terça-feira, 17 de agosto de 2010

O chamado de Paulo - Ana Paula


O chamado de Paulo

Dentre as muitas histórias vocacionais que encontramos nos relatos bíblicos, um dos mais belos e radicais exemplos foi o chamado de Paulo.

Saulo, como era conhecido, era um judeu proveniente da região de Tarso, descendente da tribo de Benjamim e também cidadão romano por aquisição deste título, muito arraigado aos ensinamentos de sua religião, tinha um zelo especial pela Lei de Moisés, a qual observava com muito rigor e fora educado desde jovem pelos maiores doutores da Lei daquele tempo em Jerusalém.

Tudo isto fazia de Saulo um fariseu, que era um título concedido àqueles frequentadores do Templo que se distinguiam dos demais por praticar os ensinamentos mosaicos de forma estrita e formal, mas que acabavam por observar a Lei somente pelo ponto de vista mundano, esquecendo-se do verdadeiro significado que Deus desejava revelar quando inspirou Moisés a escrevê-la.

E, por tanto ansiar cumprir os ensinamentos judaicos somente pela força da Lei e não pelo Espírito de Deus, Saulo se tornou um dos maiores perseguidores dos cristãos daquele tempo, participando, inclusive, da morte por apedrejamento do primeiro mártir da Igreja, o diácono Estêvão, por volta do ano 36, e “... só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. ” (At 9,1), assim, solicitou ao príncipe dos sacerdotes autorização para ir à Damasco, a fim de perseguir e prender todos os seguidores de Cristo daquela região.

Porém, naquela estrada para Damasco, ele acabaria tendo o seu primeiro encontro real com o Senhor, ao ser cercado por aquela luz resplandecente descida dos céus, que o cegou momentaneamente para as coisas do mundo, a fim de fazê-lo ouvir sem distrações aquela voz imperiosa que revelava o Filho de Deus, Jesus o chamou para sua verdadeira vocação, pois, por mais que já tentasse seguir a vontade do Senhor em sua vida, o fazia de maneira equivocada, porque não era por meio do judaísmo que Deus o havia eleito para servi-Lo, e somente através daquele chamado,  Saulo encontrou a real finalidade para a qual havia sido criado, a partir de então,  a fim de servir a Cristo de forma plena e sem máculas.

Assim, a vocação é a perfeita junção, em primeiro lugar, de Deus que chama livremente aqueles que Ele quer e, em segundo lugar, da livre resposta do homem a este chamado, por meio de um profundo e íntimo desejo que tudo supera para atender a esta voz que chama a cada um de forma particular pelo nome, a fim de realizar inteiramente a vontade do Senhor.

No caso de Saulo, Deus o chamou de modo tão forte e radical, que, após três dias de oração e jejum  e do choque inicial do primeiro encontro verdadeiro com o Ressuscitado que passou pela Cruz, ele viu-se curado de sua cegueira física e espiritual, caindo “umas como escamas de seus olhos”(At 9, 18), foi capaz de enxergar o sentido de sua vida e deixou tudo para servir a Cristo, inclusive mudando o próprio nome para Paulo, foi batizado, passou por um período de preparação e contemplação no deserto e então iniciou seu ministério de evangelização imediatamente, causando grande surpresa àqueles que o conheciam como o grande perseguidor dos Cristãos.

Testemunhou Cristo com sua própria vida, a qual havia conformado de tal modo à vida de Jesus, que dizia: “Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 19-20), tornou-se “apóstolo de Jesus Cristo por chamamento e vontade de Deus” (I Cor 1,1), de fato, transformou-se em instrumento  escolhido e levou o Nome de Deus diante de muitas nações, consumindo-se até o fim em seu anúncio missionário do Evangelho até os confins do mundo, quando, em Roma, entregou-se ao martírio e à morte em nome de seu amor apaixonado pelo Senhor, pelo qual ficou conhecido como apóstolo de “fogo”, tornando-se uma das colunas de sustentação da Igreja primitiva, ao lado de São Pedro, terminando seus dias dizendo: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé” (1Tm 4,7).  

São Paulo permanece até hoje como grande exemplo de resposta incondicional ao chamado de Deus, para que nós também possamos, inspirados nesta eleição arrebatadora, desconcertante e irresistível do Senhor, sermos seus imitadores, reconhecendo que, em comparação a este bem supremo, que é o conhecimento de Jesus Cristo, tudo mais perde a importância e que, diante deste chamado de Deus, nada mais nos resta, a não ser, cheios de gratidão e com o coração inflamado por este amor imensurável, acolher e vivenciar em nosso dia a dia esta maravilhosa vocação que Cristo nos chama a viver com parresia, coragem, renúncia e disposição, dizendo, por fim, com a alegria peculiar aos filhos amados de Deus: “Obrigada, Senhor, por me teres escolhido!”    

Por intercessão de São Paulo, que Deus te abençoe e Nossa Senhora te guarde.

Ana Paula

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