sábado, 28 de agosto de 2010

Santificados na vontade de Deus




Santificados na vontade de Deus 
Aqueles que já chegaram à perfeição da santidade nos ensinam que o caminho é ´fazer a vontade de Deus´. Isto nos santifica porque nos conforma com Jesus, o modelo da santidade. É impressionante observar o zelo que Ele tinha em cumprir a vontade do Pai. A própria Encarnação foi a maneira que Jesus encontrou para, como Homem, fazer perfeitamente a vontade de Deus, que Adão não quis fazer. A Carta aos hebreus nos diz que Ele pediu ao Pai ´um corpo´ :

´Ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade´ (Hb 10,5´9).

E o escritor sagrado completa de maneira perfeita dizendo:

´Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Cristo´ (Hb 10,10).

Da mesma forma, cada um de nós, quanto mais e melhor cumprir a vontade de Deus, mais se santificará.

São João da Cruz, doutor da Igreja, disse: ´Mesmo que realizes muitas coisas, não progredirás na perfeição, se não aprenderes a negar a tua vontade e sujeitar´te, deixando a preocupação de ti próprio e das tuas coisas´.

A primeira coisa que temos de compreender, e aceitar na fé, é que a vontade de Deus nem sempre, ou quase sempre, não coincide com a nossa. E aí está o primeiro passo de santificação: a nossa humilhação própria diante de Deus, abdicando do que nós queremos, para fazer o que Deus quer. É o que São Paulo chamava de ´a obediência da fé´ (Rom 1,5), sem o que é ´impossível agradar a Deus´ (Hb 11,6), já que o ´justo vive pela fé´ (Hab 2,4; Rom 1,17).

Nada agrada mais a Deus do que trocarmos, consciente e livremente, a nossa vontade pela d\\\'Ele. Quando damos esse passo, na fé, Ele substitui a nossa miséria pelo seu poder infinito. Portanto, é preciso a cada dia, a cada passo, em cada acontecimento da vida, ir fazendo esse exercício contínuo de aceitar a vontade do Senhor, que sabe o que faz. São Bernardo disse: ´Se os homens fizessem guerra à vontade própria, ninguém se condenaria´. Este é o segredo para se abandonar aos desígnios de Deus: ele é Pai, ele nos ama, ele quer só o nosso bem, por mais adversas e incompreensíveis que sejam a situação que vivemos. Ele está no leme do barco da nossa vida. É preciso confiar!

Certa vez um garotinho ia viajando em um trem que estava vazio. Ao chegar à estação, o chefe desta achou estranho aquele menino viajando sozinho no trem, e o interpelou: ´Menino, o que você está fazendo aí sozinho neste trem ? Para onde você vai, neste trem? ´ Ao que o menino respondeu: ´Eu gosto muito de andar de trem, e estou viajando neste trem.´ Então o chefe da estação lhe ordenou que deixasse de imediato aquele trem e voltasse para a sua casa. Tranqüilo, e sem manifestar qualquer preocupação, o garoto lhe respondeu: ´Moço, o senhor pode ficar tranqüilo, o maquinista deste trem é o meu pai.´

Deus é o maquinista do trem da nossa vida, por isso não precisamos nos preocupar com a nossa sorte. A sua santa vontade é a melhor para a nossa vida, podemos ter certeza disso. Nunca duvidar desta verdade é sinal de muita fé e coerência cristã.

O profeta Isaías disse: ´Meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor, mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos´ (Is 55, 8´9).

A lógica de Deus é diferente da nossa porque Ele vê todas as coisas, perfeitamente, enquanto a nossa visão é míope e limitada. É como se olhássemos a vida como um belo tapete persa, só que pelo lado do avesso. Não podemos duvidar de que a vontade de Deus para nós ´é a melhor possível ´, mesmo que nos seja incompreensível no momento.

Santo Agostinho dizia que Deus ´permite o mal para evitar um mal ainda maior´. E Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, resumia tudo dizendo: ´Fazer o que Deus quer, e querer o que Deus faz´.

Ninguém chegará à santidade se não amar a vontade de Deus e se não glorificá´la. É o que levava São Paulo a ensinar:

´Em todas as circunstâncias dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus´ (1 Tes 5,18). O Apóstolo insistia muito nisso; dar graças a Deus em tudo é o que alegra ao Senhor sobremaneira, pois é o melhor testemunho de fé que lhe damos. Esta atitude consciente elimina a tristeza da nossa vida, arranca do nosso coração o mau humor, a impaciência, a grosseria com os outros, etc. É nessa perspectiva que S. Paulo dizia: ´Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dar graças..(1 Tess 5,16).

