão para matar a fome de todas as criaturas, e que basta olhar para esse pão para ficarem satisfeitas.

Por sua natureza, o homem saudável tem o instinto de se alimentar.

Imaginemos que ele seja capaz de se abster dos alimentos sem morrer, sem perder a força e a saúde, mas aumentando cada vez mais a fome.

Ora, sabendo que só aquele pão pode saciá-lo e que não poderá matar sua fome enquanto não o alcançar, ele sofre sacrifícios insuportáveis, os quais serão tanto maiores quanto mais longe ele estiver do pão".

Apesar de tudo, as almas do Purgatório têm a certeza de que um dia poderão se saciar de modo pleno com esse Pão da Vida, que é Jesus, nosso amor. E por isso seu sofrimento é em tudo diferente do tormento dos condenados ao Inferno, os quais nunca poderão se aproximar da Mesa do Reino dos Céus.

Esperança e desespero, eis a diferença fundamental entre esses dois lugares.


Disposição das almas no Purgatório

Por isso, há nas almas do Purgatório um matiz de alegria no meio da dor. De forma brilhante, explica- o o Papa João Paulo II, na alocução de 3 de julho de 1991: "Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, pois sabe que pertence para sempre ao seu Deus".

E Santa Catarina de Gênova afirma: "Estou certa de que em nenhum outro lugar, excetuando o Céu, o espírito pode achar uma paz semelhante à das almas do Purgatório".

Isso ocorre porque a alma se fixa na disposição em que se encontra na hora da morte, ou seja, contra ou a favor de Deus, pois a liberdade humana termina com a morte. E tendo falecido na amizade de Deus, a alma do Purgatório se adapta com docilidade à sua santa vontade. Daí conservar a paz em meio a terríveis sofrimentos. Dos lábios do

MAE DE MISERICORDIA.jpg

Maria, Mãe de Misericórdia, intercede por aquelas almas, que

estão à espera da liberação (Nossa Senhora do Purgatório,

Igreja de Santa Brígida, Montreal)

suavíssimo São Francisco de Sales ouvimos dizer que "entre o último suspiro e a eternidade, há um abismo de misericórdia".

Todos acham melhor fazer um esforço para evitá-lo. Outros, porém, sem se oporem aos anteriores, enfrentam o problema com uma ousada confiança no amor misericordioso do Senhor.

Santa Teresa de Jesus, por exemplo, diz com veemência: "Esforcemo- nos, fazendo penitência nesta vida. Como ser á suave a morte de quem a tiver feito por todos os seus pecados, e assim não precisar ir para o Purgatório!" Já sua discípula, Santa Teresinha do Menino Jesus, formula de modo surpreendente sua atitude, se nele caísse: "Se eu for para o Purgatório, ficarei muito contente; farei como os três hebreus na fornalha, caminharei entre as chamas cantando o cântico do amor".

Uma atitude não contradiz a outra, mas ambas se completam, e, mesmo se tivermos de passar por esse lugar tão doloroso, tenhamos uma confiança sem limites na bondade divina.

De qualquer modo, a Santa Igreja coloca maternalmente à nossa disposição as indulgências, para nos poupar das penas do Purgatório. Mas este tema pode ficar para outro artigo.

Ajudemos as almas benditas

Não devemos pensar só no nosso destino pessoal, mas também nos perguntarmos como podemos ajudar aquelas almas que já estão à espera da libertação. Elas não podem fazer nada por si, pois estão impossibilitadas de alcançar méritos, e dependem de nós. Interceder por elas é uma belíssima e valiosa obra de misericórdia: de certo modo, não há ninguém mais carente do que elas.

O costume de rezar pelas almas dos falecidos vem do Antigo Testamento.

Também diversos Padres da Igreja promoveram essa prática, como São Cirilo de Jerusalém, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. No século XIII, o Concílio de Lyon ensinava: "As almas são beneficiadas pelos sufrágios dos fiéis vivos, quer dizer, o sacrifício da Missa, as orações, esmolas e outras obras de piedade, as quais, segundo as leis da Igreja, os fiéis estão acostumados a oferecer uns pelos outros".

Como é bela a devoção às benditas almas do Purgatório! É agradável a Deus e nos beneficia também, levando-nos à verdadeira dimensão cristã da existência, fazendo-nos viver em contato e comunhão com o sobrenatural, e com o futuro, no sentido mais pleno da palavra. Como essas pobres almas nos ficarão agradecidas ao receber nosso auxílio! Poderão ser nossos parentes, ou até mesmo nossos pais. Poderá ser alguém que não conhecemos, e que nos dará uma afetuosa acolhida na eternidade. No Céu, e enquanto ainda estiverem no Purgatório, elas rezarão por nós, com todo o empenho, pois Deus lhes dá essa possibilidade.

Concluindo, gostaria de fazer ao prezado leitor uma proposta: reze por essas almas necessitadas, ofereça- lhes Missas, dê esmolas por elas, faça sacrifícios e consiga que outras pessoas se tornem devotas fervorosas das almas benditas.
Sabe quem será o maior beneficiado? Você mesmo!

Fontes documentais sobre o Purgatório

A doutrina católica sobre o Purgatório foi definida em especial no Concílio de Florença (1438-1445) e no de Trento (1545-1563), com base em textos da Escritura (2Mc 12,42-46; 1Cor 3,13-15) e da Tradição, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (n.1030-1031).

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, aborda a questão em seu número 50: "Orações pelos defuntos, culto dos santos".

Em sua solene profissão de fé intitulada Credo do Povo de Deus, feita em 30 de junho de 1968, o Papa Paulo VI inclui as almas "que se devem ainda purificar no fogo do Purgatório" (n. 28).

O Papa João Paulo II refere- se ao Purgatório em vários documentos: - Mensagem ao Cardeal Penitenciário-Mor de Roma, 20/3/98; - Carta ao Bispo de Autum, Châlon e Mâcon, Abade de Cluny, 2/6/98; - Audiência Geral de 22/7/98; - Audiência Geral de 4/8/99; - Mensagem à Superiora Geral do Instituto das Irmãs Mínimas de Nossa Senhora do Sufrágio, 2/9/2002.

(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2006, n. 59, p. 34 a 37)

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Do século IV em diante, as Igrejas do Oriente celebravam uma festa comum a todos os mártires da terra. Santo Efrém compôs, para esta circunstância, um hino em que se via que em Edessa aquela festa estava fixada no dia 13 de Maio.

TODOS OS SANTOS_6.jpgNa Síria, era celebrada na sexta-feira depois da Páscoa.

Numa homilia sobre os mártires, o grande São João Crisóstomo a ela se refere colocada no primeiro domingo depois de Pentecostes.

A festa dos Mártires de Toda a Terra, com o correr dos tempos, transformou-se na de Todos os Santos, instituída em honra da Bem-aventurada Mãe de Deus, a Virgem Maria, e dos santos mártires, pelo Papa Bonifácio IV, o pontífice Gregório IV, mais tarde, decretou que a festa, já celebrada de diferentes maneiras por diversas Igrejas, seria levada a efeito, com solenidade, em honra de todos os santos, perpetuamente.

A missa de Todos os Santos foi composta acidentalmente, mas é bela: O Introito de Santa Ágata, o Gradual de São Ciríaco, o Ofertório adaptado do de São Miguel alia-se à Alleluia e à Comunhão tirada dos textos evangélicos. O Evangelho é o das Beatitudes.

Quanto à colocação da festa a 1 de novembro, pensa-se quem como em todas as religiões as solenidades eram marcadas pelo ritmo das estações, que o cristianismo não tenha escapado a esta regra.

Entre os celtas, o 1 de novembro era dia de grandes solenidades. Foi a festa de Todos os Santos instituída para cristianizar as cerimônias tão queridas dos anglo-saxões e dos francos? Roma celebrava-a aos 13 de maio e somente a adotou a 1 de novembro depois que sofreu galicanas influências.

Rapidamente, a festa tornou-se popular, mais ainda quando completada com a comemoração dos fiéis defuntos.

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Que bela festa! É como se Todos os Santos e Finados fosse uma só festa. Dum lado, a Igreja militante, sobre a terra, roga à Igreja triunfante do céu, e doutro lado, roga pela Igreja sofredora e paciente do purgatório. E as três Igrejas são uma única Igreja.

A caridade, mais forte do que a morte, uniu-as do céu à terra, e da terra ao purgatório, E é pelo mesmo sacrifício que nós agradecemos a Deus, a glória com a qual cumula os santos do céu, e imploramos a misericórdia para os santos do purgatório, santos ainda não perfeitos.

Tal sacrifício é Jesus mesmo, que santifica, uns e outros, de quem esperamos a graça de nos santificar a nós mesmos. Assim, todos se reúnem em vós, ó Jesus! Somos felizes!

