sábado, 3 de julho de 2010

IGREJA DE CRISTO

O que dizer...
Da verdadeira Igreja de Cristo (e das igrejas protestantes)
Estamos numa época de ecumenismo, ou seja, de aproximação mútua dos discípulos de Cristo. Freqüentemente, no diálogo entre cristãos são silenciados os pontos controvertidos para se afirmarem tão somente aqueles em torno dos quais há convergência de mentalidades. Assim vão sendo superadas barreiras e aplaina-se a via que pode levar "um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,15).
Ë inegável, porém, que na América Latina, sem exclusão do Brasil, novas e novas denominações protestantes, animadas por espírito sectário e tendências fortemente proselitistas, vão arrebanhando fiéis católicos, Estes, incautos ou despreparados como são muitas vezes, julgam que, ao abandonar a Igreja Católica para fazer-se rnembros de alguma denominação protestante, estão sendo mais cristãos, mais fiéis a Jesus Cristo e à sua obra. Não raro o que impressiona um católico e o leva ao Protestantismo, é ou 1) a promessa de curas, ou 2) o testemunho da vida puritana dos "evangélicos” ou 3) a leitura da Bíblia que estes praticam. Tocado em seu coração pela pregação de um missionário protestante (sem, porém, raciocinar muito), o católico adere à comunidade que o convida sem ter noção de história do Cristianismo ou sem saber exatamente o que é ser católico e o que é ser protestante. Ele não chega a perguntar qual a origem da denominação protestante que o interpela e qual a vinculação da mesma com, Jesus Cristo.
Ora é de crer que, se os cristãos conhecessem melhor a história das denominações protestantes, não adeririam tão facilmente¬a elas ou as deixariam sem demora, porque perceberiam que são obras de homens que se opõe à intenção de Jesus Cristo; principalmente os católicos não se tornariam protestantes, pois, assim procedendo, abandonariam a única Igreja fundada por Jesus Cristo para aderir a comunidades fundadas por homens, quinze um mais séculos após Jesus. Será a mesma coisa seguir Jesus Cristo e seguir um “profeta” do século XVI ou XVIII?
Veja a tabela das datas de fundações da Igreja Católica e das igrejas protestantes:
DENOMINAÇÃO FUNDADOR DATA LOCAL
CATÓLICA JESUS CRISTO 30 PALESTINA
Luterana Martinho Lutero 1517 Alemanha
Episcopal (ou Anglicana) Henrique VIII 1534 Inglaterra
Reformada (Calvinista) João CaNino 1541 Genebra (Suíça)
Menonita Menno Simons 1550 Holanda
Presbiteriana John Knox 1567 Escócia
Congregacional Robert Browne 1580 Inglaterra
Batista Joseph Smyth 1604 Holanda
Quaker John Fox 1649 Estados Unidos
Metodista loba Wesley 1739 Inglaterra
Mórmon Joseph Smith 1830 Estados Unidos
Adventista Willian Miller 1831 Estados Unidos
Exército da Salvação Willian e Catarina Booth 1865 Inglaterra
Ciência Cristã Mary Baker 1875 Estados Unidos
Pentecostais Charles Parham e discípulos 1900 Estados Unidos
Testemunhas de Jeová Charles-Taze Russel 1916 Estados Unidos
Amigos do Homem Alexandre Freytag 1920 Suíça

1. A tabela, ainda que não seja exaustiva, mostra como as denominações protestantes que hoje em dia fazem adeptos no Brasil, estão distantes de Jesus Cristo na linha da história. Antes do século XVI não se falava de Confissão Luterana: antes do século XX não se falava de Assembléia de Deus, Comunidade "Nova Vida", "Igreja Socorrista", etc-. Não foi Jesus Cristo quem deu origem a tais organizações, mas foram pastores humanos, dos quais alguns disseram ter recebido revelações mais recentes do que as de Jesus Cristo; tal é o caso de Joseph Smith (Mórmons), Charles-Taze Russel e Ruther¬ford (Testemunhas de Jeová), Alexandre Freytag (Amigos do Homem)... Quanto mais recente é a denominação protestante, mais tende a trocar o Novo Testamento pelo Antigo, chamando Deus pelo nome de Jeová, negando a Divindade de Cristo e a SS. Trindade, observando o sábado em lugar do domingo, etc.