Não seremos felizes de verdade e não teremos paz duradoura, sustentada, enquanto não nos rendermos à santa e perfeita vontade de Deus. Ela nos traz a paz de Cristo, como o Apóstolo explica tão bem aos filipenses:

´Alegrai´vos sempre no Senhor! Repito: alegrai´vos!... O Senhor está próximo! Não vos inqueteis com nada; mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus´ (Fil. 4, 4´7).

O santo vive na paz e na perene alegria, embora caminhando sobre brasas muitas vezes. São João Bosco dizia que ´um santo triste é um triste santo´, e o seu discípulo, S. Domingos Sávio, dizia que a santidade consiste em ´cumprir bem o próprio dever e ser alegre´. Essa alegria, muitas vezes inexplicável para nós, é sustentada no abandono nas mãos de Deus, como a fé do salmista que exclamava:

´O Senhor é o meu pastor, nada me faltará´ (Sl 22,1).

´Se meu pai e minha mãe me abandonarem, Deus me acolherá´ (Sl 26,10).

São Paulo, que sabia dizer muitas coisas com poucas palavras, perguntava: ´Se Deus é por nós, quem será contra nós?´ (Rom 8,31). E o Apóstolo explicava a razão dessa esperança: ´Aquele que não poupou o seu próprio Filho (...) como não nos dará com Ele todas as coisas ´? (8,32).

´Tudo possa naquele que me fortalece´ (Fl 4,13).

É nessa mesma fé e esperança que o santo vive; a cada instante repetindo para si mesmo aquela palavra do Senhor:

´Não vos preocupeis por vossa vida ... Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? ... São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso´ (Mt 6,25´32).

Em seguida Jesus ensina o que é essencial:

´Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça´ (6,33), isto é, fazer a vontade de Deus. Nisto se resumia a vida de Jesus. Muitas vezes ele falou sobre isso aos discípulos: ´Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade dAquele que me enviou´ (Jo 6,38).

Ainda criança, aos 12 anos apenas, Ele já demonstrava o seu zelo em servir o Pai. Quando a Virgem Maria lhe perguntou, no Templo: ´Meu filho que nos fizestes?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura cheios de aflição´(Lc 2,48), Ele respondeu´lhes:

´Porque me procuráveis? Não sabeis que devo ocupar´me das coisas do meu Pai?´ Era o que importava para Jesus, ´as coisas do meu Pai´. Chegou ao ponto de perder´se dos pais terrenos por causa do Reino do Pai.

Quando na Samaria, na hora do almoço, na ocasião do encontro com a samaritana no poço de Jacó, os discípulos lhe disseram: ´Mestre, come´, Ele respondeu´lhes: ´Tenho um alimento para comer que vós não conheceis (...) Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra´ (Jo 4,31´34). Este há de ser também ´o alimento´ daquele que aspira a santidade, fazer a vontade do Pai.

Em outra ocasião Jesus disse aos discípulos: ´... Não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou´ (Jo 5,30). E mais: ´O mundo deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai me ordenou´ (Jo 14,31). E constantemente relembrava aos seus discípulos isso: ´Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos´ (Mc 10,45).

A total disponibilidade de si mesmo para cumprir perfeitamente o desejo do Pai, fazia´o esquecer´se completamente de Si. Àquele homem que quis segui´lo, Ele disse: ´As raposas têm as tocas, e as aves do céu, ninho; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça´ (Mt 8,20); isto é, não tem tempo para si mesmo, mas apenas para o Pai.

Quando lhe disseram que a sua mãe, os seus irmãos e irmãs o procuravam, Ele respondeu:

´Quem é minha mãe e meus irmãos? (...) Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe´ (Mc 3,35). Vê´se, com clareza, que tudo para Jesus se resumia em cumprir a vontade do Pai. Não foram poucos os exemplos que nos deixou sobre isso.

No Sermão da Montanha, Ele foi claro: ´Nem todo aquele que me diz ´Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus´ (Mt 7,21). E Jesus diz que a esses, mesmos que tenham profetizado em seu nome, expulsado demônios e feitos muitos milagres, mesmo assim Ele lhes diria: ´Apartai´vos de mim, operários maus´ (7,22´23); isto é, fazendo todas estas coisas santas, não levastes uma vida irrepreensível, não fizestes a vontade de Deus.

Sobretudo é na hora da sua sagrada Paixão que Jesus cumpre perfeitamente a vontade do Pai: ´Pai, se é de teu agrado, afasta de mim esse cálice ´! Não se faça todavia, a minha vontade, mas sim a tua! (Lc 22,42).

´Não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres´(Mt 26,39).

´Se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça´se a tua vontade!´ (Mt 26´42). E Jesus bebeu aquele cálice até a última gota, para cumprir perfeitamente a vontade do Pai e salvar cada um de nós. Do alto da cruz Ele pôde dizer ao Pai, antes de entregar´lhe o espírito: ´Consumatum est!´ (Jo 19,30). Tudo está consumado ! Cumpri Pai, perfeitamente a tua santa vontade. Só então, ´inclinou a cabeça e rendeu o espírito´.

Tudo pela Vontade do Pai!

Quando ensinou os discípulos a rezarem, entre os sete pedidos do Pai´Nosso colocou este: ´Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu´ (Mt 6,10). A vontade do Pai deve ser perfeitamente realizada na terra como é no céu. Quando isto acontecer, então o Reino dos céus estará na terra plenamente.

Com a sua vida e o seu exemplo o Senhor deixou claro o eixo principal da santificação: cumprir a vontade de Deus.

Os santos aprenderam essa lição muito bem, e a viveram. Santo Afonso de Ligório dizia que: ´Se estivermos unidos à vontade divina em todas as tribulações, é certo, vamos nos tornar santos e seremos os mais felizes do mundo´. E aconselhava: ´Não se preocupe em fazer muitas coisas, mas procura realizar perfeitamente aquilo que ache ser a vontade de Deus´.

E quando definia o que era a santidade, afirmava: ´A santidade consiste: primeiro, numa verdadeira renúncia de si mesmo; segundo, numa total mortificação das próprias paixões; terceiro, numa perfeita conformidade com a vontade de Deus!´. E não se cansava de ensinar aos seus filhos:

´As almas fortes e desejosas de pertencer só a Deus não lhe pedem senão luz para discernir a sua vontade e força para a cumprir perfeitamente´. Para o Santo doutor era certo que: ´Agrada mais a Deus a imolação que fazemos de nossa vontade, sujeitando´a à obediência, do que todos os outros sacrifícios que possamos lhe oferecer´.

Para cumprir bem a vontade de Deus é preciso duas coisas: primeiro, viver os seus mandamentos; segundo, aceitar os acontecimentos da vida, com fé e sadia resignação.

Na última Ceia Jesus disse a seus apóstolos: ´Se me amais, guardareis os meus mandamentos´ (Jo 14,15). Quem não luta para guardar os mandamentos de Deus, não ama a Deus e não pode chegar à santidade. Os mandamentos são exatamente o caminho da conduta moral que nos leva à perfeição querida por Deus. Infelizmente, em nossos dias, os homens querem fazer a própria moral e não mais viver a moral que Deus nos deu. Que loucura! Fazer a vontade de Deus é obedecer e fazer o que manda a Igreja, que Jesus deixou como nossa Mãe e Mestra nesta vida. Ele deixou claro para os seus Apóstolos: ´Quem vos ouve, a Mim ouve. Quem vos rejeita a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita aquele que Me enviou´ (Lc 10,16). Desobedecer a Igreja e os seus ensinamentos, é o mesmo que desobedecer a Jesus, e não cumprir a vontade de Deus.

São Francisco de Sales resume tudo quando diz: ´Não penseis já ter chegado à perfeição que deveis possuir enquanto vossa vontade não estiver completamente, mesmo nas coisas mais difíceis, submissa alegremente à vontade de Deus´. E ele ensina que o caminho mais seguro para se cumprir a vontade de Deus é a humilde obediência.

O que nos faz sofrer nesta vida é o apego à nossa vontade. Sofremos quando não conseguimos realizá´la. São Bernardo disse que: ´Quando se vê uma pessoa perturbada, a causa da preocupação não é outra coisa senão a incapacidade de realizar a própria vontade´.

Quem repousa na vontade de Deus é como aquele que repousa sobre as nuvens, está livre das tempestades e turbulências.

Certa vez o abade de um mosteiro quis saber de um monge de vida muito simples, sem grandes penitências, como ele operava tantos milagres, que deixava a todos surpresos. O santo monge respondeu: ´Sou o mais imperfeito dos meus irmãos e só procuro fazer uma coisa: conformar´me em tudo com a vontade de Deus´.

O segredo da santidade do monge estava em aceitar, com heroísmo, em tudo, a santa vontade de Deus.

 

Fonte: www.cleofas.com.br

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