No livro “Eu, bispo exorcista”, o então diocesano de Isernia-Venafro, Itália, descreve suas experiências de exorcista e as surpreendentes conclusões a que foi levado durante uma década de prática do Exorcistado
(D. Andrea Gemma, “Io, vescovo esorcista” (“Eu, bispo exorcista”), Editora Mondadori, Milão, 2002, 208 pp. Todas as citações do post são extraídas desse livro. Não sabemos se o livro foi vertido ao português)
D. Andrea Gemma, hoje bispo emérito, escreveu o livro quando estava à testa da diocese de Isernia-Venafro, narrando suas experiêncas na prática do exorcismo.
Dom Andrea Gemma deixou a diocese a seu sucessor em 2007, quando atingiu o limite de idade fixado pelo Direito Canônico.
Na manhã de 29 de junho de 1992, o novo bispo de Isernia-Venafro, D. Andrea Gemma, saía da Basílica Vaticana, olhando pensativo para a Praça de São Pedro.
As palavras de São Mateus, ”as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16,18), ecoavam em seu espírito com um atrativo sobrenatural. E lhe inspiravam graves considerações:
1) a ação do demônio não só não diminuiu, mas multiplicou-se;
2) o demônio é consciente de que dispõe de pouco tempo;
3) Nosso Senhor Jesus Cristo deu à Igreja enorme poder contra Satanás;
4) para não ser derrotado, o demônio faz tudo para agir no silêncio;
5) chegou o momento de desmascarar a ação insidiosa de Lúcifer e enfrentá-lo de viseira erguida, com as armas de que a Igreja dispõe. (pp. 11-12).
Por que não se fala da necessidade de exorcismo?
Voltando à sua diocese, a 170 km de Roma, D. Andrea decidiu pôr em prática o mandato divino “expulsai os demônios” (Mc 16,17). Porque, explica ele, para o bispo, exorcizar “não é uma escolha, é obrigação” (p. 21).
E cita o Pe. Gabriele Amorth que foi durante muitos anos exorcista oficial da diocese de Roma: “Um bispo que não estabelece pelo menos um exorcista na sua diocese não está isento de pecado mortal por grave omissão” (p. 24).
O resultado foi surpreendente. O poder do inferno se lhe revelou em todo o seu horror e em toda a sua extensão.
“Quantas vezes — escreve o bispo —, nos meus colóquios cotidianos, freqüentemente difíceis, com os doentes de todo tipo, esta verdade se punha diante de mim: ‘Por que não nos falaram antes destas coisas? Por que não nos alertaram com uma adequada instrução? Por que não nos preservaram a nós, grei de Cristo, da devastação dos lobos famintos?” (p. 113).
“Se todos os bispos fossem como você, estaríamos completamente vencidos, e imediatamente” (p. 12), gritou-lhe um demônio por meio de uma mulher possessa, acrescentando em uma outra ocasião: “[mas] vocês são poucos” (p. 62).
Poder da promessa de Nossa Senhora em Fátima
Em 1992, o prelado publicou a pastoral As portas do inferno não prevalecerão. Nela, alertava:
“A ação infestante e obscura de Satanás [...] está, acreditai-me, mais difundida e é mais nefasta do que se possa pensar” (p. 15).
Na pastoral, D. Andrea convocou a diocese para “uma luta sem quartel, concertada e eficaz contra o mal e as suas artes” (p. 16).
O bispo promoveu orações públicas que congregavam multidões vindas de muito longe. O Maligno se externava visivelmente, e aqueles que sofriam alguma ação diabólica eram levados à sacristia para serem objeto de exorcismos específicos.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Continuação do post anterior
Continuamos com a recensão do livro "Eu, bispo exorcista" de Mons. Andrea Gemma.
Como observamos no primeiro post, D. Andrea Gemma, hoje bispo emérito, escreveu o livro quando estava à testa da diocese de Isernia-Venafro, narrando suas experiêncas na prática do exorcismo.
Dom Andrea Gemma deixou a diocese a seu sucessor em 2007, quando atingiu o limite de idade fixado pelo Direito Canônico.
A Igreja em crise não usa as suas armas
O bispo procurou inspiração nos textos do Vaticano II, e eis as suas conclusões:
“Ide e folheai todos os documentos do Concílio Vaticano II, [...] verificai se se fala, e quantas vezes, do demônio e das suas obras. Sabeis que naqueles dezesseis documentos, pensados e ponderados, não existe sequer a palavra inferno, nem a palavra ‘demônio’? Incrível, mas verdadeiro, basta ir verificar...” (p. 88).
