quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A aceitação do cânon amplo da LXX na Palestina do século I

Artigos sobre a Bíblia
Sagrada
A aceitação do
cânon amplo da LXX na Palestina do século I
Não é incomum ouvirmos o
seguinte argumento protestante: 
"A
Septuaginta e os livros 'apócrifos' nunca foram aceitos ou usados pelos judeus
na Judéia do primeiro século"



No entanto, partes da Septuaginta foram encontradas na Judéia, entre os
manuscritos do Mar Morto, sendo anteriores ao ano 70 d.C.. Alguns exemplares
foram encontrados na caverna 4 (119LXXLev.; 120papLXXLev.; 121 LXXNum.;
122LXXDeut.). Há também um texto não identificado da Septuaginta grega,
encontrado na caverna 9 (Q9).


Em acréscimo a esses fragmentos, existe um fragmento de papiro, escrito em
grego, encontrado na caverna 7 (LXXExod.). A caverna 7 produziu ainda muitos
pequenos fragmentos em grego (da Septuaginta), cujas identificações permanecem
em discussão ou sem classificação. O dr. Emanuel Tov sugere as seguintes
identificações para alguns destes fragmentos gregos do primeiro século antes de
Cristo:


7Q4. Números 14,23-24;

7Q5. Êxodo 36,10-11; Números 22,38;

7Q6. 1 Salmo 34,28; Provérbios 7,12-13;

7Q6. 2 Isaías 18,2

7Q8. Zacarias 8,8; Isaías 1,29-30; Salmo 18,14-15; Daniel 2,43; Eclesiastes
6,3.


No meio destas porções da Septuaginta, foram encontrados manuscritos parciais
contendo alguns termos dos livros "apócrifos": 
4Q478
[Tobias], 4Q383 e 7QLXXEpJer. [Epístola de Jeremias], para citar apenas alguns.



É importante notar que nas cavernas de Qumran (de onde provêm os
"manuscritos do Mar Morto"), foi encontrada uma cópia do livro do
"Eclesiástico" na língua hebraica [manuscrito 2QSir.], bem como um
fragmento de "A História de Suzana" (correspondente ao capítulo 13 do
livro de Daniel), também em hebraico [manuscrito 4Q551]. Já na caverna 4 de
Qumran, foram encontrados fragmentos do livro "apócrifo" de Tobias,
nas línguas aramaica [manuscrito 4Q196-9] e hebraica [manuscrito 4Q200]. 
Deve-se observar, também, que
as cavernas de Qumran não são o único lugar na Judéia em que se encontraram
livros "apócrifos". Outro exemplo é a cópia do livro do "Eclesiástico"
(ou "A Sabedoria do Filho de Sirá"), em hebraico, encontrada nas
ruínas de Massada. Este fragmento manuscrito data do início do século I a.C..


Alguns, porém, poderão argumentar que: 
"Os
ebionitas (ou seita de Qumran) eram um grupo estranho, que nunca veio a fazer
parte do ramo principal do judaísmo"



Mas se lermos o Novo Testamento, verificaremos que naquele tempo não existia
nenhum "ramo principal do judaísmo", como, ao contrário, existe hoje.
Nesse sentido, explica o pesquisador protestante dr. Martin Abegg: 
"Tanto no judaísmo moderno
quanto no cristianismo, uma 'seita' é, geralmente, um ramo de um tronco
religioso maior e é freqüentemente vista com excêntrica ou desviada nas suas
crenças. Mas os pesquisadores e leigos deveriam recordar que durante todo o
período de existência de Qumran, os fariseus e os saduceus eram 'seitas', assim
como eram os essênios! Foi apenas a partir do século II d.C. que passou a se
formar um tipo de judaísmo - aquele dos fariseus, dos rabis - que veio a se tornar
padrão para o povo judeu como um todo.


Tais matérias são de menor importância se comparadas com os manuscritos
bíblicos. Primeiro, porque todos os pesquisadores concordam que nenhum dos
textos bíblicos (tais como Gênese ou Isaías) foi composto em Qumran; ao
contrário, todos eles se originaram antes do período de Qumran. Também é aceito
que muitos ou a maioria desses manuscritos foram trazidos de fora para Qumran
e, depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos
manuscritos bíblicos enganam, não em estabelecer precisamente onde foram
escritos ou copiados, mas especificamente quanto ao estudo das formas textuais
que encerram" [The Dead Sea Scrolls Bible (=A Bíblia nos Manuscritos do
Mar Morto), (C) 1999, pg. XVI]
Encontramos um bom exemplo do
uso da Septuaginta (a qual contém os "apócrifos") entre os judeus da
Judéia quando lemos os capítulos 6 e 7 dos Atos dos Apóstolos. Aí lemos que
Santo Estêvão, cheio do Espírito Santo (At. 6,10), foi levado ao Sinédrio pela
multidão (At. 6,12); Estêvão, então, se dirigiu aos judeus e contou-lhes como
Jacó trouxe seus 75 descendentes para o Egito: 
Atos 7,14-15: "Então José
mandou buscar Jacó, seu pai, e toda sua parentela, em número de setenta e cinco
pessoas. Desceu Jacó para o Egito e aí morreu, ele e também nossos pais".


Mas os manuscritos hebraicos nos dizem que Jacó trouxe 70 descendentes para o
Egito (cf. Gên. 46,26-27; o texto hebraico também recorda "70" em
Deut. 10,22 e Ex. 1,5). Ora, o Sinédrio judaico e os sacerdotes bem sabiam que
Deut. 4,2; 12,32; Sal. 12,6-7 e Prov. 30,6 proíbem que se acrescente ou retire
algo da Palavra de Deus. Com efeito, por que o Sinédrio e os sacerdotes não se
escandalizaram com a afirmativa feita por Estêvão, de que Jacó trouxera 75
descendentes? Por que não o acusaram de "perverter a Escritura"?
Quando lemos esses versículos, notamos que os judeus pareciam nem mesmo piscar.
Em ponto algum desta passagem encontramos qualquer sugestão de que a raiva
nutrida pelos judeus contra Estêvão havia se originado de uma possível
"perversão das Escrituras". Ao contrário, eles mataram Estêvão porque
foram por este confrontados com a pessoa do Senhor Jesus - que era realmente o
Cristo, e, ao contrário de ser por eles recebido, foi assassinado do mesmo modo
que seus predecessores, os profetas (At. 7,51-53)!


A explicação para a discrepância numérica na história de Jacó narrada por
Estêvão é simples: ele está citando Gênese (46,26-27) a partir da versão grega
da Septuaginta, a qual possui cinco nomes a mais (total de 75 nomes) que o
texto massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam no texto hebraico foram
preservados na Septuaginta, em Gên. 46,20, onde Makir, filho de Manassés, e
Makir, filho de Galaad (=Gilead, no hebraico), são apontados, posteriormente,
como os dois filhos de Efraim, Taam (=Tahan)

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