Eu vos saúdo, ó bem-aventurados amigos de Deus, santos de todos os séculos e de todos os lugares do mundo! Regozijamo-nos, e muito, de tão inumerável multidão de santos. Regozijamo-nos da benevolência de Deus, que vos tem no purgatório, misericordioso, e na glória, os que tem no céu: unimo-nos a vós para louvá-lo e bendizê-lo por todo o sempre. Uni-vos vós a nós também: assim podereis obter-nos da misericórdia de Deus a graça de vos imitar. Sabeis, pela experiência, o que somos nós, os homens: fracos, miseráveis, levados ao mal, cercados de perigos por todos os lados. E qual é nosso maior inimigo? Ah., nosso maior inimigo somos nós mesmos! Rezai, pois, pedi por nós, bons e santos irmãos, a fim de que, logo, sejamos como sois; a fim de que, como vós sejamos doces e humildes de coração; a fim de que, como vós, nos conheçamos a nós mesmos; rezai, pedi para TODOS OS SANTOS_4.jpgque saibamos carregar nossa cruz; para que sigamos o divino Mestre, até que, afinal, todos a vós nos reunamos, para amá-lo e bendizê-lo de todo o coração e para todo o sempre.

Considerai, ó almas, a grande, imensa profissão de santos que avança através dos séculos, da terra ao céu, que iremos engrossar, se Deus quiser.

O primeiro, aquele que rompe à frente, é o primeiro homem que foi morto sobre a terra - Abel. Abel, que Nosso Senhor mesmo canonizou, dando-lhe o nome de justo, no Evangelho. Foi Abel, a um só tempo, pastor, sacerdote e mártir.

Pastor de ovelhas, oferece-as, como sacerdote, em sacrifício a Deus. Ele, que imolava, foi imolado como mártir, por Caim, seu irmão. Embora morto, fala ainda pelo sangue. Símbolo de Jesus Cristo, é como o porta-cruz da grande procissão. E, do mesmo modo como se faz na procissão de domingo de Ramos, entrará na igreja do céu, quando Jesus Cristo, o sacerdote por excelência, abrir de par em par as portas da cruz, a sua cruz e, pelo sangue, o seu sangue. Símbolo de Jesus Cristo, pelo sacrifício e pela morte, ele o é ainda pelo caráter de ressurreição. Porque Eva nos ensina que Deus lhe deu Seth para ser substituto da primeira sociedade.

Depois de Abel, o primeiro justo, vem-lhe no encalço pai e mãe, nossos primeiros pais. Porque, logo que compreenderam a voz de Deus, Adão e Eva deixaram de ter duro o coração. Esperança, desde então, dos Filhos da mulher, que devia esmagar a cabeça da serpente, fizeram penitência das faltas e obtiveram o perdão. O Espírito Santo diz-nos, ele mesmo, na Escritura, que a Sabedoria, que é Jesus Cristo, que atende duma extremidade à outra com poder e a tudo com doçura dispõe, tira do pecado aquele que foi criado pelo pai do mundo e lhe dá a virtude de dominar todas as coisas.

Tais palavras, tiradas do livro da Sabedoria, são uma como canonização. Ainda hoje, as tradições orientais falam da longa penitência do primeiro homem.

Na ilha de Ceilão há uma alta montanha com o nome de Pico de Adão, onde se pretende que o primeiro homem chorou amargamente a falta através dos séculos, Uma tradição particular dos judeus quer que o velho Adão esteja sepultado em Jerusalém, no lugar mesmo onde o novo Adão reparou o mal das gentes. Afinal, no segundo século da era cristã, um espírito excessivo sustentou que Adão foi condenado, por toda a Igreja pelo erra que cometera.

A santa Escritura mesma, canonizou um dos primeiros ancestrais que vivia ainda: Henoc, pai de Matusalém. O livro dos Gênesis diz-nos: "Henoc caminhou com Deus."

O apóstolo São Judas dizia dos ímpios que blasfemavam contra o Evangelho: Henoc, o sétimo depois de Adão, dele profetizou, quando disse: Eis que vem o Senhor com os santos para exercer o julgamento de todos os homens, e tomar dentre eles todos os ímpios, ímpios de todas as impiedades e de todas as palavras duras que tais ímpios pecadores contra Ele proferiram.

São Paulo, o Doutor dos Gentios, disse, na Epístola aos hebreus: Pelo mérito da fé, Henoc foi elevado, para que não visse a morte; não mais foi visto, porque Deus o transportou alhures. Presume-se que para o paraíso, para um lugar de delícias, cheio dos frutos da arvora da vida, dos quais se alimenta.

Crê-se, geralmente, que no fim dos séculos, no fim do mundo cristão, Henoc virá como representante do mundo primitivo, com Elias, representante do mundo judaico, prestando testemunho do Cristo contra o inimigo capital.

Outro santo, do qual todos descendemos, aparece na procissão, na grande procissão: Noé, profeta e pregador do mundo antigo, pai e pontífice do mundo novo, que nos salvou do dilúvio por meio da arca, símbolo da Igreja católica. Foi canonizado. Vemo-lo no Gênesis, no livro da Sabedoria, no Eclesiástico, em São Pedro nas duas epístolas e em São Paulo na epístola aos hebreus.

São Pedro chama-o, na segunda epístola, o oitavo pregador da justiça, o que dá a entender que os outros oito ancestrais nossos, antes do dilúvio, pregaram também a justiça e a penitência.

Ao sair da arca, o segundo pai do gênero humano, como sacerdote, e pontífice, a Deus ofereceu um sacrifício - e Deus teve-o por agradável, dando a palavra de não mais amaldiçoar a terra e os homens, que deviam multiplicar-se.

Deus abençoou Noé e os três filhos: abençoou-os e, neles, todo o gênero humano e, neles, nós mesmos. Não só nos abençoou, quando os ancestrais abençoou, senão que fez conosco uma aliança, como com quem quer que eleve e da benção, dá-nos o arco-íris com as doces nuanças.

Há coisa mais consoladora ainda. Os contemporâneos de Noé perderam a vida do corpo no dilúvio: não encontraram, porém, a vida, a salvação da alma? São Pedro diz: "Com efeito, é melhor sofrer se Deus assim quiser, fazendo bem, que fazendo mal porque também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados, ele, justo, pelos injustos, para nos oferecer a Deus, sendo efetivamente morto segundo a carne, mas vivificado pelo Espírito. No qual ele também foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere, espíritos que outrora foram incrédulos, quando nos idas de Noé a paciência de Deus estava esperando a sua conversão, enquanto se fabricava a arca."

Os mais doutos e os mais célebres intérpetres entendem, de comum acordo, que os contemporâneos de Noé não acreditavam nas predições do TODOS OS SANTOS_5...............jpgdilúvio, estribados na paciência de Deus: quando, então, viram a realização das predições, o mar transbordando numa fúria incontida e as chuvas caindo em torrentes, creram e arrependeram-se.

O dilúvio destruiu-lhes os corpos, mas salvou-lhes as almas. Estavam todos detidos nas prisões do purgatório quando Jesus Cristo, morto na carne sobre a cruz, apareceu, no espírito - ou na alma - pregando-lhes, anunciando-lhes a boa-nova; era-lhes o Salvador. Findavam-se-lhes as penas, e, então, com os santos patriarcas, acompanhá-lo-iam na entrada triunfante no céu.

Ah! Quem não louvará a grande, imensa bondade de Deus, todo Ele votado à salvação das almas, para isto se servindo das mais terríveis calamidades, que lhe vem da justiça? Quem não votará a tão bom Pai a mais irrestrita confiança, vendo que os mesmos lhe haviam por tão longo tempo abusado da paciência, não se convertendo senão na última hora, não lhe imploraram em vão a misericórdia?

Atrás de Noé e dos Santos do primeiro mundo, vemos, na grande procissão, Abraão, Isaac, Jacó, Melquisedec, Jó, José, e os demais patriarcas: Moisés, Aarão, Josué, Eleazar, Gedeão, Samuel, Davi, Isaías, Daniel, os outros profetas, os Macabeus e todos os anciãos justos dos quais fala São Paulo aos hebreus, "que, pela fé, conquistaram reinos, consumaram os deveres da justiça e da virtude, receberam o prometido das promessas, fecharam a fauce dos leões, detiveram a violência do fogo, evitaram o fio das espadas, curaram-se de doenças, encheram-se de coragem e de força nos combates, pondo em fuga exércitos estrangeiros; mulheres houve, até, que recuperaram ressuscitados os mortos; uns foram torturados, não querendo o resgate, para alcançarem melhor ressurreição; outros sofreram ludíbrios e açoites e, além disso, cadeias e prisões; foram tentados, foram passados a fio de espada, andaram errantes, cobertos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, angustiados, aflitos; eles, de quem o mundo não era digno, tiveram de andar errando pelos desertos, pelos montes, pelas covas e pelas cavernas.