Ele debruçou-se sobre os textos litúrgicos antigos e novos. E ficou estupefato:
“Sempre lamentei que na reforma da Missa se tenha tirado aquela oração a São Miguel [Exorcismo Breve], que Leão XIII, não sem inspiração do alto, quis que fosse recitada no fim de cada celebração. Muitas vezes o demônio, pela voz dos possessos, fez saber que gostou muitíssimo dessa abolição! [...] O que é que sugeriu e sugere evitar-se o mais possível, nos textos litúrgicos, a menção a Satanás, às suas nefastas intervenções, às conseqüências da sua ação destrutiva? Quem possa, que me responda. E com argumentos válidos, por favor. [...] Hoje a obra assassina do demônio é mais evidente do que nunca [...]. Então, não somente não era o caso de expurgar as fórmulas deprecatórias e imprecatórias, mas sim de multiplicá-las e reforçá-las. Porém, infelizmente não foi assim” (p. 27).
O ambiente laicizado hodierno: vitória do demônio
D. Andrea reparou que os históricos dos que padecem malefícios e o dos possessos eram muito parecidos. É imensa, diz ele, a quantidade de ocasiões que o contexto atual oferece às serpentes infernais para se apossarem das suas vítimas.
“A maior vitória do diabo consiste em convencer os homens de que ele não existe”. Esta verdade indiscutida levou o prelado à conclusão de que o ambiente moderno serve de luva ideal para as garras infeA todo momento, esse ambiente sugere que não há Deus nem demônio, nem Céu nem inferno. E os espíritos malignos atacam e invadem os corpos das suas vítimas de inúmeras formas.
Há cultos satânicos explícitos. Mas também implícitos, como certas técnicas de meditação e algumas terapias alternativas, superstições ou modas tipo Nova Era ou músicas tipo rock and roll.
Como é que a humanidade gerou esse ambiente enganosamente neutro e materialista, porém tão útil para os espíritos das trevas?
A Revolução gera ambiente propício à ação diabólica
D. Andrea dá uma elucidativa explicação histórica. Ela se aproxima muito da denúncia do processo revolucionário que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira formula na sua obra magistral Revolução e Contra-Revolução. Não descartamos que o culto bispo italiano tenha tirado dela alguma inspiração:
“A laicização da nossa sociedade é o fruto de um longo e complexo processo que durou cerca de cinco séculos, e que se desenvolveu em três etapas fundamentais, três revoluções no campo cultural e social, mas com lances também cruentos, que levaram à gradual transformação do mundo antigo, tradicional, para dar na sociedade atual, pós-moderna e secularizada”.
D. Andrea descreve essas sucessivas revoluções: primeiro a revolução protestante, que causou um grande desgarramento da sociedade cristã medieval; segundo o Iluminismo e a Revolução Francesa; terceiro a Revolução comunista marxista.
Por fim, acrescenta, uma quarta etapa ou Revolução: a do movimento estudantil dos anos 60, que contestou a família, generalizou o uso da droga, propugnou a libertação dos vínculos morais, e sobretudo revoltou-se contra toda autoridade. Esse processo gerou uma sociedade e uma cultura que tendencialmente seduzem os homens para a idéia de que Deus e a religião são coisas absurdas (pp. 113 ss).
Há os que se deixam levar por essa influência, ensina D. Andrea. Mas há também os que reagem de um modo exasperado e caem no exagero oposto: as novas e enganosas formas de religiosidade. Todas são fáceis presas de Lúcifer.
Armas para derrotar os demônios
D. Andrea exorta os fiéis a recorrerem às armas que vencem o demônio: a Fé, os Livros Sagrados, o jejum, os sacramentos. E, sobretudo, a oração por meio de Nossa Senhora, a “inimiga eterna de Entre as orações específicas, ele recomenda a renúncia formal a Satanás, como se faz na renovação das promessas do batismo, e o exorcismo breve:
“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém” (p. 17).
E recomenda também não se deixar seduzir pelo ambiente revolucionário hodierno nem pelas falsas novidades nas formas de religiosidade — inclusive no âmbito católico —, que tanto e tão bem servem de ocasião para os malefícios e possessões por parte do pai da mentira.
Com essas cautelas e armas espirituais, o católico resistirá e sairá vitorioso, confiando sempre na promessa divina: “As portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16,18).
O bispo não imaginava que sua pastoral daria a volta ao mundo, sendo traduzida em várias línguas. Cartas, imprensa, pessoas de toda Itália e até do exterior, apelando ao seu socorro porque sentiam alguma ação diabólica ou estavam possessas, lhe mostraram que muitos fiéis estavam esperando algo do gênero.
Nos exorcismos, D. Andrea pôde constatar o enorme poder de Nossa Senhora e da Igreja sobre as potências do abismo:
“Se quero ver o demônio realmente furioso, basta jogar-lhe água benta, pronunciando esta minha doce certeza: ‘por fim, o Coração materno de Maria triunfará’. ‘Sim!!!’, me responde, sempre rangendo os dentes. Mas algumas vezes acrescenta um desafio: ‘neste meio tempo, quantos levaremos conosco’...” (p. 63).
D. Andrea interrogou várias vezes os demônios possuidores:
— ”Vós, que vexais as vossas vítimas, tirais algum proveito ou alívio disso?
— Não, pelo contrário, nós sofremos um maior agravamento das nossas penas.
— E, então, por que o fazeis?
— Por ódio, por ódio, por ódio” (p. 61).