domingo, 4 de setembro de 2011

A PRIMEIRA EXPULSÃO DOS JESUÍTAS DO MARANHÃO E PADRE ANTÔNIO VIEIRA


A PRIMEIRA EXPULSÃO DOS JESUÍTAS DO MARANHÃO E PADRE ANTÔNIO VIEIRA


Padre Antônio Vieira

Texto publicado na coluna "Você sabia?" do Jornal do Maranhão de setembro de 2011.


Em 8 de setembro de 1661, há 350 anos, os missionários jesuítas foram expulsos pela primeira vez do Maranhão, sendo embarcados para Lisboa. Em razão da defesa dos indígenas contra a escravidão que lhes impunham os colonos, os jesuítas foram deportados por ordem real. Nesta leva de homens de Deus, junto estava o ilustre orador sacro, Padre Antônio Vieira, a quem o poeta Fernando Pessoa cognominou de “O Imperador da Língua Portuguesa”. É Vieira que, chegando a Portugal, com o dom de seu notável discurso, consegue autorização da Coroa para o retorno da Companhia de Jesus ao Maranhão. Os jesuítas retornam exatamente um ano após, em 08 de setembro de 1662, mas sem Vieira, que não consegue o perdão real, apesar de sua oratória, retornando ao Brasil somente mais tarde, com quase 90 anos, permanecendo na Bahia até sua morte, em 18 de julho de 1697.

Nas festividades dos 400 anos de evangelização das terras maranhenses, é justo recordar Padre Antônio Vieira, que muito pregou e se bateu pela liberdade dos índios; entretanto, não se deve cair no maniqueísmo simplista de canonizar ou demonizar Vieira. É certo que defendeu os índios, mas não se posicionou contra a escravidão dos africanos, chegando a fazer apologia, em muitos de seus sermões, à escravidão daqueles a quem chamava de “os pretos da Ethyopia”, sendo a escravidão dos negros uma forma de catequizá-los e salvar suas almas contaminadas pelo mal que grassava em África. Sobre o assunto, explica-nos Lúcio de Azevedo em sua obra História de António Vieira: “[...] Nem ele [Vieira] podia condenar a escravidão. A isso o forçava a coerência, desde que sempre advogara se trouxessem escravos de África, para libertar os índios do obrigatório serviço. O Brasil tem o corpo na América e a alma na África, escrevera ele [...] Sem negros não haveria trabalho: era o argumento da necessidade. O de que por esse meio se salvavam tantas almas ignorantes de Deus escondia-lhe o horror do ato injusto.”


Seminarista João Dias Rezende Filho - Acadêmico do terceiro ano de Teologia da Arquidiocese de São Luís. E-mail: joaopecegueirodias@hotmail.com


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