E todos esses louvados por Deus, com o testemunho prestado `sua fé, não receberam imediatamente o objeto da promessa, tendo deus disposto alguma coisa melhor para nós, a fim de que eles, sem nós, não obtivessem a perfeição da felicidade.

Por isso nós também, cercados por tão grande nuvem de testemunhas, deixando todo o peso que nos detém e o pecado que nos envolve, corramos com paciência na carreira que nos é proposta, pondo os olhos no autor e consumador da fé, Jesus, o qual, tendo-lhe sido proposto gozo, sofreu na cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus.

Em verdade não vos aproximastes do monte palpável e do fogo ardente, do turbilhão, da obscuridade, da tempestade, do som da trombeta, e daquela voz tão retumbante, que os que ouviram suplicaram não se lhes falasse mais.

Vós, porém, aproximaste-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, Da Jerusalém celeste e da multidão de muitos milhares de anjos, da igreja dos primogênitos, que estão inscritos o céu, e de Deus, juiz de todos, e dos espíritos dos justos perfeitos, e de Jesus, mediador da nova aliança, e da aspersão daquele sangue que fala melhor que o de Abel. Nestas palavras do Apóstolo vemos o conjunto da procissão, incluindo os anjos que vem atrás. A primeira parte espera que Jesus lhes abra a porta do céu, e, além num angélico cortejo, as criancinhas que por Ele morreram em Belém e nos arredores. Em seguida, lá está a santa Mãe. Ei-la, lindíssima, com os apóstolos, os mártires, as virgens, e a inumerável multidão de santos de todos os clãs, línguas, sexo, estados, de todos os séculos, de todos os países.

Não nos esqueçamos de saudar, na imensa procissão, os santos do país, de nosso tempo, de nosso família, porque não há família cristã que não tenha santos canonizados antecipadamente por Nosso Senhor. Não disse Ele aos apóstolos: Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino do céu? E então? Qual a família que não tem um pequenino morto, morto na graça do batismo? Lá estão todos no céu.

Perguntaram os apóstolos a Nosso Senhor: "Mestre, quem será grande no reino dos céus?" Jesus puxando para si uma criancinha, abraçou-a, terna, comovidamente, e respondeu: "Em verdade, em verdade vos digo, que se não vos converterdes nem vos fizerdes como esta criança, não entrareis no reino dos céus. Aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, esse será grande no reino celeste". Honremos, pois, esses pequenos santos de nossas famílias, esses grandes do eterno reino. Invoquemo-los mesmo, a fim de que nos obtenham a permissão de participar da grande, imensa, procissão. E que, saídos da terra, entremos no céu, na glória de Deus. Assim seja.

Comemoração dos Fiéis Defuntos

Vimos que a Igreja triunfante do céu, a Igreja militante da terra e a Igreja sofredora do purgatório, paciente, nada mais são que uma só e mesma Igreja; que a caridade, mais forte que a morte as uniu do céu à terra, e da terra ao purgatório. São como três partes duma só e mesma procissão de santos, procissão que avança da terra ao céu.

As almas do purgatório participarão daquela procissão um dia. Sim, porque ainda não tem, bem brancas, as vestimentasTODOS OS SANTOS.jpg de festa, a roupa nupcial ainda guarda nódoas, aquelas nódoas que somente o sofrimento limpa.

Vimos, então, como os contemporâneos de Noé, aqueles que não fizeram penitência senão no momento do dilúvio foram encerrados em prisões subterrâneas, até que Jesus Cristo lhes aparecesse, anunciando-lhes a libertação, quando de sua descida aos infernos.

Como os fiéis da Igreja triunfante, os fiéis da Igreja militante e os fiéis da Igreja sofredora e paciente, são membros dum mesmo corpo - que é Jesus Cristo - e tanto uns como outros participam, interessam-se, condoem-se da glória, dos perigos, dos sofrimentos duns e doutros, tal qual os membros do corpo humano. Vejamos um exemplo: o pé está em perigo de saúde ou sofre dores: todos os membros do corpo jazem em comoção. Os olhos olham-no, as mãos protegem-nos, a voz chama por socorro, para afastar o mal ou o perigo. Uma vez afastado o mal, regozijam-se todos os membros.

É o que acontece com o corpo vivo da Igreja universal. E vemos os heróis da Igreja militante, os ilustres Macabeus, assistidos pelos anjos de Deus e pelos santos de Deus, especialmente pelo grande sacerdote Onias e pelo profeta Jeremias, rogar e oferecer sacrifícios por esses irmãos que estavam mortos pela causa de Deus, mas culpados desta ou daquela falta.

No dia seguinte, depois duma vitória, Judas Macabeu e os seus surgiram para retirar os mortos e depositá-los no sepulcro dos antepassados e encontraram sobre as túnicas dos que estavam mortos coisas que haviam sido consagradas aos ídolos de Jamnia, que a lei proibia aos judeus tocar. Foi, pois, manifesto a todos que era por isso que haviam sido mortos. E todos louvaram o justo julgamento do Eterno, que descobre o que está escondido, e suplicaram-lhe que fosse esquecido o pecado cometido.

Judas exortou o povo a que se preservasse do pecado, tendo diante dos olhos o que viera pelo pecado dos que haviam sucumbido. E, depois de ter feito uma coleta, enviou a Jerusalém duas mil dracmas de prata, para que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado dos mortos, agindo muito bem, pensando que estava na ressurreição. Porque se não tivesse esperança de que os que vinham de sucumbir ressuscitassem um dia, seria supérfluo e tolo rogar pelos mortos.

Judas, porém, considerava que uma grande misericórdia estava reservada aos que estão adormecidos na piedade. Santo e piedoso pensamento! Foi por isso que ofereceu um sacrifício de expiação pelos defuntos, para que fossem livres dos pecados.

Tais são as palavras e reflexões da Escritura santa, segundo o texto grego, e as mesmas, mais ou menos, no latino.

Nosso Senhor mesmo adverte, bastante claramente, que há um purgatório, quando nos recomenda em São Mateis e São Lucas: "Conciliai-Vos com vossos inimigos (a lei de Deus e a consciência) enquanto estais em caminho para irdes ao príncipe, não seja que este iniPURGATORIO.jpgmigo vos entregue ao juiz, o juiz ao executor, e que sejais metido numa prisão. Em verdade vos digo, dela não saireis, enquanto não pagardes o último óbolo."

Segundo essas palavras, está bem claro que há uma prisão de Deus, onde se é arrojado por dívidas pras com sua justiça, e donde não se sai - senão quando tudo estiver pago.

Nosso Senhor, em São Mateus, disse-nos ainda: "Todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens, porém, a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada, nem neste século nem no futuro". Onde se vê que os outros pecados podem ser perdoados neste século e no futuro, como o livro dos Macabeus diz expressamente dos pecados daqueles que estavam mortos pela causa de Deus.

Do mesmo modo, no sacrifício da missa, a santa Igreja de Deus lembra os santos que com Ele reinam no céu, a fim de lhes agradecer pela glória e nos recomendar à sua intercessão. Doutro lado, suplica a deus que se lembre dos servidores e servidoras que nos precederam no outro mundo com a chancela da fé, dignando-se conceder-lhes a estadia no refrigério na luz e na paz.

A crença do purgatório e a oração pelos mortos acham-se em todos os doutores da Igreja, bem como nos ato dos mártires, notadamente nos atos de São Perpétuo, escritos por ele mesmo.

Todos os santos rogaram pelos mortos. Santo Odilon, abade de Cluny, no século XI, tinha um zelo particular pelo que dizia respeito ao refrigério das almas do purgatório. Foi movido pela compaixão, pensando no sofrimento das almas do purgatório que, adiantando-se à Igreja, ordenou se rogasse pelas almas, tendo, destinado para isso um dia especial. Eis como Santo Odilon animou tal instituição, começando pelas terras que lhes estavam afetas ao sacerdócio. (...)

Quanto ao purgatório, nada de certo se sabe. Eis porém, o que se lê nas revelações de Santa Francisca de Roma, revelações que a Igreja autoriza a crer, sem, entretanto, a elas nos obrigar.

Numa visão, a santa foi conduzida do inferno ao purgatório, que, igualmente está dividido em três zonas ou esferas, uma sobre a outra.

Ao entrar, Santa Francisca leu esta inscrição:

Aqui é o purgatório, lugar de esperança, onde se faz um intervalo.

A zona inferior é toda de fogo, diferente do inferno, que é negro e tenebroso. Este do purgatório tem chamas grandes, muito grandes e vermelhas. E as almas. Ali, são iluminadas, interiormente, pela graça. Porque conhecem a verdade, assim como a determinação do tempo.

