quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Cruz de Cristo, caminho para a Páscoa.


Nos últimos tempos, presenciamos terríveis tragédias que nos entristecem e nos interpelam profundamente. As tragédias no Japão, o massacre na escola do Realengo, no Rio de Janeiro e tantas outras nos colocam diante do sofrimento humano e da presença do mal no mundo. São fatos trágicos e muito dolorosos que saltam aos nossos olhos. Talvez gritem mais eloqüentemente que a pobreza indigna que, diuturnamente, nos cerca de olhos esgazeados e famintos. Estamos, infelizmente, acostumados com a pobreza que gera a violência cotidiana, vivemos como que anestesiados e só mesmo uma imensa “sacudida” como, por exemplo, este massacre de tantas crianças e jovens no Rio de Janeiro para fazer-nos despertar desta letargia.

O fato é que o sofrimento humano é sempre um mistério. Devemos interpretá-lo sempre dentro de uma perspectiva teológica. Por que existe o sofrimento? Passando ao largo de explicações longas que não cabem nesta mensagem, pode-se ter uma única certeza, o sofrimento é algo intrínseco ao ser humano, algo próprio da nossa humanidade. O que se tem a fazer é dar um sentido ao sofrimento, uma significação. Obviamente, não se trata de buscar o sofrimento pelo sofrimento nem muito menos de uma atitude masoquista, mas sim de colocar-se dentro de uma perspectiva muito mais forte apesar de, aparentemente, fraca: A perspectiva da Cruz de Cristo deve, pois, nos distanciar de uma idéia meramente sentimentalista do sofrimento e da dor. A Cruz há de ser compreendida não como um sofrimento que no próprio sofrimento se fecha e se esgota, mas sim como uma abertura à esperança, na espera e na certeza da Ressurreição que brota da árvore da fraqueza, da árvore do escândalo e da loucura que ilumina a nossa vida, nossa história, nossa realidade. Devemos ver no sofrimento, o lugar onde Deus se manifesta a nós. Na fraqueza da Cruz de Cristo, das nossas cruzes do dia-a-dia, Deus nos fala. Nesta grande e augusta Semana que se avizinha, a voz da Cruz ecoará nos nossos ouvidos, lembrando-nos que nenhum sofrimento é alheio ao Cristo, pois Ele assume tudo que é humano e carrega sobre si todo pecado, o bendito se faz maldição por nós. Os sofrimentos humanos são, para nós, prolongamentos do sofrimento de Cristo, da Cruz do Senhor. E é da Cruz do Senhor que brota a vida plena do Ressuscitado. A Cruz de Cristo é o verdadeiro caminho para a Páscoa.

Confiemos, então, que nenhum sofrimento é vazio de sentido, mas que cabe a nós, unir o nosso sofrimento ao do Cristo, para, em uma visão positiva e renovada, ressuscitarmos com Ele. Assim, diante das situações de sofrimento, não só as que são mais alardeadas pela media como as grandes tragédias, como também o sofrimento diário de cada um e o grande sofrimento da pobreza humilhante de muitos, possamos fazer ver, fazer perceber em nós, através da nossa palavra e da nossa ação, uma mensagem de esperança e uma ação concreta de amor em prol dos que sofrem. Uma ação de amor de nossa parte, a exemplo do amor que guiou o Amor até o esvaziamento total de si mesmo para nos doar o dom gratuito da salvação. Não recebamos esta incomensurável graça em vão, nos ensina o grande Apóstolo Paulo. Alegremo-nos em nossas dificuldades, provações e sofrimentos com a firme esperança na vitória da Vida.

Vivamos, pois, estes próximos dias, em uma perspectiva renovada, mergulhados nos Sagrados Mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, meditando e ressignificando todo sofrimento que passamos e passaremos em nossas vidas e, buscando agir, para fazer acontecer o ainda não da Páscoa no agora da vida de todos os que sofrem. Uma abençoada Semana Santa e uma Feliz Páscoa a todos parentes, amigos e conhecidos.

Seminarista João Dias Rezende Filho.

Arquidiocese de São Luís do Maranhão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário