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sexta-feira, 6 de julho de 2012
série MATRIMÔNIO;Mitos acerca do Matrimônio – I
Mitos acerca do Matrimônio – I
15 de maio de 2012
Por Robson Oliveira
http://humanitatis.net/?p=2026
Um dos grandes desafios da pastoral do matrimônio é desmitificar a imagem que os jovens têm deste sacramento. Enquanto não se contemplar a vocação matrimonial sob a luz acertada, as verdadeiras virtudes e os reais perigos do enlace matrimonial continuarão na sombra, fazendo com que as alegrias desta vocação continuem ocultas para uns casais e as dificuldades ainda mais assustadoras para outros. Por isso, é preciso lembrar que esse sacramento precisa ser preparado, meditado, estudado. Alguns temas importantes já foram tratados neste site: as características fundamentais do matrimônio (unidade, fidelidade, abertura à vida, o bem dos esposos); o matrimônio como chamado de Deus à santidade na doação ao cônjuge e aos filhos; sobre a imoralidade de tornar inférteis atos sexuais que, naturalmente, são férteis; sobre o fim do ato sexual no matrimônio: a prole. Todas essas informações ajudam na formação dos jovens que se sentem chamados ao matrimônio. Contudo, a “prática pastoral” aponta para alguns mitos muito comuns entre os que namoram ou estão prestes a contrair uma relação estável e perene pelo matrimônio. Nesta série de reflexões tratar-se-á de esclarecer alguns aspectos importantes, os quais causam o fim de não poucos matrimônios absolutamente viáveis, se houvesse preparação adequada e conselhos de casais mais experimentados. O mito de hoje é o “Mito do Príncipe Encantado”.
Reprodução
O Beato João Paulo II, em sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, acentuou o caráter urgente de uma formação adequada aos que anelam o sacramento do matrimônio. Diz o saudoso Pontífice, com destaques do editor:
66. A preparação dos jovens para o matrimônio e para a vida familiar é necessária hoje mais do que nunca. Em alguns países são ainda as mesmas famílias que, segundo costumes antigos, se reservam transmitir aos jovens os valores que dizem respeito à vida matrimonial e familiar, mediante uma obra progressiva de educação ou iniciação. Mas as mudanças verificadas no seio de quase todas as sociedades modernas exigem que não só a família, mas também a sociedade e a Igreja se empenhem no esforço de preparar adequadamente os jovens para as responsabilidades do seu futuro.
Ora, para a recepção frutuosa e eficaz do sacramento do matrimônio, importa uma formação completa: preparar-se espiritualmente é fundamental, mas não se pode esquecer da preparação humana, bastante responsável por inúmeros desastres matrimoniais, pelo simples descaso sobre as condições de convivência entre os humanos. O maior dos mitos que espreita os que se sentem chamados a amar a Deus no matrimônio é o “Quando casar ele/ela melhora”. Ele/Ela pensa que todas as diversas dificuldades, dos inúmeros defeitos de caráter, dos vícios adquiridos e cultivados com cuidado durante todo o namoro e noivado desaparecerão como mágica, num estalar de dedos, com a bênção do assistente do matrimônio. Ele/Ela acredita piamente que seu namorado/a é um príncipe, mas ainda escondido sob a pele de um ogro ou sapo. Por isso, o mito também pode ser denominado “Mito do Shrek”. As pessoas advertem os que estão nessa situação apontando para os graves defeitos dos parceiros, mas os que estão envolvidos nessa situação respondem sempre com a mesma ladainha: Ah, quando a gente casar tudo vai ser diferente… A causa desta recorrente expectativa é uma mistura de otimismo besta, de um lado, e desconhecimento da natureza humana, de outro.
Reprodução: Dr. Jekyll and Mr. Hyde
A literatura universal já advertiu que em cada pessoa há um monstro a espreitar. O Médico e o Monstro é a expressão da dualidade em cada homem. No livro de Stenvenson, Dr. Jekyll revela o monstro que há em cada um através de uma poção que traz à tona o pior da natureza humana, o mais perigoso dos inimigos: me and myself. Criada para manifestar o mal em todos, a poção gradativamente torna o monstro independente, não necessitando bebê-la para pôr em risco as pessoas amadas por Jekyll. Em situações extremas, o doutor perde o controle e o monstro surge. Esta alegoria representa muito bem a dualidade existente em cada homem, capaz das maiores barbaridades e dos atos mais nobres. Ocorre que, a despeito do relato de Stevenson, o monstro que há nos homens não precisa de uma poção para dar o ar de sua graça.
Normalmente, o pior que há na humanidade não precisa de ajuda especial para manifestar-se. Não é necessária uma poção, uma bebida, um gatilho para que o mal que está no homem surja. Pelo contrário, é muitíssimo comum que durante os dias mais ensolarados, nos momentos mais agradáveis, nos lugares mais confortáveis, com as melhores companhias, uma contrariedade qualquer provoque uma multidão de paixões que transformará um promissor passeio no parque em uma discussão acalorada, um jantar em família em uma batalha de egos, um cinema agradável em uma tarde cinza. E tudo isso sem a poção do Dr. Jekyll…
Reprodução: sempre com raiva
Os que se preparam para servir a Deus e à Igreja na sua família precisam lembrar das palavras do Evangelho: “Para entrar no Reino é preciso nascer de novo” (Jo 3, 3). Não se trata tão somente do sacramento do Batismo, condição para ser enxertado na Verdadeira Videira e expressão externa da primeira conversão a Deus. Trata-se também da conversão cotidiana, da morte diária para o que é contrário a Vontade de Deus, sem a qual a primeira conversão do Batismo se transforma em um mero formalismo, se reduz a um rito vazio, momento ontológica e historicamente determinado, mas sem consequências duradouras na vida dos indivíduos. É preciso morrer para nascer de novo. Os que se acham no caminho da vocação matrimonial precisam morrer muitas vezes ao dia para continuarem vivos para seu cônjuge, para seus filhos, para sua família, para Deus enfim. É necessário sacrificar cada momento o monstro que há em cada um para que o matrimônio cristão seja o que deve ser: o encontro de duas pessoas consigo mesmas e com Deus.
Os que almejam a vida matrimonial têm que ver no namorado/a tanto amor ao companheiro/a quanto a Deus. Nesse campo, não se aceita menos que tudo. Claro que a perfeição moral nesta vida é impossível. No entanto, o período do namoro e do noivado deve dar provas aos comprometidos que é Deus o mais importante da relação. Se um casal choraria amargamente a traição de uma das partes, deve chorar com tanta ou maior amargura a traição a Deus, que é o pecado. Então, se em seu relacionamento o namorado ou namorada se parece mais com um sapo ou uma rã do que com um príncipe ou uma princesa, não dispense o animal na lagoa ainda… Mas certifique-se que o anfíbio gosmento está se esforçando por tornar-se digno de realeza antes do beijo no altar. Caso o beijo do altar já tenha ocorrido e o sapo não tenha se transmutado em príncipe, nada de desespero. Há esperança. Mas certamente este matrimônio será mais parecido com o amor de Cristo a sua Igreja: até a Cruz.
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