Aqueles que tem pecado grave são enviados a este fogo pelos anjos, e aí ficam conforme a qualidade dos pecados que cometeram.

A santa dizia que, por cada pecado mortal não expiado, naquele fogo ficaria a alma por sete anos.

Embora nessa zona ou esfera inferior as chamas do fogo envolvam todas as almas, atormentam, todavia, umas mais que as outras, segundo sejam mais graves ou mais leves os pecados.

Fora esse lugar do purgatório, à esquerda, ficam os demônios que fizeram com que aquelas almas cometessem os pecados que agora expiam. Censuram-nas, mas não lhes infligem quaisquer outros tormentos.

Pobres almas! Fá-las sofrer mais, muito mais, a visão desses demônios do que o próprio fogo que as envolve. E, com tal sofrimento, gritam e choram, sem que, neste mundo, consiga alguém fazer uma idéia. Fazem-no, contudo, humildemente, porque sabem que o merecem, que a justiça divina está com a razão. São gritos como que afetuosos, e que lhes trazem certa consolação. Não que sejam afastadas do fogo. Não, a misericórdia de Deus, tocada por aquela SANTA FRANCISCA ROMANA..................jpgresignação, das almas sofredoras, lança-lhes um olhar favorável, olhar que lhes alivia o sofrimento e lhes deixa entrever a glória da bem-aventurança, para onde passarão.

Santa Francisca Romana viu um anjo glorioso conduzir aquele lugar a alma que lhe havia sido confiada, à guarda, e esperar do lado de fora, à direita. É que os sufrágios e as boas obras que os parentes, os amigos, ou quem quer que seja, lhes fazem especialmente por intenção da alma, movidos pela caridade, são apresentados, pelos anjos da guarda, à divina majestade. E os anjos, comunicando às almas o que por elas fazemos nós, aliviam-nas, alegram e confortam. Os sufrágios e as boas obras que fazem os amigos, por caridade, especialmente pelos amigos do purgatório, aproveita principalmente a quem os faz, por causa da caridade. E ganham as almas e ganhamos nós.

As orações, os sufrágios e as esmolas feitos caridosamente pelas almas que já estão na glória, e que já não necessitam, revertem às almas ainda necessitadas, aproveitando a nós também.

E os sufrágios que se fazem às almas que jazem no inferno? Não os aproveita nem uma nem outra - nem as do inferno, nem as do purgatório, mas unicamente a quem os faz.

A zona ou região média do purgatório está dividida em três partes: a primeira, cheia duma neve excessivamente fria; a segunda, de pez fundido, misturado a azeite em ebulição; a terceira, de certos metais fundidos, como ouro e prata, transparentes. Trinta e oito anjos aí recebem as almas que não cometeram pecados tão graves que mereçam a região inferior. Recebem-nas e transportam-nas dum lugar a outro com grande caridade: não lhe são os anjos da guarda, mas outros que, para tal, foram obrigados pela divina misericórdia.

Santa Francisca nada disse, ou não a autorizou a dizê-lo o superior, sobre a mais elevada região do purgatório.

Nos céus, os anjos fiéis tem sua hierarquia: três ordens e nove coros. As almas santas, que sobem da terra, ficam nos coros e nas ordens que Deus lhes indica, segundo os méritos. É uma festa para toda a milícia celeste, mais particularmente para o coro onde a alma santa deverá regozijar-se eternamente em Deus.

O que Santa Francisca viu na bondade de Deus a deixou profundamente impressionada, sem que pudesse falar da alegria que lhe ia no coração. Frequentemente, nos dias de festa, sobretudo depois da comunhão, quando meditava sobre o mistério do dia, o espírito, arrebatado ao céu, via o mesmo mistério celebrado pelos anjos e pelos santos.

Todas as visões que tinha, submetia-as Santa Francisca de Roma à Mãe, Santa Igreja. E, pela mesma mãe, a Igreja, foi Francisca canonizada, sem que nada de repreensível se achasse nas visões que tivera.

Nós, pois, vos saudamos, ó almas que vos purificais nas chamas do purgatório. Compartilhamos as vossas dores, os sofrimentos, principalmente daquela dor imensa e torturante de não poderdes ver a Deus.

Ai de nós! Sem dúvida que há entre vós parentes nossos e amigos: sofrerão, talvez por nossa culpa. Quem dirá que não lhes demos, nesta ou naquela ocasião, motivos de pecar? Falta-lhes pouco tempo para que se tornem inteiramente puras. Que nos acontecerá, a nós que tão pouco velamos por nós mesmos? Almas santas e sofredoras, que Deus nos livre de vos esquecer jamais!

Todos os dias, à missa e às orações, lembrar-nos-emos de vós todas. Lembrai-vos, pois, também de nós. Lembrai-vos, principalmente, quando estiverdes no céu. Como lá vos desejamos ver! Como no céu desejamos ver-nos convosco! Assim seja.

(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p.111 à 118 e 129 à 137)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os Santos, Maria, Imagens e Idolatria


Os Santos, Maria, Imagens e Idolatria
alguns esclarecimentos...
1. Apresentação.
Entre os dias 17 e 30 de outubro de 1717, no rio Paraíba, apareceu, isto é, foi achada por três
pescadores, uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, que se tornou objeto de devoção do
povo daquela região. O nome popular dado à imagem pelo povo foi “Nossa Senhora Aparecida”.
A devoção a Nossa Senhora Aparecida se espalhou pelo Brasil atraindo peregrinos de todos os
recantos da Pátria. Em 1917 a imagem foi coroada solenemente no jubileu de 200 anos do seu encontro.
Em 1930 a Senhora da Conceição, com o título de Aparecida, foi declarada Padroeira do Brasil.
O povo desde cedo percebeu que a devoção Mariana, mais que rezar à Maria, consiste em rezar
com Maria. Ela faz parte do Evangelho e toma parte no mistério da encarnação do Filho de Deus como
serva, na qual se cumpre a vontade de Deus. Em seu santuário na cidade de Aparecida, SP, a afluência
do povo nunca cessou e o povo brasileiro ali recorda os benefícios recebidos com a invocação da Mãe de
Deus.
Nossa Arquidiocese de Campinas, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição, celebra com
devoção esta data de 12 de outubro a ela dedicada em nosso calendário litúrgico.
Este texto que hoje colocamos em tuas mãos, foi elaborado pelo Cônego Pedro Carlos Cipolini,
Padre de nosso clero, Doutor em Teologia e Professor Titular na PUC-Campinas, por solicitação da
Coordenação Colegiada de Pastoral da Arquidiocese.
A todos que trabalham para esta festa de Nossa Senhora e aos fiéis que dela participam meu
agradecimento e minha bênção.
+ Dom Bruno Gamberini
Arcebispo Metropolitano de Campinas
2. Na comunhão dos Santos louvamos Maria, a Mãe de Jesus.
Devoção aos Santos
A Bíblia nos ensina que Deus é três vezes santo, só ele é santo. Deus, porém, comunica a santidade,
é um Deus santificador e deseja um povo santo: “Sede santos, porque eu, Javé, sou santo” (Levítico
19,2;20,26). A santidade de Jesus é idêntica à de seu Pai Santo (João 17,11). Jesus santifica os cristãos,
o Espírito Santo é o agente santificador dos cristãos. Jesus vai recomendar: “Sede perfeitos como vosso
Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48). Portanto, a santidade é vocação de todo cristão: “A vontade de
Deus é esta: a vossa santificação” (1Tesssalonicenses 4,3).
Ser santo é cumprir a vontade de Deus em nossa vida. Santos são, portanto, todos aqueles que
vivem o Evangelho e de forma toda especial os que já se encontram hoje na casa do Pai. Os santos não
ocupam o lugar de Deus, não são inventados pelos homens, não são deuses, mas criaturas de Deus, a
quem Deus privilegiou com um amor especial e viu este amor ser correspondido. Eles só são
reconhecidos como santos porque foram amigos íntimos do único Deus que os santificou. Os santos são
heróis da fé vivida no amor, fé no único Deus verdadeiro, o Deus revelado em Jesus Cristo.
Nenhum católico adora os santos, mas os respeita e venera como amigos de Deus. Este respeito e
veneração vêm da fé na ressurreição, pois os que morrem no Senhor estão com Ele. Vem da fé na
“comunhão dos santos”: os santos intercedem por nós diante de Deus. A Bíblia nos mostra que Deus
opera milagres pela intercessão dos santos. Um exemplo é a cura do coxo de nascença operada por são
Pedro e são João junto à porta do Templo: “Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho isto te dou.
Em nome de Jesus Cristo Nazareno levanta-te e anda” (Atos 3,1-9). E a Bíblia apresenta outros inúmeros
exemplos afirmando que “Deus fazia não poucos prodígios por meio de Paulo” (Atos 19,11-12). Jesus é
nosso único mediador entre Deus e os Homens e Ele disse: “O Pai dará a vocês tudo o que pedirdes em
meu nome” (João 15,16).
Um santo só opera em nome de Jesus porque só em Jesus está a fonte da graça e da força de Deus.
Os santos não estão em oposição ao Senhor. Ao contrário, colocam em evidência a glória e santidade de
Jesus Cristo, cabeça da Igreja e nosso único salvador. Pois foi Jesus mesmo quem afirmou: “Eu garanto a
vocês: quem crer em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas, porque eu vou para o
Pai” (João 14,12). Ninguém pode ser santificado sem entregar sua vida por Jesus e pelos irmãos. Honrar
um santo significa reconhecer a força transformadora da Palavra de Deus que santifica quem a aceita e
coloca em prática.
O santo é para os cristãos um exemplo de quem testemunhou sua fé no seguimento de Jesus. Nós
católicos temos a alegria de abrir nosso álbum de família - a nossa família na fé - e contemplarmos uma
fileira de heróis na fé, os santos, nossos irmãos e amigos que conseguiram servir a Deus com fidelidade e
junto de Deus pedem por nós.
Santos e santas, rogai a Deus por nós!
Devoção a Maria, Mãe de Deus
Entre os santos de Deus está em primeiro lugar Maria, a mãe de Jesus (Mateus 2,1; Marcos 3,32;
Lucas 2,48; João 19,25). É, portanto, com a Bíblia na mão que louvamos Maria chamando-a de bemaventurada.
Nós cristãos católicos veneramos Maria porque Deus a escolheu para ser a mãe de seu filho
Jesus, nosso único redentor e salvador. O culto a Maria está fundado na Palavra de Deus, que afirma:
“Isabel cheia do Espírito Santo exclamou: bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu
ventre... Bem-aventurada aquela que acreditou porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu”
(Lucas 1,41-42;45). Se o Espírito Santo inspira Isabel para reconhecer Maria como Bem-aventurada,
recusar fazê-lo não seria contradizer a inspiração do Espírito de Deus?
Maria recebeu de Deus a plenitude da graça e por esta razão é saudada pelo Anjo como “cheia de
graça” (Lucas 1,28). A mesma Maria, reconhecendo sua pequenez de serva agraciada por Deus
reconhece: “Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lucas 1,48). Durante toda sua vida,
até a última provação, quando Jesus seu filho morre na cruz diante dela, sua fé não vacilou, Maria não
cessou de crer no cumprimento da Palavra, das promessas de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a
realização mais pura da fé (CIC 149). Nós amamos o Filho de Maria, Jesus Cristo, “autor e consumador
da fé” (Hebreus 12,2). Devemos, portanto, amar sua mãe, sua fiel discípula, a primeira que nele
acreditou, dando sua adesão ao plano de Deus, quando o Anjo lhe anunciou que seria mãe do Salvador.
A devoção à Virgem Maria é “intrínseca ao culto cristão” (Vaticano II - LG 62). Porém, o culto a
Maria, mesmo sendo inteiramente singular, difere essencialmente do culto que se presta à Santíssima
Trindade. Ao Deus uno e Trino Pai, Filho e Espírito Santo, nós adoramos. Enquanto a Maria nós
veneramos. Este culto de veneração toda especial a Maria se justifica porque ela é reconhecida como
Mãe de Jesus, o Filho de Deus, e antes do seu nascimento Maria é saudada como “a Mãe do meu
Senhor” (Lucas 1,43). O Concílio de Éfeso, no ano de 431, reconheceu Maria como Mãe de Deus: Mãe de
Jesus, Deus encarnado. Por isso a Igreja assim a venera com especial devoção.
Para Maria damos inúmeros títulos: Nossa Senhora das Graças, de Lourdes, Aparecida, Fátima, do
Carmo, da Penha... Mas é sempre a mesma Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus que a Bíblia nos apresenta
toda de Deus (Lucas 1,38); toda do povo (Lucas 1,39.52-53.56); orando com a Igreja (Atos 1,14). Foi
Jesus que, morrendo na cruz, entregou sua mãe à Igreja na pessoa do discípulo João, que junto com
Maria estava aos pés da cruz: “Eis aí tua mãe” (João 19,27). E o discípulo a levou para sua casa. A casa
do discípulo nós sabemos é a comunidade, a Igreja. Maria é, portanto, presença materna na comunidade
dos que acreditam em Jesus.
O exemplo de Maria não afasta de Jesus, pelo contrário, arrasta a humanidade para a adoração de
seu Filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2,5). Eis o que nos ensina Maria, é sua última palavra
na Bíblia, é seu testamento. Maria faz eco à palavra do Pai quando da transfiguração de Jesus: “Este é o
meu filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz” (Mateus 17,5). Concluímos que o culto a
Maria é bíblico, nele não há idolatria. A devoção a Maria nos leva a Jesus, à comunhão com Ele, Jesus é a
meta de toda devoção Mariana. A alegria de Maria é que aceitemos e sigamos Jesus como assim ela fez.
Maria não é o centro da fé, o centro é Jesus. Porém Maria faz parte do centro da fé porque faz parte
de forma única da vida de Jesus. Mãe e Filho estão ligados no plano de Deus e não podem ser separados,
não se pode reconhecer o Filho e não reconhecer a Mãe. Aceitemos a vontade de Deus, aceitemos o
presente que Ele nos dá: MARIA.
Imagens e idolatria
Muitos se perguntam: Os católicos adoram imagens? A resposta é: Não! Nunca as adoraram,
sempre as valorizaram. As imagens valem o que vale uma foto, ela pode estar gasta, mas recorda um
ente querido. Os católicos não adoram imagens. Somente as utilizam para lembrar de alguém que é
maior e a isso se chama de veneração e não de adoração. O sentido das imagens católicas está na
linha da serpente de bronze que Deus mandou Moisés esculpir (Números 21,8-9), segundo a explicação
dada em Sabedoria 16,7: “e quem se voltava para ele (o sinal da serpente), era salvo, não em virtude do
que via, mas graças a Ti ó Salvador de todos”.
a) Imagens permitidas na Bíblia.
A Bíblia apresenta muitas vezes o mistério de Deus através de imagens e a primeira imagem quem
a fez foi o próprio Deus ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança (Gênesis 1,27;2,7). O mesmo
Deus manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Êxodo 25,18-
20). Manda Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imagens de querubins, palmas, flores, bois e
leões (1Reis 6,23-35 e 7,29). O Novo Testamento também apresenta o mistério de Deus através de
imagens: a imagem de Jesus como cordeiro digno de receber a força e o louvor (Apocalipse 5,12).
Quando do batismo de Jesus o Espírito Santo é apresentado em forma de pomba (Mateus 3,16) e no dia
de Pentecostes como línguas de fogo (Atos 2,1-3).
Jesus mesmo ensinava através de imagens: “Eu sou o bom pastor” (João 10,14). Os primeiros
cristãos vão representar Jesus desenhando um Bom Pastor com a ovelha nos ombros. Olhando esta
imagem eles não adoravam um pastor, mas pensavam na ternura de Deus que em Jesus, busca a ovelha
perdida. Representar algo por imagem ou símbolo era comum na Igreja primitiva, sobretudo em tempo
de perseguição. Por muito tempo, as pinturas dos santos e de cenas bíblicas nas Igrejas foram o único
‘livro’ que os cristãos mais simples puderam ler e entender.
b) Imagens proibidas na Bíblia, idolatria.
Mas a Bíblia então não proíbe as imagens? Sim, proíbe quando sua finalidade é servir à idolatria:
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses
diante de minha face. Não farás para ti escultura alguma do que está em cima dos céus, ou abaixo sobre
a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles e não lhes prestarás culto” (Êxodo
20,2-5). Em várias passagens bíblicas se repete esta proibição de não adorar outros deuses e nem fazer
deuses fundidos (Êxodo 34,14-17; Deuteronômio 7,5).
Podemos perceber como na Bíblia ídolo designa imagem feita para ser adorada como deus, como
faziam os pagãos com suas divindades. Para os judeus as imagens dos deuses são os próprios deuses
pagãos. Os povos vizinhos dos judeus acreditavam em muitos deuses e faziam imagens deles.
Geralmente estes deuses, criados pelo próprio homem, serviam de apoio ao sistema injusto e cruel que
maltratava o povo, em especial os pobres. Em Israel não se podia fazer imagem de Deus, não se podia
imaginar como Deus era, pois Ele é invisível e ninguém nunca o tinha visto. Do Deus verdadeiro não se
faz imagens, pois, todas as imagens são inadequadas para Javé. Dos falsos deuses se faziam imagens
que eram chamadas de ídolos, eram rivais de Javé. Idolatria é a exclusão do Deus verdadeiro
substituindo-o por um falso Deus.
O ídolo estava sempre ligado a um sistema de corrupção e opressão, levando a sociedade à divisão
e à guerra por causa da ganância pela terra, bens materiais e dinheiro, pela fama, prazer e pelo poder.
Estes sim os verdadeiros ídolos que afastam a pessoa do Deus verdadeiro, competindo com Ele no
coração (cf. Mateus 4,1-10; Lucas 4,1-12).
Portanto:
Deus parece, mas não é incoerente, já que num lugar da Bíblia manda fazer imagens e noutro lugar
o teria proibido. A imagem, hoje mais que nunca, faz parte da linguagem humana, é representação de
pessoa, coisa, idéia. A Bíblia fala de imagens algumas vezes para denunciar a idolatria, outras vezes para
mostrar o quanto a imagem é necessária para entendermos, por meio do Filho, o próprio Pai: “Ele (Jesus)
é a imagem do Deus invisível...” (Colossenses 1,15).
Os primeiros cristãos martirizados aos milhares porque se recusaram a adorar imagens de deuses
falsos, estudaram a Bíblia com atenção. Eles não tiravam esses textos que proíbem imagens de seu
contexto. Comparando-os com outros textos bíblicos, ficaram convencidos de que Deus proíbe imagens
de deuses falsos, adoração de ídolos que representam falsos valores, os quais induzem ao pecado. É o
que faziam os povos vizinhos de Israel. Mas Deus não proíbe fazer outras imagens que contribuem para
exaltar sua glória e poder. Por isso o II Concílio de Nicéia no ano de 787 defende a veneração das
imagens (pintura e escultura) de santos, pelos cristãos e o uso de símbolos nas celebrações litúrgicas.
O mesmo fez o Concílio Vaticano II mantendo o culto às imagens conforme a tradição (LG 67),
contanto que sejam em número comedido e na ordem devida (SC 125).
Oração
Ó Deus, todo poderoso. Ao rendermos culto à Imaculada Conceição de Maria, a Mãe do Vosso Filho Jesus
e Senhora nossa, concedei que o povo brasileiro, fiel à sua vocação e vivendo na paz e na justiça, possa
chegar um dia à Pátria Definitiva. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, Vos pedimos, a Vós que
viveis e reinais para sempre, na Unidade do Espírito Santo. Amém.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O PURGATÓRIO NA BIBLIA



O PURGATÓRIO NA BIBLIA
Arquivado em: Purgatório — Prof. Felipe Aquino at 5:41 pm on sexta-feira, outubro 26, 2007

Muitos me perguntam onde está na Bíblia o Purgatório? Ele é uma exigência da razão e mesmo da caridade de Deus por nós. A palavra “Purgatório” não existe na Bíblia, foi criada pela Igreja, mas a realidade, o “conceito doutrinário” deste estado de purificação existe amplamente na Sagrada Escritura como vamos ver. A Igreja não tem dúvida desta realidade por isso, desde o primeiro século reza pelo sufrágio das almas do Purgatório.

1 - São Gregório Magno (†604), Papa e doutor da Igreja, explicava o Purgatório a partir de uma palavra de Jesus: “No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,31). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (Dial. 41,3). O pecado contra o Espírito Santo, ou seja a pessoa que recusa de todas as maneiras os caminhos da salvação, não será perdoado nem neste mundo, nem no mundo futuro. Mostra o Senhor Jesus, então, neste trecho, implicitamente, que há pecados que serão perdoados no mundo futuro, após a morte.

2 - O ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus do Antigo Testamento; cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. “Então encontraram debaixo da túnica de cada um dos mortos objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisas proibidas pela Lei dos judeus. Ficou assim evidente a todos que haviam tombado por aquele motivos… puseram-me em oração, implorando que o pecado cometido encontrasse completo perdão… Depois [Judas] ajuntou, numa coleta individual, cerca de duas mil dracmas de prata, que enviou a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício propiciatório. Com ação tão bela e nobre ele tinha em consideração a ressurreição, porque, se não cresse na ressurreição dos mortos, teria sido coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Além disso, considerava a magnífica recompensa que está reservada àqueles que adormecem com sentimentos de piedade. Santo e pio pensamento! Por isso, mandou oferecer o sacrifício expiatório, para que os mortos fossem absolvidos do pecado” (2Mc 12,39-45).

O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s) .Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Cometeram uma falta que não foi mortal.

Fica claro no texto de Macabeus que os judeus oravam pelos seus mortos e por eles ofereciam sacrifícios, e que os sacerdotes hebreus já naquele tempo aceitavam e ofereciam sacrifícios em expiação dos pecados dos falecidos e que esta prática estava apoiada sobre a crença na ressurreição dos mortos. E como o livro dos Macabeus pertence ao cânon dos livros inspirados, aqui também está uma base bíblica para a crença no Purgatório e para a oração em favor dos mortos.

3 - Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E S. Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.

4 - Na passagem de Mc 3,29, também há uma imagem nítida do Purgatório:”Mas, se o tal administrador imaginar consigo: ‘Meu senhor tardará a vir’. E começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar (…) e o mandará ao destino dos infiéis. O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes.” (Lc 12,45-48). É uma referência clara ao que a Igreja chama de Purgatório. Após a morte, portanto, há um “estado” onde os “pouco fiéis” haverão de ser purificados.

5 - Outra passagem bíblica que dá margem a pensar no Purgatório é a de (Lc 12,58-59): “Ora, quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível para entrar em acordo com ele pelo caminho, a fim de que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo.”

O Senhor Jesus ensina que devemos sempre entrar “em acordo” com o próximo, pois caso contrário, ao fim da vida seremos entregues ao juiz (Deus), nos colocará na “prisão” (Purgatório); dali não sairemos até termos pago à justiça divina toda nossa dívida, “até o último centavo”. Mas um dia haveremos de sair. A condenação neste caso não é eterna. A mesma parábola está´ em Mt 5, 22-26: “Assume logo uma atitude reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo” . A chave deste ensinamento se encontra na conclusão deste discurso de Jesus: “serás lançado na prisão”, e dali não se sai “enquanto não pagar o último centavo”.

6 - A Passagem de São Pedro 1Pe 3,18-19; 4,6, indica-nos também a realidade do Purgatório:”Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados (…) padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos na prisão, aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes (…).” Nesta “prisão” ou “limbo” dos antepassados, onde os espíritos dos antigos estavam presos, e onde Jesus Cristo foi pregar durante o Sábado Santo, a Igreja viu uma figura do Purgatório. O texto indica que Cristo foi pregar “àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. Temos, portanto, um “estado” onde as almas dos antepassados aguardavam a salvação. Não é um lugar de tormento eterno, mas também não é um lugar de alegria eterna na presença de Deus, não é o céu. È um “lugar” onde os espíritos aguardavam a salvação e purificação comunicada pelo próprio Cristo.

Do livro: Purgatório. O que a Igreja ensina.

Prof. Felipe Aquino - www.cleofas.comb.br

Maria na História da Salvação


Maria na História da Salvação
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"Os livros do Antigo e do Novo Testamento e a tradição mostram, o modo que se vai tomando cada vez mais claro, e colocam, diante dos nossos olhos a função da Mãe do Salvador na Economia da Salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da Salvação, que a passos lentos, a vinda de Cristo ao Mundo. Estes primeiros documentos, tais como são lidos na igreja e entendidos à luz da Revelação Completa, iluminam pouco a pouco, sempre com amor clareza, a figura de uma mulher, a da Mãe do Redentor". (LG 55)

· Ao longo do Antigo Testamento conhecemos Maria profeticamente esboçada na longa espera da promessa que termina quando os tempos atingem sua plenitude, e o filho de Deus assume dela a natureza humana para nos salvar. Deus previu de longe a Virgem Maria, e a preparou, esboçando alguns traços de sua fisionomia, de modo que, considerando alguns textos do Antigo Testamento, vemos que nele estava latente o que se tornou presente no novo. Jesus e Maria estão prefigurados por outras pessoas e por profecias narradas no Antigo Testamento. Deus em um ato de amorosa condescendência, quis fazer conhecer e amar pêlos homens a Sua Mãe Santíssima, mesmo antes que ela tocasse a terra com seus pés imaculados. Não se pode negar que Maria tem seu papel singular na História da Salvação da humanidade, Assim todos os povos, que ansiavam pela salvação, estiveram `a espera de Jesus como de Maria, Mãe universal do Criador e das criaturas. Maria pertence, ao mesmo tempo, à Antiga e à Nova Aliança: Ela encerra o Antigo Testamento e abre o Novo, inaugurando a plenitude dos tempos. Ela une o povo de Israel ao Salvador esperado, pois o Antigo Testamento não é senão uma longa expectativa do Salvador. Através dos anseios dos Patriarcas e dos Profetas, sentimos a presença de Maria delineada, esboçada, cada vez mais nítida e precisamente. Maria assim resume e encarna a longa preparação de vinte séculos, que precederam a vinda do Messias. O povo de Israel fora escolhido por Deus para ser o instrumento de Seus planos em relação aos outros povos. Em Maria, filha do povo de Israel verdadeiramente fiel ao pensamento de Deus e ao Seu apelo, o amor de Deus vai realizar-se no seu desígnio de Salvação universal. Escreve o Pe. Daniélou: "Ela não é somente a filha de Israel, mas aquela por quem a raça de Israel se projeta sobre a humanidade inteira, pois ela é tanto filha de Abraão quanto filha de Davi, e ao mesmo tempo, Mãe da Divina Graça, mediadora universal, Mãe do gênero humano... é Aquela que aceitou não ser somente judia; consentiu que seu coração se dilatasse até os limites do mundo...Ao fim da história de Israel, a Virgem Maria é verdadeiramente o êxito perfeito do que Deus tinha Querido realizar." O plano divino da Salvação, que nos foi revelado plenamente com a vinda de Cristo "compreende em si todos os homens, mas reserva um lugar singular à mulher que foi a Mãe daquele ao qual o Pai confiou a obra da Salvação "(S. João Damasceno) . Diz João Paulo II na sua Carta Encíclica "Redemptoris Mater', que "A Mãe do Redentor tem um lugar bem preciso plano da Salvação porque ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei para que recebêssemos a adoção de Filhos"(Gl 4,4-6). Maria é assim a mulher da qual nasceu Redentor e a nossa filiação divina. No momento em que o Espírito Santo plasmou no seio da Virgem Maria a natureza humana de Cristo, o Verbo Eterno, que estava junto do Pai entra no tempo, e o tempo se toma "tempo de Salvação". Assim é que Cristo e Maria Santíssima se tornam indissoluvelmente ligados na história da nossa Salvação. Nossa Senhora é como uma carta de Deus para a humanidade, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus, não em tábuas de pedra, mas em tábua de carne, usando as palavras de São Paulo à igreja de Corinto (II Cor 3,2-3). A comparação é muito justa, pois Maria é Mãe de toda a Igreja e Modelo para todos os Cristãos. Ninguém como ela acolheu a palavra de Deus e a pôs em pratica tão fielmente. Devemos ler esta carta que é Maria, trilhar um caminho de escuta e de obediência à palavra de Deus, por uma docilidade ao Espírito Santo.

Alguns têm afirmado ser supérflua a devoção à Nossa Senhora, e alegam a verdade de que Deus, sendo onipotente, poderia salvar a humanidade sem Maria. De fato Deus, em Sua onipotência, poderia nos salvar até sem a Encarnação do Seu Filho, mas foi justamente usando Sua onipotência que Ele livremente, decidiu fazê-lo deste modo. ASSIM E POR LIVRE DECISÃO DIVINA, Nossa Senhora tem um lugar bem preciso na História da Salvação de toda a humanidade. No Seu Amor e Sabedoria, o Pai realmente decidiu colocar Maria dentro do Mistério de nossa Salvação.