2. Na raiz de todo este esfacelamento do Cristianismo, que se perde cada vez mais em fantasias arbitrárias, está o princípio, estipulado por Lutero, segundo o qual a Bíblia deve ser interpretada por cada leitor em “livre exame”; o que quer dizer: cada qual tem o direito de contar com a iluminação do Espírito Santo e entender a Bíblia como bem lhe pareça; em conseqüência, tira as conclusões que julgue adequadas, sem orientação da Igreja. É compreensível que tal principio, coerentemente aplicado, tenha levado e leve o Protestantismo a se autodestruir cada vez mais, dividindo-se e subdividindo-se em comunidades, das quais as posteriores pretendem sempre reformar as anteriores e são reformadas pelas subseqüentes. Os membros de tais comunidades reformadas seguem tão somente o alvitre subjetivo e imaginoso de um ‘‘profeta”, e não mais a Palavra de Jesus Cristo como tal. Este fundou uma só Igreja, que Ele confiou a Pedro, dando-lhe a garantia de sua assistência infalível até a consumação dos séculos (cf. Mt 16,16-19; 28,18-20); fora desta única Igreja há sociedades humanas cristãs, que não podem ser ditas ‘‘Igreja de Cristo’’ a não ser na medida parcial em que compartilham elementos da única Igreja de Jesus Cristo (a leitura da Bíblia, o Batismo, o espírito de oração, .): São obras humanas (a prova de que são obras meramente humanas, é a contínua dissolução de tais grupos em subgrupos e subgrupos. . .; há quem enumere mais de 1.600 denominações cristãs somente na África).

Vê-se, pois, que o individualismo colocado na base da Reforma de Lutero é o fator de autodestruição da própria Reforma, pois favorece todas as tendências divergentes, levando às conclusões mais extremadas, O próprio Lutero se assustou ao perceber a confusão que seus princípios provocaram.

3. Em conseqüência, torna-se difícil dizer quais os pontos comuns a todas as denominações protestantes. Podem-se apontar o uso da Bíblia como única norma de fé e a crença em Deus uno, Criador e Juiz; a própria Divindade de Cristo é negada por não poucos protestantes; há também correntes reformadas que não admitem sacramento algum. Por isto deve-se dizer que as diferenças, dentro do Protestantismo, entre Testemunhas de Jeová e Batistas, entre Adventistas e Presbiterianos. . são maiores do que as diferenças entre luteranos e católicos.

De resto, o liberalismo apregoado pelo princípio do livre exame é geralmente atenuado ou mesmo supresso nas comunidades protestantes onde os pastores exercem forte liderança sobre os seus fiéis.

4. Talvez, porém, alguém objete: a Igreja fundada por Cristo não tem suas falhas e não necessita de purificação e renovação?

Ë certo que, onde existem seres humanos (e na Igreja eles existem), existe fragilidade; esta, sem dúvida, exige purificação. Todavia a purificação da Igreja há de se fazer sem ruptura com o passado, sem perda de contato com a linhagem apostólica e a fonte "Jesus Cristo". Qualquer quebra nessa linha é mortal, pois faz da nova comunidade uma obra mera¬mente humana, separada do seu manancial autêntico; a tal comunidade já não se aplica a Palavra de Cristo em Mt 2818-20: ‘Estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

A própria Igreja de Cristo, a Igreja Católica, sabe tirar do bojo da sua vitalidade o remédio aos males morais que acometem seus filhos; a Igreja é a Mãe solícita de curar as chagas que os seus filhos lhe infligem à revelia da própria Mãe. Na verdade, o católico que peca, peca porque se afasta dos ensinamentos e da vida da Igreja.

5. Aliás, a razão pela qual não se pode conceber Reforma da Igreja fundada por Cristo (mas apenas reformas em setores disciplinares da mesma), é o próprio conceito de Igreja. Esta não é uma República (como afirmavam reformadores do século XVI), nem é uma sociedade meramente humana, mas é o sacramento que continua o mistério da Encarnação; é Jesus Cristo prolongado em seu corpo através dos séculos — o que significa que, por debaixo da veste humana e defectível que os homens dão à Igreja, existe o próprio Cristo presente com sua autoridade e indefectibilidade; esta presença atuante de Cristo garante a todos quantos se chegam a Ele na Igreja, a santificação e a vida eterna; é Ele quem batiza, é Ele quem consagra o pão e o vinho, é Ele quem absolve os pecados. Consciente dessa presença indefectível de Cristo na Igreja, podia São Paulo dizer que ‘Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. . para apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa, sem manchas nem rugas ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). Com efeito, a Igreja é santa não por causa da oscilante santidade dos homens que a integram, mas por causa da presença do Santo de Deus ou de Cristo que nela se encontra. Por isso não toca a homem algum refazer a Igreja ou recomeçá-la, mas compete-lhe apenas zelar para que a face externa da Esposa de Cristo seja purificada das falhas que os homens lhe impõem.

Refletindo sobre estas verdades, os fiéis católicos hão de se recordar das palavras do Apóstolo São Paulo, que hoje parecem mais oportunas ainda do que nos tempos da Igreja nascente:
Rogo-vos, irmãos, que estejais alertas contra os que causam divisões e escândalos contrários à doutrina que aprendestes; afastai-vos deles” (Rm 16,17).
“Alcançaremos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo”.
“Assim não seremos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e da sua astúcia que nos induz em erro” (Ef 4,13s).

Texto integral do padre D. Estêvão T. Bettencourt – OSB (Ordem de São Bento)

E-mail destevao@osb.org.br
http://www.osb.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário