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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Intensificam-se os ataques contra a família

Intensificam-se os ataques contra a família

Poucos dias após o Supremo Tribunal Federal ter usurpado as funções do Congresso Nacional, equiparando direitos civis aos homossexuais, vimos Brasília ser palco de dois atos que intensificam ainda mais os ataques contra a família, num processo de explícita determinação do governo federal em avançar no desmonte da estrutura natural da família, tendo em vista atingir todos os objetivos do Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH3).

No dia 17 de maio, em frente a Biblioteca Nacional, ocorreu a chamada “vigília ecumênica” contra a homofobia, promovida por grupos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) com velas acesas na Esplanada dos Ministérios e a exibição de um beijaço público de casais homossexuais na Universidade de Brasília, por ocasião da abertura do 8º Seminário LGBT, com patrocínio de verbas públicas.

As velas acesas lembravam Baudelaire, que “dera expressão lírica à transgressão em boa parte das Flores do Mal” (1), como no último verso de “L’irrémédiable”: “tête-à-tête sombre et limpide/ qu’un coeur devenu son miroir / un phare ironique, infernal, / Flambeau des grâces sataniques / Soulagement et gloire uniques, – La conscience dans le Mal!” [conversa a dois, clara e sombria / espelho que a alma em si procura! / farol irônico, infernal / Archote aceso das graças satánicas / Consolo e glória singulares / A consciência enterrada no Mal!] (2).

O mal que vai se agigantando
As imagens exibidas pela UOL do beijaço na Universidade de Brasília mostram as expressões de quem são hoje vítimas de uma instrumentalização de poder, que não se dão conta de que estão sendo usados para avançar ainda mais numa transgressão da “própria condição biológica do ser humano, e não aceita a natureza da identidade sexual, daí o afã de romper o que chamam de estereótipos, no direito de se libertar da própria identidade (3).

Com isso, vamos assistindo, de forma célere, “o mal que vai se agigantando, agindo de forma cada vez mais intensa contra a sacralidade da vida humana, a dignidade da pessoa, a família e, principalmente, os mais caros valores da civilização cristã em nosso País” (4).

Enquanto isso, a presidente Dilma Roussef, dois dias depois, recebeu a rainha Sílvia, da Suécia, para reforçar a campanha pela “lei da palmada”, que teve Xuxa Meneghel, a apresentadora de tevê, como garota-propaganda do governo, em evento na Câmara dos Deputados, acompanhada pela Secretária Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. A senadora Marta Suplicy (PT-SP), que desarquivou o PLC 122, com apoio entusiástico do presidente da Casa, José Sarney, será a relatora do projeto que proíbe a palmada em crianças, cerceando ainda mais a autoridade dos pais no processo educativo dos filhos, como já acontece com os professores em sala de aula, que não podem repreender, corrigir e punir os abusos dos estudantes que recusam o mínimo de disciplina.

Nesse contexto, pais e professores devem ser “caras bacanas”, e ponto final. Educação virou entretenimento. Fora disso, o Estado estimula os filhos em casa e os alunos na escola, à rebeldia, com amparo legal. Nesse sentido, direitos estão acima dos deveres, e a família perde a sua função social, para ser apenas um ajuntamento de indivíduos vulneráveis às pressões do hedonismo e do consumismo. E pais e professores terão de engolir isso, e darem conta sozinhos, dos desarranjos sócio-econômicos e psicológicos desta perversa situação. E amplia-se assim o número de desamparados, que não sabem a que instância recorrer, em meio às explosões de conflitos e violências e tantos outros danos por toda a parte, com as “mais diversas dificuldades existenciais e interpessoais, agravadas pela realidade de uma sociedade complexa, onde frequentemente as pessoas, os casais, as famílias são deixadas sozinhas a braços com os seus problemas” (5).

A Suécia, por exemplo, conforme expõe Jonas Himmelstrand “está cheia de problemas de saúde ligados ao estresse em adultos, saúde psicológica cada vez menor e medíocres resultados escolares entre os jovens, elevado número de pessoas em licença médica e falta de capacidade de os pais se conectarem com seus filhos, ‘tudo indicando deterioração’.” É esta a utopia social anárquica que a “rainha dos baixinhos” quer ajudar o governo brasileiro implantar em nosso País?

Camille Paglia e a apologia a Sade: Ideologia do maligno
Ainda no mesmo dia em que Xuxa esteve no Câmara dos Deputados, a intelectual Camille Paglia, em São Paulo, em palestra no teatro do Sesc Vila Mariana, no 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, empolgou a platéia, que a aplaudiu de pé, depois de duas horas ininterruptas dizendo não acreditar em Deus, não ter “nenhum sentimento por Jesus” e concluir afirmando ser admiradora de Sade e “grande estudante do sadomasoquismo como idéia”.

A palestra de Paglia diz muito do que está acontecendo, do pano de fundo ideológico deste processo realmente maligno, que pretende ser fulminante contra a família, no maior ataque (altamente sofisticado) sem precedentes na história, contra a primeira e principal instituição humana.

“Pertence à essência da tentação o seu aspecto moral: ela não nos convida diretamente para o mal, isso seria grosseiro” (6). Por isso, as ideologias do mal acenam com as delícias da epiderme, enquanto espolia a alma, tornando-a refém de simulacros, num caleidoscópio de ilusões, que a faz desviar-se num cipoal de enganos, até perder-se no redemoinho das piores aflições sisíficas. “O grande mal procede da falsa e mera visão subjetivista da felicidade, na qual ‘a plenitude do bem’ ficou substituída somente pelo ‘somatório dos prazeres’” (7).

O que está em jogo em toda esta questão, é a felicidade do ser humano, felicidade esta que está seriamente comprometida sem a sua base constitutiva, que é a família, suporte da pessoa humana, pois sabemos que “na raiz de qualquer violência contra o próximo, há uma cedência à lógica do maligno, isto é, daquele que ‘foi assassino desde o princípio’ (Evangelho de São João 8, 44)” (8).

O “projeto de felicidade” proposto pelo ministro do STF, Luiz Fux, ao equiparar direitos civis aos homossexuais, repete a tragédia adâmica (ao psiu da serpente), quando o primeiro casal voltou as costas para Deus, instigado pelo tentador. “A proibição não foi eficaz em relação à primeira árvore. O desterro é a solução lógica” (9). Estamos hoje portanto revivendo o drama doGênesis. “O tentador não é tão rude a ponto de nos propor diretamente a adoração ao diabo” (10), mas não podemos ignorar de que “a sociedade de massas e ainda as possibilidades que surgiram através do domínio técnico do mundo criaram também novas categorias do mal” (11). Nesse sentido, somente na estrutura natural da família que é possível “criar possibilidades sãs de sociabilidade” (12), para evitar que o ser humano viva “uma solidão radical”(13).

Anarquismo e niilismo fomentam o prazer titânico que se alimenta da dor alheia
Quando Paglia destaca sua admiração por Sade (que “exaltou as sociedades totalitárias em nome da liberdade frenética” (14) e também uma “liberdade herética” (15), entendemos então que as correntes culturais do anarquismo e do niilismo estão imperantes no panorama atual. “Os excessos pessoais de Sade voltavam-se primordialmente para a sodomia e a corrupção dos jovens”(16). A sua liberdade “não é a dos princípios, mas sim a dos instintos” (17), especialmente a do instinto sexual, “o cego impulso que exige a posse integral dos seres a troco mesmo de sua destruição” (18). Por isso, “o êxito de Sade nesta nossa época, explica-se devido a um sonho igualmente comum à sensibilidade contemporânea: a reivindicação da liberdade total e a desumanização operada a frio pela inteligência” (19), sabendo que “a reivindicação total da liberdade finda na escravidão da maioria” (20).

Para o marquês de Sade, “a virtude não pode triunfar” (21). Para ele, era “preciso matar o coração, essa ‘fraqueza do espírito’” (22). Sua voluptuosidade foi seguida por um prazer titânico e insaciável, que se alimentava até a exaustão, com a dor do outro. Nisso ele se comprazia: em ver o seu próximo destruído, em dores lancinantes. A primeira vez que suas obras foram permitidas ao público, ainda restrito, ficaram inseridas na coleção intitulada “Enfer”, da Biblioteca Nacional de Paris, em 1810. Geoffrey Gorer destacou “as conexões filosóficas e políticas entre as idéias do marquês e o nazismo”(23), de “um niilismo místico próximo ao culto de Dioniso, de Nietzsche” (24). Roger Shattuck diz que é difícil explicar a reabilitação de Sade: “Atribuo-a mais a um sinistro desejo de morte pós-nietzschiano, característico do século XX. Esse desejo de morte busca a libertação absoluta, sabendo que levará à destruição absoluta – física, moral e espiritual” (25). Jean Paulhan talvez melhor definiu o que representa as idéias de Sade, que tanto empolgam Camille Paglia: “Exigimos a felicidade; também exigimos que outros sejam menos felizes do que nós!” (26). E então fica a constatação: “Sade revelou o terrível segredo de que nosso supremo prazer somente pode ser atingido por meio da dor – sofrida por nós mesmos, mais comumente, dor infligida a outros” (27) pois “o máximo de prazer coincide com o máximo de destruição”(28), para “possuir aquilo que se mata” (29). A própria Simone de Beauvoir (pioneira do feminismo radical) reconhece em Sade “um egoísmo às raias da loucura” (30), em que “o coito e a crueldade são idênticos” (31). E Michel Foucault destaca o sadismo como “um imenso fato cultural” (32), corroborado por outros estudiosos como Crocke, de que tais idéias formam “um sistema filosófico tão escandalosamente desumano” (33).

Em Pessoas sexuais, Camille Paglia estabelece “o nexo entre prazer sexual e atos de tortura e assassinato” (34), em Sade. Carolyn J. Dean, em pesquisa sobre Sade, “liga a sexualidade não ao prazer, mas ao terror” (35) e “acolhe de bom grado essa associação do sexo com o egoísmo, a crueldade, o crime e o assassinato” (36). Por isso, a obsessão sexual do nosso tempo está correlata ao terror. Talvez isso explica que Thriller, de Michael Jackson seja a música de maior sucesso do século XX. E Jackson emblematiza a agudeza da crise de identidade e o desespero da pessoa humana perdida, porque seduzida pelas flores do mal, numa cultura de morte, com furor demoníaco (37).

E assim querem destruir a família, para aniquilar a pessoa humana. Tudo isso no contexto do “eclipse do valor da vida” (38), “caracterizada pela imposição de uma cultura anti-solidária, que em muitos casos se configura como verdadeira ‘cultura de morte’. É ativamente promovida por fortes correntes culturais, econômicas e políticas, portadoras de uma concepção eficientista da sociedade” (39). No conflito entre cultura da morte frente à cultura da vida “estão em causa as questões mais profundas a respeito do homem” (40), e é a partir da defesa da família e da inviolabilidade da vida humana, de modo integral, que começamos a vencer as ideologias do mal, salvaguardando o ser humano daquilo que quer destruí-lo. E em meio a tudo isso, certamente, “a fé cristã tem muito mais futuro do que as ideologias que a convidam a abolir a si mesma” (41).

Hermes Rodrigues Nery é coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e do Movimento Legislação e Vida da Diocese de Taubaté; e secretário-geral do Movimento Nacional pela Cidadania Brasil Sem Aborto.
Taubaté, São Paulo, 23 de maio de 2011.
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Notas:

1. Roger Shattuck, Conhecimento proibido, p. 238; Companhia das Letras, 1998.
2. As Flores do Mal, tradução de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, 1985.
3. Hermes Rodrigues Nery, artigo A ideologia inumana e totalitaria do PNDH3, 15 de marzo de 2010.
4. Hermes Rodrigues Nery, Carta ao povo catolico paulista.
5. Papa João Paulo II, Enciclica Evangelium Vitae, 11.
6. Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. 41, Ed. Planeta, 3ª reimpressão, 2007.
7. Karol Wojtila, Amor e Responsabilidade, p. 147, Edições Loyola, 1982.
8. Papa João Paulo II, Enciclica Evangelium Vitae, 11.
9. Roger Shattuck, Conhecimento Proibido, p. 61, Companhia das Letras, 1998.
10. Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. 51-52, Ed. Planeta, 3ª reimpressão, 2007.
11. Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio – Um Diálogo com Peter Seewald, p. 31, Ed. Imago, 1997.
12. Ibidem.
13. Ibidem.
14. Albert Camus, O Homem Revoltado, p. 71,Edição Livros do Brasil Lisboa, 1951.
15. Ibid. p. 63.
16. Roger Shattuck, Conhecimento Proibido, p. 233, Companhia das Letras, 1998.
17. Albert Camus, O Homem Revoltado, p. 60, Edição Livros do Brasil Lisboa, 1951.
18. Ibidem.
19. Ibid. p. 71.
20. Ibid. p. 65.
21. Roger Shattuck, Conhecimento Proibido, p. 231, Companhia das Letras, 1998.
22. Albert Camus, O Homem Revoltado, p. 66, Edição Livros do Brasil Lisboa, 1951.
23. Roger Shattuck, Conhecimento Proibido, p. 235, Companhia das Letras, 1998.
24. Ibid. p. 238.
25. Ibid. p. 236.
26. Ibid. p. 237.
27. Ibidem.
28. Albert Camus, O Homem Revoltado, p. 67, Edição Livros do Brasil Lisboa, 1951.
29. Ibidem.
30. Roger Shattuck, Conhecimento Proibido, p. 241, Companhia das Letras, 1998.
31. Ibidem.
32. Ibid. p. 243.
33. Ibid. p. 244.
34. Ibid. p. 247.
35. Ibid. p. 249.
36. Ibidem.
37. Hermes Nery Rodrigues, artigo Michael Jackson e a “cultura da morte” que se volta contra o ser humano, 28 de junho de 2009.
38. Papa João Paulo II, Enciclica Evangelium Vitae, 10.
39. Ibid. 12.
40. 10. Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. 105, Ed. Planeta, 3ª reimpressão, 2007.
41. Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio – Um Diálogo com Peter Seewald, p. 205, Ed. Imago, 1997

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