O NOME DE DEUS


O NOME DE DEUS
01. No antigo Oriente Médio, o nome não é uma simples etiqueta estranha à realidade, mero
fruto de uma convenção de um grupo ou um povo, mas é considerado como misteriosamente
relacionado com a realidade a que se refere. Por isso, dar nome a algo (pessoa, lugar etc.) é
determinar o seu sentido ou destino (cf. Is 9,5; 2Sm 7,9; 8,13; 1Rs 1,47). Quando Deus muda o
nome de Abrão e Jacó (Gn 17,5; 32,39; 35,10) é para eles numa nova vida que começa.
02. Para falar de Deus, a Bíblia hebraica utiliza diversos vocábulos[i]. Isto mostra que Deus
sempre é considerado como uma pessoa, e não uma força ou energia informe. Deus revela o
seu nome porque deseja, antes de tudo, se tornar acessível a nós, colocando-se em relação
conosco, e a partir daí, respeitando o seu interlocutor, manifestar paulatinamente quem Ele é
em sua vida íntima, sua essência[ii].
a) El designa, de modo geral, a divindade entre os povos semitas, com exceção dos etíopes.
Seu significado originário é incerto (“ser forte”, “estar à frente” ou “em direção de”). El recorre
cerca de 240 vezes no AT, em quase todos os extratos (dos mais antigos aos mais recentes).
Aparece em formas compostas distintas: nomes de pessoas e localidades (Ismael, Betel etc.),
e também nos apelativos divinos relacionados a experiências sobretudo patriarcais: ‘El-‘Elyôn
(Deus Altíssimo: Gn 14,19-22); ‘El-Shaddáj (Gn 17,1; sua tradução exata é incerta; “Deus
Todo-poderoso” é a mais comum, mas inexata; “seria preferível entender como ‘Deus da
Estepe’”[iii]); ‘El-‘Ôlam (Deus eterno: Gn 21,23); ‘El-Betel (Deus de Betel [= casa de Deus]: Gn
35,7); ‘El-roi (Deus que me vê: Gn 16,13); etc. Eloah é forma derivada de El. Ocorre 57 vezes
no AT (cf. Jó).
b) Elohím (com ou sem artigo), que se traduz em geral por “Deus” – forma paralela à de El que
aparece cerca de 2.600 vezes no AT, impondo-se a partir dos séculos IX-VIII a.C. Para alguns
seria um plural intensivo de El. Assumindo e amadurecendo no tempo a língua de Canaã,
Israel carrega este nome com toda a intensidade e originalidade de sua experiência religiosa;
Elohim é Deus com toda a sua força.
c) Iahweh (Javé), nome próprio do Deus de Israel (Deus de Abraão, Isaac e Jacó), que pode
ser traduzido por “o Senhor” ou “o Eterno”. É usado 6.830 vezes no Antigo Testamento (seção
hebraica). IHWH é o único Elohim (Deus) para todos os povos (cf. Sl 58,12: “Existe um Deus
que faz justiça sobre a terra”; 1Rs 8,60), afirmação que é explícita em Dt 4,35.39, mas que se
imporá somente no século VI a.C. (cf. Is 43,10s; 44,6; 45,5; etc.)[iv]. A expressão “Yahweh
Seba’oth” é freqüente na Bíblia, especialmente entre os profetas. Significa “o Senhor dos
exércitos”. Seba’oth compreende todos os seres que no céu e na terra estão a serviço de
Deus, o que a versão grega (LXX) traduziu por Pantokrátor (“Todo-poderoso”: Jz 5,20; Sl
18,8-16; Js 10,10-15; Jó 38,7).
O redator final do Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt) nos apresenta uma evolução nesta
revelação do nome divino: primeiro Deus é conhecido como Elohim (Gn 9,6), depois ele se
revela aos patriarcas como El Shaddai (Gn 17,1; 28,3; etc.) e por fim a Moisés sob o seu nome
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O nome de Deus
de Javé (Êx 6,2s).
03. O tetragrama YHWH (cf. Fílon de Alexandria, filósofo judeu-helenista, +50 d.C., De vita
Moysis, 1.2, § 115.132) é, na Bíblia hebraica, o nome próprio do Deus de Israel, confirmado a
Moisés na sarça ardente (Êx 3,13-15) – mas já conhecido antes, segundo a tradição de Gn
4,26 (Enós, filho de Set, teria sido “o primeiro a invocar o nome de Iahweh”). Moisés desejava
saber o que dizer se interrogado sobre o nome divino (“Qual é o seu nome?” – v. 13); recebe 3
respostas:
a) a mais antiga – e a única que de fato responde à pergunta – é a do v. 15: “Iahweh, o Deus
de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó me enviou até vós. Este
é o meu nome para sempre”;
b) essa resposta é comentada no v. 14b: “EU SEREI (‘èhyèh) me enviou até vós” – a frase
sugere uma etimologia do nome de Javé, aproximada de uma forma do verbo hayah, “ser”;
c) a fórmula célebre do v. 14a (‘èhyèh ‘ashèr ‘èhyèh, “Eu serei quem serei” ou “Serei, sim,
serei”; ou “Eu sou aquele que é contigo”, “Ele está [quer estar] aqui”), enfim, desenvolve a idéia
do v. 14b. O autor não pôde visar uma definição de Deus em sentido abstrato (“Ser”), pois isto
não acontecia em Israel; o verbo hayah é dinâmico, no sentido de “ser ativo”, “ser para”, “ser
com”. Assim, em Êx 3,14 ecoa o compromisso de uma presença fiel e ativa de Javé para com
seu povo[v].
04. O nome do Deus de Israel conhece duas formas: a forma longa (YHWH) e as formas
curtas, possivelmente variantes ortográficas: YH (Ex 15,2; Is 38,11; Sl 94,7.12) e YHW (em
aclamações litúrgicas como “Hallelu Yah” = “louvai Yah”: Sl 104,35; 106,1). A forma longa
(YHWH) se encontra nos textos mais antigos da Bíblia, como também na estela de Mesha
(Moab, séc. IX), nas inscrições de Kuntillet-Ajrud (norte do Sinai, séc. IX-VIII), numa tumba de
Khirbet El-Qom (séc. VIII) e nas cartas de Lakish (séc. VII). Talvez o nome remonte a uma
época em que os seminômades pré-israelitas ainda não se tinham separado de outras
populações semelhantes[vi] - todavia aos poucos o povo descobre que não há outro Deus além
de YHWH.
05. O texto hebraico antigo não era vocalizado (com vogais), por isso a tradição se baseou nas
transcrições gregas (iabè, iaouè) de Epifânio de Salamina (+403 d.C.) e de Teodoreto de Ciro
(+ 458 d.C.; cf. PG 80:244) para reconstruir a pronúncia do Nome (Yahweh, “Javé”). Outras
transcrições mais antigas (de S. Clemente de Alexandria, + 215 d.C., e Orígenes, + 253 d.C.)
sugerem a leitura “Yahwô” ou “Yahûh”.
06. Na tradução grega do Antigo Testamento (a versão dos LXX), Elohim é traduzido por hó
theós (Deus), enquanto que YHWH é vertido por kýrios (o Senhor) ou por kýrios hó theós (o
Senhor Deus). Essa tradução é significativa da atitude do judaísmo, que, sobretudo a partir do
séc. III (ou IV) a.C. – ou seja, após o exílio na Babilônia (587-538 a.C.) –, se recusa a
pronunciar o nome “três vezes santo”, para não lhe faltar ao respeito; era tido como “o nome
que se escreve, mas não se lê”.
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O nome de Deus
Segundo o Talmud, o nome santo só era proferido pelo Sumo Sacerdote quando, uma vez ao
ano, entrava no Santo dos Santos no Dia da Expiação (Yom Kipur – cf. Lv 23,27s), ou pelos
demais sacerdotes que abençoassem o povo segundo Nm 6,23-27; mesmo nestes casos o
nome sagrado era pronunciado em voz muito baixa. Preferir-se-á ler ‘adonáy (lia-se “edonái”),
“o Senhor”, no lugar de YHWH – não tanto no texto escrito (ketîv), mas na pronúncia (qerê), ou
seja, quando se lia.
As consoantes YHWH exigiam as vogais a e e – provocando a leitura YAHWEH (Javé). Os
judeus costumavam pronunciar adonáy, de modo que os rabinos medievais realizaram a fusão
das consoantes de YHWH com as vogais de eDONAY (o Y é semiconsoante, e por isso não
entrou na composição final; a 1ª letra, representada por ‘ , é um álef, que não se lê), donde
resoltou JEHOVAH. A pronúncia é atestada por Raimundo Martini, autor da obra Pugio Fidei no
ano de 1270; parece, porém, que estava em uso nas escolas rabínicas anteriores (talvez já no
séc. VI d.C.). Por influência do calvinista Teodoro Beza de Genebra, os protestantes vão
adotá-la a partir do século XVI. Está bem longe de ser o nome pronunciado por Moisés![vii]
07. Conhecer e pronunciar o nome de Deus terá implicações importantes: 1Rs 8,60: “Assim,
todos os povos da terra reconhecerão que somente Iahweh é Deus e que não há outro além
dele”. A invocação do nome de Deus se encontra no âmago de toda oração e de todo ato de
culto, pois ela significa a relação de pertença ao Senhor e a súplica do seu favor (cf. Nm
6,22-27).
08. O Novo Testamento não utiliza o nome “Javé”. Mas Jesus veio para revelar o seu “nome” à
humanidade (cf. Jo 17,6.26). O NT fala de Deus geralmente com o auxílio da locução hó Theós
(Deus), que corresponde ao hebraico Elohim. Quanto a Kýrios (Senhor), designa ora Deus mas
também Jesus (cf. At 2,36). Foi Ele quem nos revelou o mistério de Deus como Pai (Abbà – Mc
14,36; Gl 4,6; Rm 8,15) e Espírito (Parákletos – Jo 14,16s), revelando-se igualmente como
Filho (ou Lógos, Verbo – Mt 11,27; Lc 22,70s; Jo 1), e por isso, em sua natureza humana,
recebe “o Nome que está acima de todo nome” (Flp 2,9s; cf. Mt 28,19; At 2,38)[viii]. No Antigo
Testamento se fala de Deus como “pai” (cf. Sl 103,13; Dt 8,5; Os 11; Is 63,15-64,11; Eclo
23,1-6; etc.), mas sem o destaque recebido no Novo Testamento (254 vezes). Em Jesus o
“nome de Deus” se completa: “Eu sou aquele que sou, agora, a partir de Jesus, significa: Eu
sou aquele que vos salva”[ix].
Concluindo: “Entre todas as palavras da revelação há uma, singular, que é a revelação do
nome de Deus. Deus confia seu nome àqueles que crêem nele; revela-se-lhes em seu mistério
pessoal. O dom do nome pertence à ordem da confiança e da intimidade. ‘O nome do Senhor é
santo.’ Eis por que o homem não pode abusar dele. Deve guardá-lo na memória num silêncio
de adoração amorosa” (Catecismo, 2143).
Pe. Jonas Eduardo, MIC – Curitiba, 19.02.2008 – jonaseduardo2002@yahoo.com
[i] Para conferir e aprofundar: Bettencourt, Estêvão, Curso sobre Deus Uno e Trino. Escola
“Mater Ecclesiae”, Lumen Christi, Rio de Janeiro, s/d, pp. 5ss; Catecismo da Igreja Católica,
15.08.1997, nn. 203-221; Imschoot, P. Van, “Deus”, in Van Den Born, A. (red.), Dicionário
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O nome de Deus
Enciclopédico da Bíblia, Vozes, Petrópolis, 1987, col. 379; id., “Jeová”, col. 759; Kasper,
Walter, The God of Jesus Christ, Crossroad, New York, 1992, pp. 138-140.241-243; Marangon,
A., “Il nome e i nomi del Dio della Bibbia”, in Nuovo Dizionario di Teologia Biblica, a cura di
Rossano-Ravasi-Girlanda, San Paolo, Cinisello Balsamo (MI), 1988, pp. 399-402; Patfoort, A.,
O mistério do Deus vivo, Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1983, pp. 35ss.; Vermeylen, Jacques,
“Nome”, in Lacoste, Jean-Yves, Dicionário crítico de teologia, Paulinas-Loyola, S. Paulo, 2004,
pp. 1261-1263; Zenger, Erich, O Deus da Bíblia, Ed. Paulinas, S. Paulo, 1989, pp. 99ss.
[ii] Cf. Ratzinger, Joseph, Introduzione al Cristianesimo, Queriniana, Brescia, 200312, pp. 94s.
[iii] A Bíblia de Jerusalém, S. Paulo, Paulus, 1995, nota a Gn 17,1, pág. 52.
[iv] Trata-se do “monoteísmo teorético”, presente de modo explícito e inequívoco a partir do II
Isaías (cf. Pastor, Félix Alejandro, La Lógica de lo Inefable, Ed. PUG, Roma, 1986, pp. 78.137).
[v] “O nome de Ihwh indica assim a orientação futura do agir de Deus que estará com o seu
povo” (Ladaria, Luis F., Il Dio vivo e vero. Il mistero della Trinità, Piemme, Casale Monferrato
(AL), 20022, p. 140). Naturalmente, com o passar do tempo Deus se revelará como a
existência em plenitude, o que lhe permite agir de um modo poderoso, como se pode
depreender já dos Sl 93,1-2; 90,1-2 (cf. Gomes, Cirilo Folch, Riquezas da mensagem cristã,
Lumen Christi, Rio de Janeiro, 19892, p. 108).
[vi] Isso explicaria, segundo alguns estudiosos, porque vários povos do Oriente antigo
conheciam uma divindade que tinha um nome bastante próximo: Ya(w) – Ebla, Yao – Biblos,
YW – Ugarit e Yau – Hamat. Parece que na raiz mais antiga se encontra hwh/hwy, que dará
em hebraico hayah, “ser”.
[vii] A própria seita “Testemunhas de Jeová” o reconhece em seu livro “Equipado para toda
obra” (pág. 25 da ed. alemã)!
[viii] Cf. Balthasar, Hans Urs Von, Verità di Dio. TeoLogica, vol. 2, Jaca Book, Milano, 20022,
pp. 109-111.
[ix] Ratzinger, Joseph, Il Dio di Gesù Cristo, Queriniana, Brescia, 20052, p. 20. 1Tm 1,1; 2,3;
4,10 falam de “Deus nosso Salvador”.
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